'Gato velox' ilegal espalha internet de banda larga no Rio
Parte do sinal que conecta moradores da região metropolitana do Rio à internet é clandestino. O chamado “gato velox” se espalhou pelo subúrbio da capital e municípios vizinhos e desafia polícia e provedores que oferecem o serviço. Por até R$ 30, moradores
Publicado 23/02/2008 16:23
“A infra-estrutura para conectar essas pessoas e a falta de interesse das empresas deixa muito a desejar. Isso mostra uma demanda não atendida”, afirmou Rodrigo Baggio, presidente do Comitê para a Democratização da Informática.
Há cerca de um ano na praça, os fraudadores têm sofisticado a transmissão de sinais de ponto a ponto. Abandonam aos poucos os metros de cabo que ligam o distribuidor ao cliente e passam a usar antenas, dificultando o trabalho da polícia. Algumas centrais clandestinas fornecem até ficha de inscrição e carteirinha para controlar o número e o perfil dos clientes.
“Qualquer jovem pode fazer isso. Os equipamentos se encontram facilmente na esquina e na internet. Eles acham que não estão cometendo crime, mas estão”, diz o delegado Rodolfo Waldeck, da Defesa dos Serviços Delegados.
Geralmente, o “gato” oferece uma conexão com velocidade baixa (em média, 50 kBps, quantidade de dados enviados ou recebidos por segundo), que permite apenas o acesso simples a páginas na internet pouco “pesadas” -sem muita informação digital. Downloads são praticamente inviáveis. Na maioria dos casos, o uso da internet limita-se à visita a sites de relacionamento, bate-papo, mensagens eletrônicas, pesquisa e para o uso de programas de mensagens instantâneas.
A polícia já realizou prisões por distribuição irregular de sinal. Em São Gonçalo, a 25 km do Rio, Bruno Rafael Paulino de Assumpção, 25, foi preso há um mês por montar e usar uma rede clandestina de distribuição de sinal de internet. Ele responde ao processo em liberdade. A estrutura da rede impressionou os agentes da Draco (Delegacia de Repressão às Ações de Crimes Organizados) e de funcionários da Velox, serviço oferecido pela Oi no Rio.
Bruno comprou um plano de 300 kBps da provedora no nome da mãe, Maria das Graças Paulino de Assumpção, 50, e o instalou na casa de uma amiga.
De lá, uma antena enviava o sinal para a residência da família, a cerca de 3 km de distância (onde a Velox não oferecia acesso), segundo a polícia. Na casa da família, o sinal era dividido por dez computadores, em uma lan house -outras duas casas também captavam a conexão por antena.
O uso de antenas dificulta a identificação do local onde há o ponto “legal” da rede clandestina. Em São Gonçalo, a Draco investiga se redes clandestinas fornecem conexão à internet para comerciantes e até para um shopping da região.
“A velocidade é um pouco melhor que a conexão discada, mas não tenho que ocupar uma linha telefônica e disputar o acesso”, afirmou o usuário de uma rede ilegal em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, que não quis se identificar.
Algumas centrais, porém, oferecem serviço mais amplo e “personalizado”. Em Bangu (zona oeste), um dos “gatos” oferece três planos de R$ 30 (150 kBps), R$ 60 (300 kBps) e R$ 110 (600 kBps). A atividade, em alguns casos, é feita por milícias, como ocorre com o “gatonet” (TV a cabo clandestina).
Fonte: Folha de S.Paulo