Em protesto ao mercado, artista esvazia galeria
Enquanto as galerias ainda calculam o lucro das vendas na Arco, feira de arte que acaba de terminar em Madri, o artista Iran do Espírito Santo abre neste sábado (23), na Fortes Vilaça, em São Paulo, uma exposição vazia, crítica ao mercado. A exemplo da pr
Publicado 23/02/2008 21:42
“Ocupar a galeria com esse vácuo é minha maneira de refletir sobre a produção de objetos para um mercado voraz. É como se tivesse embargado o espaço”, diz o artista.
Da mesma forma, Espírito Santo cobriu de cinza as paredes internas de um museu pela primeira vez em 1997, quando imitou do lado de dentro os tijolos da fachada da instituição em San Francisco. Um projeto parecido seria repetido anos depois no MAM-SP, na Bienal de Veneza e, por último, na mostra individual que fez na Estação Pinacoteca em 2007.
“O cinza é uma constante em meu trabalho. Acho interessante porque reduz tudo à luz, entre claro e escuro”, afirma, lembrando também a alusão que faz à fotografia em preto-e-branco. Na adolescência, Espírito Santo trabalhou em laboratórios fotográficos e nunca esqueceu as gradações de luz dos testes de revelação. Mas dessa vez o artista diz interpretar o espaço da galeria sem referências figurativas.
Enquanto o andar de baixo apresenta as faixas na vertical, o espaço no andar de cima recebeu faixas de tinta na horizontal, embaralhando os sentidos.
Espírito Santo dobrou o número de tons em relação à última mostra que fez, misturando, com a ajuda de assistentes no ateliê, tintas de parede branca e preta para chegar às 52 faixas que cobrem a galeria. “O seqüenciamento do cinza traz uma escala para o espaço, permite modular a galeria com uma luz ilusória”, afirma. O resultado é uma experiência “seca, iconoclasta e serena”.
Aval do mercado
Ao contrário do que aconteceu na Arco, colecionadores não poderão mandar embrulhar as obras para levar para casa e instituições que gostarem do trabalho terão de fazer um convite para que Espírito Santo faça um novo site-specific.
“O mercado dominou tudo. O que dava um aval para a arte antes eram as instituições. Hoje as galerias determinam o que vai para os museus. É algo promíscuo”, opina Espírito Santo.
Quanto à data de abertura, uma semana depois da Arco e meses antes do início do que foi alardeado como a Bienal do vazio, ele diz que foi apenas coincidência -a propósito, sete obras suas foram vendidas na Arco, a mais cara delas por US$ 60 mil, arrematada para uma coleção particular.
Iran Espírito Santo
Quando: abertura hoje, às 14h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 20/3
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, São Paulo; tel. 0/xx/11/3202-7066)
Quanto: entrada franca