Obama vence “prévias” feitas com políticos brasileiros
Avessos a qualquer identificação com a política externa do presidente norte-americano George W. Bush ou, pior, com as “conquistas” de seu governo para a economia dos Estados Unidos, os parlamentares brasileiros, governistas ou de oposição, acompanham a
Publicado 30/03/2008 16:41
A fama de ter um certo um pendor para o protecionismo econômico não mancha mais a legenda dos senadores Barack Obama e Hillary Clinton, que disputam voto a voto a candidatura democrata à presidência dos EUA. A crise imobiliária que sacudiu o país norte-americano enterrou essa lógica.
“Com a crise imobiliária por lá deixando não só os cidadãos, mas o mundo inteiro em alerta, sem dúvida este é o ponto central da campanha”, destaca o líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE), que não esconde a predileção por Obama. O petista chega a comparar superficialmente a trajetória do senador norte-americano com a do presidente Lula.
“Toda novidade merece sua atenção”, diz Rands.
Os EUA e a AL
O foco da eleição presidencial nos Estados Unidos será, inevitavelmente, a saúde da maior economia do mundo, mas é a condução das relações com a América Latina que atrai as atenções do parlamentares brasileiros. Líder do Partido Republicano na Câmara, o deputado Luciano Castro vê na visão de política externa o ponto forte da senadora Hillary Clinton.
“Hillary tem um perfil mais conciliador que pode garantir um melhor convívio com o Brasil.”
Quanto ao colega John McCain, republicano norte-americano, Castro sustenta que ele deve manter a política externa de Bush. Nem a promessa de incluir o Brasil no G8 seduz o republicano brasileiro.
“Ele é das forças armadas, então tem esta questão de guerra, de conflito mais enraizada. Este convite para trocar o G8, na verdade, é uma campanha em troca de apoio. Em cuja efetivação, que fique claro, eu não acredito”, pondera Castro.
Políticas sociais
Obama, por outro lado, compensa a sua pouca experiência em política externa e as ações contidas para a economia com a defesa de políticas sociais para atender aos eleitores pobres, hispânicos e negros e com isto leva a simpatia e os votos da maioria dos senadores brasileiros.
“Este pode ser o caminho ideal para ele. Afinal, os dois democratas estão fazendo um grande debate e representam minorias. Mas Obama, ao meu ver, ganha espaço porque não concentra sua campanha na comunidade negra”, declara o senador Paulo Paim (PT-RS).
Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB) vê em Barack Obama um discípulo de John Kennedy, preocupado com as relações dos Estados Unidos com a América Latina e, mesmo em meio a uma crise econômica que aponta para um viés protecionista ainda maior na economia norte-americana, um candidato mais flexível nas negociações comerciais que envolvam o Brasil e seus pleitos pela diminuição de subsídios e maior abertura do mercado dos EUA.
“A conjuntura, hoje, impede posições rigidamente protecionistas e Obama parece ser o candidato que mais se afina com essa nova necessidade da economia norte-americana”, acredita o deputado.
Mais cético, o presidente da comissão correlata no Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), vê nos discursos voltados para a audiência latino-americana apenas uma ferramenta eleitoral. O senador admite que, no presente cenário, seria mais fácil para o governo brasileiro dialogar com um presidente norte-americano democrata, mas mesmo essa ponte seria “superficial”, avalia.
“É uma doce ilusão acreditar que o Brasil estará em melhor situação com este ou aquele candidato, deste ou daquele partido, vitorioso nas eleições norte-americanas. Independente de quem vença, a nação terá pouco mais com o que contar do que as próprias pernas”, vaticina Heráclito.
“É preciso encarar a realidade. Nos últimos 20, 30 anos, nenhum presidente norte-americano estabeleceu um diálogo mais estreito com o Brasil. As conversas se limitam a convites para jogar golfe em Camp David ou coisa que o valha. E tem tudo para continuar assim.”
Fonte: JB Online