Classe C já tem mais de um quarto do poder de consumo
Com 86,2 milhões de pessoas, faixa de renda já é a maioria da população, com participação de 46% .
Publicado 30/03/2008 17:31
O potencial de consumo da classe C, que já é a maioria da população brasileira, somou R$ 365 bilhões em 2007. É um pouco mais de um quarto da capacidade total de compra de todas as famílias que moram nas cidades, que atingiu no ano passado R$ 1,4 trilhão.
“Nenhuma classe social isoladamente tem maior potencial de consumo do que a classe C”, afirma Marcos Pazzini, diretor da consultoria Target, que estimou o potencial de compra das camadas sociais. A capacidade de consumo da classe C, que no ano passado teve renda média mensal familiar de R$ 1.062, desponta em relação às demais quando se consideram as subdivisões das camadas A e B.
A projeção feita a partir das contas nacionais e da estrutura de gastos dos brasileiros medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que as classes B1 e B2 têm potencial de consumo de R$ 315,6 bilhões e R$ 286,9 bilhões, respectivamente. No caso da classe A1, a cifra atinge R$ 80,2 bilhões e da classe A2, R$ 260,8 bilhões.
A importância dessa imensa classe média que se está formando no País ganhou contornos mais nítidos na semana passada, quando a financeira Cetelem, do grupo francês BNP Paribas, divulgou uma radiografia da classe C. A pesquisa, feita pelo Instituto Ipsos a partir de 1.500 entrevistas, revela que a classe C reúne hoje 86,2 milhões de pessoas e é a maioria da população, com 46%.
Só no ano passado, quase 20 milhões de pessoas passaram a fazer parte desse estrato social. A maioria (60%) é egressa das camadas de menor renda, as classes D e E, aponta a pesquisa. Crescimento do emprego, facilidade de crédito, estabilidade dos preços e recursos de programas sociais foram o passaporte para a ascensão social dos mais pobres e a formação de uma grande classe média.
“As mudanças são impressionantes para eu que estou acostumado com os padrões europeus. Ocorreram muito rapidamente”, afirma o presidente da Cetelem no Brasil, Marc Campi, que mora há 15 meses no País. Ele observa que a formação de uma sociedade com uma grande classe média em um ambiente de estabilidade política é o que tem atraído os investidores internacionais.
Aspirações
A pesquisa mostra que a classe C tem várias aspirações de consumo que, em parte, já estão sendo realizadas. Entre elas, a compra de eletrodomésticos, celulares computador, entre outros itens, graças às facilidades do crédito, com prazos longos e juros cadentes. Mas o grande sonho de consumo dessa fatia da população é a casa própria.
A enquete mostra que 16% dos integrantes da classe C pretendem comprar uma casa este ano, um nível recorde. Em 2005, esse indicador estava em 10% e pulou para 14% em 2006. “Nunca a classe C quis adquirir tanto um imóvel como hoje”, diz o diretor de Marketing da financeira, Franck Vignard Rosez. Ele atribui esse acréscimo ao crédito facilitado.
A intenção de mudar de casa entre a população da classe C é hoje de 42%, mas o grande obstáculo é a falta de recursos para concretizar o plano. Quase 90% dos entrevistados não mudam de casa porque não têm dinheiro para comprar uma casa.
Atualmente o crédito imobiliário corresponde a 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Ter a casa própria aparece não só como um sonho de consumo, mas é uma prioridade da classe C. Essa camada dá à casa própria o mesmo peso de ter uma família, diz a pesquisa.
Na análise do consultor de varejo Marcos Gouvêa, o consumo dessa classe emergente não se limita mais a copiar os padrões dos estratos mais abastados da população. “Historicamente, a tendência das classes mais carentes era buscar inspiração no consumo das classes mais altas, aparentemente renegando a sua origem e os valores próprios.”
Mas, segundo o consultor, não é isso que ocorre hoje. Em razão do aumento da confiança e das garantias de emprego, a classe C recuperou a auto-estima. “Ela tem orgulho de dizer que compra nas Casas Bahia e valoriza as coisas locais.” A classe C tende agora a dar mais valor às marcas das lojas que permitiram a ela ter acesso ao crédito facilitado. “O primeiro cartão de crédito a classe C nunca esquece”, brinca o consultor. Já as camadas mais abastadas têm uma relação de fidelidade com as marcas dos produtos, não com as lojas.
Fonte: Estadão