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Disputas locais ameaçam aliança nacional entre DEM e PSDB

Juntos na oposição ao governo Lula em Brasília, DEM e PSDB devem seguir caminhos separados nas eleições de 2008, para prefeito, e de 2010, para presidente. O apoio entusiasmado da cúpula tucana à candidatura do deputado Fernando Gabeira a prefeito do Rio,

Identificado nas pesquisas de opinião como o partido mais à direita do espectro político, o PSDB aposta em Gabeira no Rio numa tentativa de firmar a imagem de centro-esquerda. Ao Democratas não resta outra opção a não ser tentar se constituir ele mesmo uma opção. Uma alternativa do centro para a direita e nesse espectro viabilizar uma candidatura presidencial, segundo diz seu presidente, Rodrigo Maia.


 


“A gente não sabe mais com quem está dormindo”, desabafou Rodrigo Maia. “Sabemos que o PT está do outro lado. Mas, às vezes, a gente dorme com o PSDB e acorda com o inimigo.”


 


Oficialmente, o DEM considera natural a decisão tucana. É a estratégia deles , disse Maia. Na prática, o aliado nas empreitadas vitoriosas de 1994 e 1998, com a eleição e reeleição de Fernando Henrique Cardoso, atravessam um período de forte turbulência nas relações. O DEM crê que o PSDB não perde oportunidade para lhe passar a rasteira.



“Ficou claro que o projeto do PSDB não é coletivo, mas de submissão. E a maioria dos nossos vai preferir outro caminho no futuro”, disse o presidente do DEM.



Que caminho é esse? “Hoje, há 70% de probabilidade de termos uma candidatura própria à presidência; 20% de apoiarmos um candidato do PSDB; e 10% de chances de fazermos uma composição com o Ciro”, afirmou Maia.



Problemas à vontade


 


O fim da coligação entre as duas siglas na eleição para prefeito de São Paulo, inevitável desde que o ex-governador Geraldo Alckmin exigiu ser candidato, foi o golpe mais duro na aliança.



Nesta semana, Alckmin e Kassab voltaram a conversar sobre as eleições. Apesar do ceticismo demonstrado pelo ex-governador quanto à viabilidade de uma aliança entre PSDB e DEM no primeiro turno em São Paulo, ele disse que os esforços nesse sentido continuam. Caso um acordo não seja possível, as duas legendas poderiam se unir no segundo turno. Mas não se sabe se o tom da disputa será amistoso ao ponto de viabilizar uma união no segundo turno.



A desavença em São Paulo, seguida agora da decisão do PSDB de apoiar Gabeira no Rio parece ser apenas aponta do iceberg que gelou a aliança direitista. O afastamento, na verdade, é bem maior: os dirigentes Democratas não são capazes de mencionar uma só prefeitura capital em que estejam juntos com o PSDB na eleição.



Na realidade, há dificuldades para a aliança até mesmo em cidades onde tudo indicava uma parceria. Esse é o caso, por exemplo, de Belém do Pará, onde a candidata do Democratas, Valéria Pires Franco, está bem situada nas pesquisas de opinião, bem próxima do atual prefeito. Mas o ex-governador tucano Simão Jatene, que aparece nas últimas posições, deve se lançar candidato. Mas o PSDB também contabiliza afrontas Democratas: é o caso do Rio Grande do Sul, onde o vice demista de Yeda Crusius, Paulo Afonso Feijó (DEM), faz oposição ao governo desde algumas semanas após a posse dos dois.



No final de fevereiro, ele voltou à carga. Em depoimento à Comissão de Serviços Públicos da Assembléia Legislativa, Feijó criou mais um constrangimento para a governadora ao voltar a fazer acusações contra a gestão do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul).



Entre uma série de frases que servirão de munição à oposição, Feijó disse que, diante do que sabe sobre irregularidades, terá de afastar o presidente do banco, Fernando Lemos, se assumir o governo em alguma ausência de Yeda, para não ser acusado de prevaricação.



A governadora Yeda Crusius não escondeu sua irritação pelos constrangimentos causados por um “aliado”. Num breve comentário sobre o depoimento, nem citou o nome do vice-governador. “Esse senhor age de forma irresponsável”, afirmou.



Cesar Maia x Serra



No blog que mantém na internet, o prefeito do Rio, César Maia, foi preciso no diagnóstico do que levou o PSDB a apoiar Gabeira, mas segundo tucanos errou ao atribuir a decisão a uma parcela do partido. Na verdade, todos os cardeais tucanos se manifestaram favoravelmente à aliança e estão empenhadas em convencer o deputado Otávio Leite a desistir da candidatura própria: Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves e o presidente do partido, Sérgio Guerra.



Maia atribui a aposta tucana ao PSDB de São Paulo, ligado ao governador José Serra, o mesmo que em 2002 teria levado ao fim da aliança entre PSDB e o então PFL: A rasteira dada no PFL em 2000 na composição da mesa da Câmara de Deputados foi o primeiro passo , diz o blog do prefeito na internet – refere-se à eleição de Aécio Neves para presidente da Câmara, apesar de um acordo vigente à época segundo a qual o PSDB tinha o presidente, e PMDB e PFL dividiriam as duas Casas do Congresso (Jader Baralho foi eleito para o Senado).



O segundo passo revelado por Maia revela a extensão da crise entre os antigos aliados: Foi o desmonte da candidatura do PFL a presidente em 2002, com uma operação da PF orquestrada pelo mesmo grupo . A sucessão de eventos culminou com a chapa PSDB (Serra)-PMDB para a Presidência, em 2002, na sucessão da dupla FHC-Marco Maciel.



Até agora César, que é amigo de José Serra, nunca acusara o grupo do governador de São Paulo pela operação da Polícia Federal que apreendeu R$ 1,3 milhão no escritório da atual senadora Roseana Sarney. Em seu livro de memória, o jurista Saulo Ramos, que foi ministro de José Sarney, diz que o dinheiro se destinava ao pagamento de despesas da pré-campanha presidencial de Roseana, que à época deslanchava nas pesquisas.



Da redação,
com agências