Sinal dos Tempos
Regina Abrahão
Aquela rainha do lar, prestadora de serviços de cama, mesa, reprodução e prazer (do homem), aquela que deveria sempre calar, não ver, perdoar, mas que por nada, nunca, poderia errar. Onde está?
Publicado 28/02/2008 23:32 | Editado 04/03/2020 17:12
Que deveria ser casta, posto que da natureza masculina era insistir, e da virtude feminina, negar. Que devia ser meiga, pois que seu único instinto era o de mãe, e, portanto, com olhos de mãe também deveria ver seu homem. Necessariamente econômica, sem jamais perguntar sobre finanças ou reclamar valores; prendada, recatada, incansável nos cuidados da casa e prole. Dela se esperava discreta beleza, mas sem muitos adornos, e abnegação inquestionável.
De repente, sem mais explicações, o diabo se solta no mundo. As cabeças começam a virar. A rainha do lar levanta a barra da saia, veste calças e vai à luta. Para completar, aparecem poções mágicas que impedem a contracepção, e assim sua castidade e sua virtude parecem cada vez menos necessárias à garantia de seu futuro. Algumas invadem as universidades; outras, aboletam-se nos postos de trabalho antes sagrados aos homens. Outras, mais audaciosas ainda, vão às praças, exigem votar e serem votadas. Mais tarde, nas mesmas praças, queimam sutiãs, e proclamam, sem cerimônias, “Meu corpo me pertence!” Algumas, até mesmo do sagrado dever da maternidade abriram mão!
Deixaram de lado a etiqueta, os enxovais finamente trabalhados, as boas maneiras. Não se importam em aparecer cansadas, suadas, em trabalhar horas e horas e depois ainda se reúnem, dão risadas em alto tom, sem preocupação com o recato e a modéstia.
Crianças começam a crescer em creches, e elas agora querem salários iguais para tarefas iguais! Mais, aspiram a postos de chefia, clamam por igualdades! Ah, nem mesmo a dupla jornada, os crimes que ainda acontecem, em defesa da honra, as varizes de tanto carregar peso, nem mesmo o cansaço de ser pai e mãe, chefe de família, trabalhadora, cidadã, nada assusta.
Nem o medo de polícia, governo e homem, nem mesmo a ameaça da solidão, nada barra estas mulheres! Desde que sentiram o gostinho da tal liberdade, nunca mais quiseram voltar para seu lugar. Algumas existem que, por posses e meios, exploram as outras, mas de outra forma. É que são patroas, governantes, e que ainda tem um pouquinho da noção da ordem das coisas. Que o digam as Condolessas, as Margareths, as Yedas. Mas mesmo assim, mesmo estas, acabam servindo de exemplo para esta onda de liberalidades que se instaurou.
E o homem? Alguns reagem, mas outros acabam concordando e aceitando a situação. Elas são espertas, dizem que o problema não é de divisão entre os sexos, querem “união” com os homens, para poder disputar o quê? O tal mundo melhor! Falsas! Imaginem, como se fosse possível alguma situação ser melhor do que cada coisa em seu lugar, o homem, que foi feito para mandar, mandando, e a mulher, frágil e dependente, sendo orientada e assistida por seu senhor.
E ainda, quando questionadas se não tinham medo do mundo que teriam que enfrentar, respondem, atrevidas: À mulher, nunca ninguém disse que seria fácil sua emancipação.
(Memórias de um Senhor de Bem, inconformado com estas Mulheres Abusadas).
Regina Abrahão