Veteranos de guerra denunciam crimes no Iraque
Soldados integrantes da associação americana Veteranos do Iraque Contra a Guerra denunciam em Washington os crimes cometidos contra o povo iraquiano em cinco anos de ocupação americana.
Publicado 29/03/2008 18:53
Centenas de veteranos da chamada guerra ao terrorismo promovida pela administração Bush participaram na audição do Winter Soldier 2008 realizada em Washington, D.C., de 13 a 16 de março, no National Labor College, um associado da AFL-CIO nos arredores de Washington.
A iniciativa de quatro dias, organizada pelos Veteranos do Iraque Contra a Guerra (IVAW, na sigla inglesa), foi a mais importante das centenas realizadas por todo o país durante a semana que assinalou o 5.º aniversário da invasão e ocupação americana do Iraque.
A maioria dos veteranos participou nas ocupações do Iraque e/ou do Afeganistão – muitos em múltiplas missões de mais de 15 meses cada. Alguns ainda se encontram na ativa. Nos seus relatos falam de espancamentos, prisões, torturas, humilhações e morte de civis pelas forças americanas. E explicam que isso não é apenas uma prática de um pequeno grupo de indivíduos perturbados, antes faz parte do padrão de operações militares, em particular contra as pessoas que de forma mais evidente manifestam a sua oposição à ocupação do seu país.
Muitos estão afetados com memórias traumáticas e remorsos por terem participado em tais atos. A audição foi conduzida no formato de painéis com testemunhas oculares. Para além dos oradores, mais de 100 outros veteranos prestaram depoimentos detalhados das suas experiências de tratamentos cruéis durante a ocupação do Iraque.
Falando no primeiro dia de audições no painel sobre Regras de Combate (RoE, em inglês), o veterano Adam Kokesh, que esteve durante um ano, a partir de Fevereiro de 2004, em Faluja, no Iraque, disse que os seus comandantes “mudavam o RoE mais vezes do que mudavam de camisa. A dada altura, impusemos o recolher obrigatório na cidade e disseram-nos para disparar contra tudo o que se movesse no escuro”.
Steve Casey, que passou um ano no Iraque a partir de meados de 2003, não muito depois da invasão dos EUA que era suposto “libertar” o povo iraquiano, disse: “Vi soldados dispararem contra radiadores e janelas de carros parados. Os que não voltassem para trás eram desgraçadamente neutralizados de uma forma ou de outra – testemunhei isto pessoalmente mais de 20 vezes”.
Jason Hurd esteve em serviço no centro de Bagdá durante um ano, a partir de novembro de 2004. Contou como reagiu a sua unidade após se ter extraviado num tiroteio: “Disparámos indiscriminadamente contra um edifício. Coisas como estas acontecem frequentemente no Iraque. Nós reagimos com medo pelas nossas vidas, e reagimos com a destruição total.”
Jason Wayne Lemieux, um marine, esteve por três vezes no Iraque. Contou como de cada vez as regras de combate haviam sido mudadas para encorajar a carnificina de civis. Da segunda vez, se uma pessoa “trouxesse uma pá, ou estivesse no telhado a falar ao telemóvel, ou estivesse na rua depois do recolher, devia ser morta… Na terceira vez, disseram-nos apenas que podíamos matar pessoas, e que os oficiais tomariam conta de nós.”
Um marine veterano, o artilheiro John Michael Turner, arrancou as suas medalhas da camisa e deitou-as para o chão ao testemunhar sobre o assassinato de pessoas que ele sabia serem inocentes. “Quero dizer que estou arrependido pelo ódio e destruição que eu e outros infligimos a pessoas inocentes.”
Sindicatos tomam posição
A maioria dos membros do IVAW vem das fileiras dos alistados e tem cerca de 30 anos. São tanto de zonas urbanas como rurais. Muitos estavam encaminhados para enveredar pela carreira militar, mas agora são resistentes de guerra.
A audição foi apoiada do ponto de vista logístico e de pessoal pelos Veteranos Pela Paz e pelos Veteranos do Vietnã Contra a Guerra, dois movimentos de uma geração anterior de dissidentes. Os seus testemunhos estão disponíveis em inglês no endereço ivaw (http://www.ivaw.org./).
Num desenvolvimento novo para os Estados Unidos, uma parte do movimento sindical planeja levar a cabo ações contra a guerra durante os protesto do 1.º de Maio. O International Longshore Workers (ILWU), um dos sindicatos mais ativos relativamente às questões políticas, apelou a uma paralisação do trabalho nos portos da Costa Ocidental, a 1.° de Maio, em protesto contra a guerra. “A direção discutiu esta importante iniciativa e eu informei os trabalhadores sobre os nossos planos de fazer paralisações ('stop work') no 1.º de Maio”, disse o presidente internacional da ILWU, Bob McEllrath.
Na Costa Oriental, o New York Metro Area, seção local do American Postal Workers Union, vai observar “dois minutos de silêncio às 1:00 AM, 9:00 AM e 5:00 PM” durante os três turnos de 1.° de Maio para mostrar a sua oposição à guerra e ocupação do Iraque e às ameaças de Bush de atacar o Irã e a Síria.
(*) Michael Kramer é membro da organização Veteranos Pela Paz – Seção 021 e fez parte do pessoal de apoio da audição Winter Soldier.