La Jornada: Argentina vive desestabilização oligárquica
Desde há duas semanas a Argentina encontra-se acossada por uma revolta da direita, que capitalizou o descontentamento dos produtores agrícolas diante do aumento nos impostos às exportações de soja e girassol. Os agricultores bloquearam auto-estradas po
Publicado 30/03/2008 17:05
Para por as coisas em perspectiva, é importante recordar que o grosso da produção agrícola argentina não está nas mãos de camponeses pobres e sim de empresários agro-exportadores e de médios e pequenos proprietários. Os primeiros são indivíduos ricos que fizeram as suas fortunas por meio da exploração de peões e do pagamento de impostos ridiculamente baixos, ou inclusive por meio da evasão fiscal. Deve-se assinalar, também, que entre este sector e os interesses especuladores das cidades, a chamada “pátria financeira”, há uma tradição de vínculos políticos estreitos que constituiu o suporte principal das ditaduras que ensanguentaram e assolaram esse país no passado recente. Um terceiro elementos que se deve levar em consideração é a reiterada e crescente inconformidade desses sectores oligárquicos — financeiros, agrários e políticos — com os governos de Néstor Kirchner e de Cristina Fernández.
Assim, ao ritmo do ruído de caçarolsa, configura-se uma ofensiva desestabilizadora disfarçada de descontentamento popular, na qual confluem os velhos elementos do golpismo sul-americano e as tentativas de asfixar as cidades. Não seria estranho ver, no futuro próximo, fenómenos de instabilidade monetária e cambial. O guião é muito conhecido: foi aplicado pela primeira vez no Chile contra o governo constitucional de Salvador Allende, foi replicado, com variantes maiores e menores, em diversos países do Cone Sul.
Não se deve omitir o facto de que, em paralelo a esta crise artificial na Argentina, as direitas locais tentaram a desestabilização dos governos progressistas da Bolívia, Equador e, naturalmente, da Venezuela, onde chegaram inclusive à consumação de um golpe de Estado que tinha por objectivo suprimir a presidência – democraticamente eleita – de Hugo Chávez.
Seria ingénuo supor que nesta onda de fenómenos desestabilizadores contra governos que em diferentes graus tomaram distâncias das receitas económicas neoliberais, e que marcaram com clareza políticas destinadas a recuperar as respectivas soberanias nacionais, esteja ausente o tradicional componente comum do golpismo na América Latina: a ingerência estado-unidense.
Com efeito, ao longo do século passado Washington estimulou invariavelmente os descontentamentos, supostos ou reais – regionalistas, das classes médias e altas, dos âmbitos financeiros e, naturalmente, das transnacionais – contra governos que tentaram reconduzir a economia para a satisfação mínima das necessidades populares ou que pretenderam fazer das suas respectivas independências nacionais algo mais que um formalismo histórico.
[NR] Táctica utilizada pela direita chilena contra o governo da Unidade Popular. O Presidente Salvador Allende dizia que as damas que assim procediam, nas ruas, nunca haviam lavado uma panela.
Fonte: La Jornada
Tradução:http://resistir.info/