Opositores e adeptos da transposição debatem no Senado
A polêmica sobre a transposição do Rio São Francisco movimentou a audiência pública promovida nesta quinta-feira (14) por quatro comissões do Senado. Participaram o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), um baiano recém-convertido à o
Publicado 14/02/2008 15:56
Geddel avaliou que o projeto de transposição do São Francisco “foi evoluindo” até se transformar em uma proposta merecedora de apoio. Argumentou que as pessoas têm o direito de mudar de idéia, depois de ouvir argumentos, e sustentou uma polêmica com o senador César Borges (PR), seu conterrâneo, que o acusou de ter mudado de posição sobre a transposição ao receber, no ano passado, o convite para o ministério.
Geddel e a lógica da geografia
Mesmo afirmando que tem o ministro como “pessoa séria e não leviana”, Borges disse que Geddel mudou de opinião “pelo Diário Oficial, quando foi nomeado ministro”. O ministro respondeu que não acreditava que o senador tenha mudado de partido “por Diário Oficial”, aludindo à recente passagem de Borges do PFL para o PR.
A controvérsia segue uma lógica fortemente influenciada pela geografia. Nos estados percorridos pelo rio (Bahia, Minas Gerais, Sergipe, Alagoas), prevalece a oposição; naqueles que receberão a água da transposição (Ceará, Rio Grande do Norte, Paraiba) o apoio é maciço; e Pernambuco, que participa das duas condições, tem uma postura intermediária. O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho, do PMDB do Rio Grande do Norte, participou do debate como defensor histórico da obra.
Bispo prevê que obra não será concluída
Dom Cappio sustentou que a transposição “não vai acontecer”, apesar da obra estar em andamento. “A transposição de águas no São Francisco não vai acontecer, pode escrever. Ela ofende todos os princípios éticos, econômicos, sociais e ambientais, não é possível que um absurdo dessa natureza possa durar tanto tempo”, disse.
“Se esse projeto tivesse como finalidade levar água para quem tem sede, como a propaganda enganosa que o governo faz afirma, mas acontece que a destinação das águas, o endereçamento das águas não é para a sede humana e animal, mas sim, o agronegócio e o hidronegócio. E isso somos contrários”, afirmou o bispo.
Chuvas “para baixo” e “para cima”
O ministro rebateu a afirmação do bispo de que as obras de revitalização do São Francisco estão paradas. Segundo ele, estão em curso obras de esgotamento sanitário, replantio de matas ciliares, recuperação de microbacias, entre outras. O ministro acrescentou que, ao contrário das afirmações dos críticos, o governo também está investindo na construção de cisternas e perfuração de poços artesianos “onde é possível”.
De acordo com Gedel, o projeto vai oferecer segurança hídrica ao semi-árido nordestino, ou seja, garantir que se tenha água. Ele argumentou que açudes não oferecem essa segurança porque apenas cerca de 20% da água acumulada são aproveitados, devido ao processo de evaporação característico da região. Ele citou a expressão citada por moradores da região de que no semiárido “chove mais para cima do que para baixo”.
Geddel disse ainda que o projeto, além de suprir o consumo humano e animal de água, também visa o desenvolvimento integrado da região. “Ninguém vive só bebendo água” Ele disse ainda que é evidente que a obra vai beneficiar empreiteiras, porque são elas que vão fazer as construções. Segundo ele, o que se tem que observar é se as empreitaras estão sendo beneficiadas da forma correta.
Para o ministro da Integração nacional, o governo enfrentará as críticas como representante legítimo dos brasileiros e brasileiras. O bispo, que falou antes, posicionara-se como representante de índios, quilombolas, brasileiros e brasileiras que se preocupam com a vida.
Ciro contesta “monopólio da boa-fé”
Ciro Gomes fez uma calorosa defesa do projeto de transposição, cobrando a atenção do bispo. “Olhe para mim, dom Cappio”, afirmou. Ciro afirmou ainda que não era possível “opor superioridade moral”. “Esse monopólio da boa-fé não pertence aos críticos do projeto”, objetou.
“Não é possível que vossa excelência [dom Cappio] se considere intérprete superior do valor morale ponha um modesto militante de 30 anos de vida pública, a partir de uma base nordestina, como alguém que esteja com interesses subalternos”, disse o deputado e ex-ministro.
Segundo Ciro Gomes, todos os projetos de integração de bacias no Brasil e no mundo geraram polêmica. Ele citou como exemplo a transposição de mais de 70% da vasão do Rio Piracicaba, em São Paulo, para abastecer a capital daquele estado.
“Ao beneficiar 12 milhões de pessoas, o projeto não prejudica um único brasileiro, qualquer que seja o ângulo em que ele se ponha a observá-lo”, afirmou Ciro Gomes.
Da redação, com agências