Orelhões na Amazônia

 Grupo de parlamentares do Acre pode ser responsável por uma mudança histórica nos critérios que determinam a instalação de telefones públicos no país.

Deputados do Juruá denunciam Vivo à Anatel


Quatro parlamentares federais com base eleitoral no Vale do Juruá, capitaneados pela deputada Perpétua Almeida, formalizaram ontem, Junto à Agência Nacional de Telecomunicações, uma denúncia grave contra a Vivo, operadora de celular responsável por 90% das linhas pós e pré-pagos na região. O diretor-superintendente de Serviços Privados da Anatel, Jarbas José Valente, se disse surpreso com o conteúdo das reclamações, e determinou um prazo de 8 dias para a Vivo apresentar explicações. O grupo de deputados voltará à sede da Anatel, provavelmente na próxima quarta-feira. Será o momento de ouvir as justificativas que deverão ser apresentadas pelos diretores da Vivo, bem como as medidas que a agência vai adotar para solucionar o problema.


Em Cruzeiro do Sul, especialmente, a intermitência do sinal e a interrupção freqüente das chamadas indignam os usuários, provocando insatisfação generalizada na imprensa local. “Há mais de um mês, as panes são praticamente diárias”, informou Perpétua Almeida. “Como detentores de mandatos públicos, nós exigimos solução imediata, afinal de contas os usuários nunca são perdoados quando deixam de pagar suas contas”, concluiu a parlamentar.


O deputado Gladson Cameli disse ter sido informado que a Vivo estaria aperfeiçoando o sistema de telefonia móvel no Juruá, sob o argumento de inovação tecnológica. No entanto, segundo as normas da Anatel, o prazo para esse tipo de ajuste não pode ser maior que 30 dias. “Não se consegue falar ao celular com clareza há mais de seis meses”, criticou Cameli.


“Felizmente, a Anatel fez o encaminhou o que nós queríamos. Não tem como esperar mais”, frisou Ilderley Cordeiro. “ou a Vivo resolve a questão, ou sofrerá uma baixa sem precedentes em seu quadro de usuários naquela localidade”, finalizou Cordeiro.   


“Pelo que sabemos, em Cruzeiro do Sul há uma estação em pleno funcionamento e a tecnologia lá implantada é a melhor do mercado. Estas reclamações, partidas sobretudo por representantes do Congresso, é ruim para a operadora, que enfrenta constrangimento institucional e poderá perder, inevitavelmente, muitos assinantes”, afirmou Jarbas Valente.


Nove cidades contempladas


Confirmando a notícia dada pelos diretores da Brasil Telecom à deputada Perpétua Almeida, na última sexta-feira, o superintendente da Anatel disse que nove cidades do Acre ainda não contempladas com a telefonia móvel serão atendidas com o serviço no biênio 2008-2009. As respectivas operadoras também já estão definidas, de acordo com uma lista repassada pela Anatel aos deputados acreanos. São as seguintes: Capixaba, Jordão, Marechal Thaumaturgo, Porto Valter e Rodrigues Alves (que serão cobertos pela Brasil Telecom); Assis Brasil, Santa Rosa do Purus e Porto Acre (que terão cobertura da Vivo) e Epitaciolândia (atendido pela Tim).


 



 Perpétua Almeida, Gladson Cameli, Ilderley Cordeiro e Henrique Afonso assinarão um requerimento conjunto que chegará às mãos do presidente Lula, solicitando que as regras hoje adotadas pelo IBGE sejam revistas. Ou seja: a intenção é permitir que as comunidades com menos de 100 mil habitantes possam ser beneficiadas com telefones públicos, o que não acontece atualmente em povoados distantes, isolados, nas florestas do Acre e dos demais estados amazônicos.


A própria Anatel já produz uma minuta de decreto que poderá ser assinada pelo presidente da República com as novas mudanças. Hoje, os parâmetros definidos pelo IBGE indicam que os orelhões só devam ser instalados onde há arruamentos, escolas ou estabelecimentos semelhantes nas proximidades, com distância mínima de uma residência para a outra. “Isto é inconcebível. A comunicação via telefone salva vidas e serve para tantas outras finalidades”, disse Enrique Afonso. Marcela Sampaio, gerente-geral de Acompanhamento e Controle da Anatel, deu um depoimento que pode ajudar muito: “os rios da Amazônia poderão, sim, ser caracterizados como via de acesso, já que em suas margens residem milhares de famílias”.


“Queremos, na Amazônia, ser tratados com diferença, afinal de contas a Amazônia é diferente das demais regiões do Brasil”, disse Perpétua. O gabinete da deputada está colaborando com a minuta da portaria, identificando vilarejos habitados na floresta que, futuramente, poderão ser beneficiados com a telefonia pública fixa.


                      De Brasília Assem Neto