Sem categoria

Entrevista: médico brasileiro fala sobre prisão no Líbano

O pediatra brasileiro Mohamad Kassen Omais, 45 anos, que ficou preso durante sete dias no Líbano e foi solto neste sábado (23), falou sobre o que viveu na prisão em entrevista à BBC Brasil. “Quando o juiz libanês comunicou que eu estava sendo lib

O médico havia sido acusado de ‘adulteração de seu passaporte libanês’ e estava sendo investigado por uma possível relação com atividades terroristas.


 


Omais foi preso no dia 15 de fevereiro quando desembarcava, juntamente com a mulher, no aeroporto de Beirute.


 


O casal foi ao Líbano para buscar os filhos, que estavam em férias com os pais de Omais desde dezembro do ano passado.


 


As autoridades libanesas acusavam o brasileiro de adulterar seu passaporte libanês, e as Forças de Segurança Internas (FSI) também investigavam sua relação com ‘terrorismo’.


 


Pressão


 


“Na prisão, embora não tenha sofrido agressões físicas, eu fui alvo de muita pressão emocional e psicológica.”


 


Omais contou que os oficiais o interrogavam em árabe, dificultando as respostas dadas por ele, uma vez que não domina totalmente o idioma.


 


“Por um momento eu achei que iria sucumbir, mas lembrava da minha família e logo ficava mais forte”, disse o médico.


 


O caso de Omais envolveu até o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, que conversou na quinta-feira, durante encontro em Buenos Aires, com o ministro de Justiça do Líbano, Charles Rizk, pedindo sua intervenção no caso.


 


“Agora tudo o que quero é voltar ao Brasil e esquecer tudo isto, continuar minha vida pessoal e profissional”, falou Omais.


 


Primo


 


O médico disse que foi informado pelas autoridades de que seu passaporte teria sido adulterado.


 


“Eu confirmei que o passaporte era meu e que reconhecia a pessoa na foto. Era um parente meu, o meu primo.”


 


Fontes das forças de segurança já haviam dito que o primo do médico trata-se do também brasileiro Zuheir Omais, que estaria sendo procurado pelas autoridades libanesas e residiria atualmente no Brasil.


 


O primo teria usado o passaporte do médico para viagens à Síria que, segundo policiais libaneses, estariam relacionadas com atividades terroristas.


 


“Eu usei meu passaporte libanês por duas vezes apenas, quando eu morei aqui no Líbano por um curto período e viajei à Síria”, disse Omais.


 


O brasileiro não soube explicar como seu passaporte, que foi deixado com os pais quando voltou a morar no Brasil, foi parar nas mãos do primo Zuheir Omais.


 


“Essa é uma pergunta que simplesmente não tenho uma resposta para dar, não sei como foi acontecer”, disse.


 


Imagem negativa


 


Omais confessou que sente um certo receio em relação a sua volta, neste dia 28, para Cuiabá (MT), onde reside.


 


“Da noite para o dia fiquei com uma imagem negativa. Tenho medo de como as pessoas vão me ver, como vão se referir a mim.”


 


“Por ter origem árabe, já estou marcado como terrorista, e acho que levará um tempo até superar esta imagem negativa que caiu sobre mim”, disse.


 


Segundo a mulher, durante os dias que seu marido estava preso os dois filhos mais velhos sabiam do que estava acontecendo.


 


“O mais velho sempre foi otimista com a libertação e inocência do pai, mas o outro ficou até doente, sentiu o efeito do episódio”, disse Gisele.


 


“Temos medo de como nossos filhos serão tratados no Brasil por causa de toda esta repercussão.”


 


Fonte: BBC Brasil