Nassif analisa os possíveis rumos da inflação no Brasil
A inflação sobe ou desce? Para o Ministro da Fazenda Guido Mantega, desce. Razão para o Banco Central não aumentar mais a taxa Selic. Para o Banco Central, sobe. Pelo sistema de metas inflacionarias, periodicamente o Copom (Comitê de Política Monetária
Publicado 14/02/2008 14:16
Se ocorre um choque imprevisto de preços, uma geada forte, uma seca, por exemplo, se se tentasse derrubar a inflação de uma vez, os juros teriam que ser aumentados muito fortemente. Daí essa margem, para permitir voltar para a meta anterior sem sacrificar demais a economia.
Especialistas em preços acham precipitada qualquer avaliação mais rigorosa sobre a inflação de 2008. É o caso da coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos.
Embora o IPCA tenha caído para 0,54% em janeiro (ante 0,74% verificado em dezembro), o IPCA acumulou alta de 4,56% em doze meses (contra 4,46% nos doze meses imediatamente anteriores), ficando pela primeira vez desde abril de 2006 acima da meta para inflação.
A análise do índice revela que o arrefecimento verificado em janeiro ficou centrado em alimentos (carnes e feijões) e combustíveis. No entanto, muitos produtos alimentícios continuam apresentando trajetória de alta, com destaque para os vinculados a commodities agrícolas.
Leve-se em conta que esse preços são influenciados pelas cotações internacionais – por isso mesmo, não reagem muito aos juros internos. A inflação do grupo de alimentos caiu de 2,06% em dezembro para 1,52% em janeiro. É uma boa queda, mas ainda está em alta. E representou metade do IPCA do período.
Mesmo os itens que lideraram o recuo de preços no período precisam ser monitorados de perto. No caso do feijão (32,00% em dezembro para 14,02% em janeiro), a recente quebra de safra na região Nordeste pode comprometer a oferta nos próximos meses, pressionando a inflação. Com relação às carnes (8,20% em dezembro para 0,29% em janeiro), a coordenadora do IBGE destaca que o embargo europeu ainda não foi sentido no mercado brasileiro.
No caso dos não-alimentícios, o destaque ficou por conta da desaceleração dos combustíveis, puxado pela queda dos preços do álcool (9,35% em dezembro para -1,12% em janeiro). O ponto interessante é que o recuo ocorreu mesmo com o período de entressafra da cana, sendo o movimento atribuído à desova de estoques no mercado.
Ora, todos esses aspectos mencionados não estão ligados à questão da maior ou menor demanda por parte do consumidor – quadro no qual os juros podem influenciar.
Para a MB Associados, o cenário de inflação em 2008 não deve ser muito diferente do verificado no ano passado, quando o IPCA acumulou alta de 4,46%. A consultoria espera que o índice se mantenha em 4,5%, fechando em cima da meta estabelecida pelo Banco Central (BC).
Segundo Sérgio Vale, economista da MB, a tendência para o acumulado no primeiro semestre deste ano é de alta, mas é bem provável que se observe uma redução do ritmo inflacionário a partir do segundo semestre.
A visão do UBS
O estrategista do UBS Wealth Management, Paulo Tenani, percebe que o quadro inflacionário em 2008 ficou um pouco mais preocupante que no passado, mas ainda não está do lado negativo. Para ele, o IPCA deve fechar o ano em 4%. “As pressões vindas da economia global começam a se materializar, mas isso não quer dizer que a inflação vai ficar fora da meta para o ano”, comenta Tenani.
Queda dos juros
Apesar da pressão inflacionária por alimentos, Tenani acredita que a tendência é de queda para a taxa de juros brasileira em 2008. Isto ocorre porque, em meio ao cenário internacional turbulento, o aumento do risco Brasil foi compensado pela redução dos juros globais. Com isso, a liquidez para o país deve permanecer elevada, o que levaria a uma redução dos juros ou à contínua valorização do câmbio.
Fonte: Blog do Nassif