Comunicação pública democratiza poder da mídia
As redes de televisão, a internet e os rádios são hoje mais poderosos do que os espaços de representação política. A opinião é do diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet. O jornalista cita o caso da Venezuela como exemplo
Publicado 13/02/2008 15:24 | Editado 04/03/2020 17:12
“Efetivamente hoje, a sociedade está submetida à pressão de dois poderes. O primeiro poder é o econômico e financeiro. O segundo poder é o poder midiático. O poder político é apenas o terceiro poder. Se vocês querem uma demonstração: O Presidente Chavez desprivatizou a companhia de telefonia do país. Não houve nenhum escândalo internacional. Decidiu que o Petróleo de Orinoco seria essencialmente nacionalizado. Não houve escândalo internacional. Quando houve escândalo mundial? Quando não renovou a licença de Rádio Caracas de Televisão”, afirma.
Para Ramonet, a solução é a construção de meios de comunicação alternativos e públicos para que a população possa fazer contrapeso ao poder privado dos grandes veículos de comunicação. Um viés que é intensamente debatido entre os defensores da democratização da comunicação e entre organizações sociais, como ocorreu no Fórum Social Mundial, do qual Ramonet é um dos idealizadores.
“Há que se desenvolver os meios públicos. Televisão pública. Uma rede de canais públicos de rádio. Todo o que é setor público deve fazer contrapeso ao setor privado. E na maioria dos países latino-americanos, o sistema midiático está dominado pelo setor privado”, afirma.
Na direção de uma maior pluralidade na comunicação brasileira, tramita no Congresso Nacional a medida provisória que cria a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), conhecida como TV Brasil, a emissora pública do país. A idéia é que 40% dos programas da emissora pública sejam independentes e 40% regionais. Com sede no Rio de Janeiro, a EBC vai ser vinculada à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. No entanto, a rede vai ter autonomia em relação ao governo federal para definir produção, programação e distribuição de conteúdos.
O professor da Universidade de Brasília (UnB), Venício de Lima, refuta a possibilidade do governo ter controle editorial sobre a emissora, um dos principais argumentos dos oposicionistas à TV pública. Ele lembra que as emissoras privadas sofrem a influência dos patrocinadores.
“Na iniciativa privada há o risco da interferência dos interesses privados, o que acontece o tempo. Eu acho que o medo desses riscos expressa uma defesa de interesses, que certamente não são os interesses gerais do público”, afirma