Seppir: Unegro critica mídia e aposta no diálogo com Edson
Para Dennis de Oliveira, professor de jornalismo da Universidade de São Paulo (USP) e membro da União dos Negros pela Igualdade (Unegro), a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), agora nas mãos do deputado Edson Santos
Publicado 21/02/2008 17:08
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Como o senhor avalia a atuação da ex- ministra Matilde Ribeiro a frente da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir)?
Dennis de Oliveira – Dentro das condições estruturais desfavoráveis, foi uma boa atuação. A ex-ministra esteve a frente da organização da 1ª Conappir [Conferência Nacional de Políticas da Promoção da Igualdade Racial] que conseguiu mobilizar o conjunto do movimento negro para um diálogo com as esferas governamentais no sentido de refletir e propor políticas públicas de combate ao racismo, conseguiu dar visibilidade as ações nesse sentido dentro do Poder Público Federal e batalhou para que a temática estivesse no centro da agenda política nacional. Os problemas que ela enfrentou decorrem muito mais das dificuldades estruturais da Seppir – que não possui orçamento próprio, está subordinada à Casa Civil, tem uma equipe técnica reduzida – e também da incompreensão da importância do combate ao racismo que ainda existe na sociedade brasileira e dentro do governo federal do que uma eventual falta de competência. A ex-ministra tem um histórico de militância no movimento negro organizado. Além disto, por ser uma mulher negra, simbolicamente representava o segmento social mais vitimado pelo racismo e machismo na sociedade brasileira, o que era positivo, pois aponta para a perspectiva da necessidade emponderamento de um segmento excluído historicamente. Penso que a campanha na mídia contra a ex-ministra foi fruto tanto de uma má vontade dos segmentos hegemônicos com a temática do combate ao racismo, como também por expressar sentimentos machistas e racistas contra uma mulher negra que “ousou” freqüentar hotéis e restaurantes cinco estrelas. Interessante que neste escândalo dos cartões corporativos, a mídia elegeu uma mulher negra, a ex-ministra Matilde Ribeiro e um homem negro, o ministro Orlando Silva, como alvos preferenciais. Será mera coincidência? Não creio.
O deputado Edson Santos assumiu a Seppir, nesta quarta. O que muda na pasta sob o novo comando?
Dennis — Acredito que o deputado Edson Santos, por ser um parlamentar, poderá ter um trânsito político mais fácil entre os órgãos do governo e no Legislativo, o que pode facilitar o encaminhamento de projetos da Seppir que ainda não foram implementados. O deputado, muito sabiamente, já declarou que sua gestão será uma continuidade da ex-ministra Matilde Ribeiro, assim a expectativa que tenho é que a sua gestão poderá ter mais facilidade nos encaminhamentos dos projetos da Secretaria.
A Seppir, criada na primeira gestão de Lula, tem como objetivo combater o racismo e a desigualdade racial. Quais são os principais avanços obtidos pela secretaria?
Dennis — O primeiro e o maior avanço foi dar visibilidade a temática do combate ao racismo e que os poderes públicos são responsáveis por esta tarefa. Depois, foi a preocupação da secretaria em criar canais de participação das entidades negras, via Conappir e conselho consultivo da Seppir. E, finalmente, os projetos, como a luta pela aprovação e atualmente pela implementação da Lei 10.639/03 que obriga o ensino de História da África e Cultura afro-brasileira no ensino básico, alterando a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a titulação das terras das comunidades remanescentes de quilombos e ações específicas na área de saúde, além de dar um impulso na implementação das ações afirmativas, em particular as políticas de cotas nas universidades.