Sinal dos Tempos

Regina Abrahão
Aquela rainha do lar, prestadora de serviços de cama, mesa, reprodução e prazer (do homem), aquela que deveria sempre calar, não ver, perdoar, mas que por nada, nunca, poderia errar. Onde está?

Que deveria ser casta, posto que da natureza masculina era insistir, e da virtude feminina, negar. Que devia ser meiga, pois que seu único instinto era o de mãe, e,  portanto, com olhos de mãe também deveria ver seu homem. Necessariamente econômica, sem jamais perguntar sobre finanças ou reclamar valores; prendada, recatada, incansável nos cuidados da casa e prole. Dela se esperava discreta beleza, mas sem muitos adornos, e abnegação inquestionável.


 



De repente, sem mais explicações, o diabo se solta no mundo. As cabeças começam a virar. A rainha do lar levanta a barra da saia, veste calças e vai à luta. Para completar, aparecem poções mágicas que impedem a contracepção, e assim sua castidade e sua virtude parecem cada vez menos necessárias à garantia de seu futuro. Algumas invadem as universidades; outras, aboletam-se nos postos de trabalho antes sagrados aos homens. Outras, mais audaciosas ainda, vão às praças, exigem votar e serem votadas. Mais tarde, nas mesmas praças, queimam sutiãs, e proclamam, sem cerimônias, “Meu corpo me pertence!” Algumas, até mesmo do sagrado dever da maternidade abriram mão!


 



Deixaram de lado a etiqueta, os enxovais finamente trabalhados, as boas maneiras. Não se importam em aparecer cansadas, suadas, em trabalhar horas e horas e depois ainda se reúnem, dão risadas em alto tom, sem preocupação com o recato e a modéstia.


 



Crianças começam a crescer em creches, e elas agora querem salários iguais para tarefas iguais! Mais, aspiram a postos de chefia, clamam por igualdades! Ah, nem mesmo a dupla jornada, os crimes que ainda acontecem, em defesa da honra, as varizes de tanto carregar peso, nem mesmo o cansaço de ser pai e mãe, chefe de família, trabalhadora, cidadã, nada assusta.


 


Nem o medo de polícia, governo e homem, nem mesmo a ameaça da solidão, nada barra estas mulheres! Desde que sentiram o gostinho da tal liberdade, nunca mais quiseram voltar para seu lugar. Algumas existem que, por posses e meios, exploram as outras, mas de outra forma. É que são patroas, governantes, e que ainda tem um pouquinho da noção da ordem das coisas. Que o digam as Condolessas, as Margareths, as Yedas. Mas mesmo assim, mesmo estas, acabam servindo de exemplo para esta onda de liberalidades que se instaurou.


 



E o homem? Alguns reagem, mas outros acabam concordando e aceitando a situação. Elas são espertas, dizem que o problema não é de divisão entre os sexos, querem “união” com os homens, para poder disputar o quê? O tal mundo melhor! Falsas! Imaginem, como se fosse possível alguma situação ser melhor do que cada coisa em seu lugar, o homem, que foi feito para mandar, mandando, e a mulher, frágil e dependente, sendo orientada e assistida por seu senhor.


 



E ainda, quando questionadas se não tinham medo do mundo que teriam que enfrentar, respondem, atrevidas: À mulher, nunca ninguém disse que seria fácil sua emancipação.



(Memórias de um Senhor de Bem, inconformado com estas Mulheres Abusadas).


 


Regina Abrahão