Polêmica: O Che Cruzeirense X René Barrientos atleticano

Reportagem do jornal Hoje em Dia trata da rivalidade histórica entre símbolo da torcida do Cruzeiro, Che Guevara, e o ''xodó'' da torcida atleticana, René Barrientos, o assassino do revolucionário. ''A d

Rivalidade histórica no Mineirão
    

Alexandre Simões
Hoje em Dia

A rivalidade entre Atlético e Cruzeiro tem momentos marcantes nos 86 anos do confronto. Nos últimos meses, ela passou a ser literalmente histórica.
Amanhã, do lado azul, estará uma enorme bandeira com a mais famosa foto do revolucionário argentino Che Guevara, personagem marcante da Revolução Cubana e dos movimentos de esquerda na América Latina nas décadas de 1950 e 60. Do lado alvinegro, uma bandeira que não fica nada a dever, com a foto do presidente boliviano René Barrientos, que deu a ordem para a execução de Che, na Bolívia, em 1967.

Essa história começa em 1991, quando o Cruzeiro ganhou o seu primeiro título da Supercopa e uma das ramificações mais fortes da Máfia Azul, o Comando Guerreiro do Eldorado (CGE), resolveu adotar a foto de Che Guevara como o símbolo da torcida.

«A decisão de colocar o Che Guevara como o símbolo da CGE tem um misto de ideologia e identificação. Ele foi o grande guerrilheiro. Não fizemos a escolha de forma aleatória, sem saber de quem se tratava. Conhecemos a história do Che e sabemos que há uma grande identificação dos brasileiros com ele», revela Washington, o «Xará», presidente da CGE.

Aliado ao contexto histórico, Xará aponta um outro motivo para a escolha de Che Guevara, que evidencia o tamanho da rivalidade entre Atlético e Cruzeiro: «Além de toda a história de luta do Che, ele ainda nasceu em Rosário, na Argentina, onde o Atlético tomou uma surra na final da Copa Conmebol».

Sempre presente nos jogos do Cruzeiro, em qualquer lugar do país, a bandeira de Che Guevara, segundo Xará, nunca foi impedida de ser estendida e já ganhou até cópias: «Nunca tivemos nenhum problema. Muito pelo contrário. Depois da gente, a Independente, do São Paulo; a Jovem Fla, do Flamengo; e a Torcida Jovem, do Sport; também adotaram o Che Guevara como símbolo».

Se do lado cruzeirense a imagem de Che Guevara está ligada também à ideologia, a bandeira do ditador boliviano René Barrientos, estendida pela Galoucura, maior organizada do Atlético, desde o ano passado, é simplesmente fruto da rivalidade.
«A gente não está entrando no mérito político do Barrientos. É apenas uma questão de rivalidade. Se do outro lado eles fizerem uma bandeira de água, nos vamos fazer de fogo», garante Anderson Arcebispo, um dos membros do Conselho Administrativo da Galoucura.

Arcebispo reclama até mesmo de uma «perseguição» por parte da imprensa à Galoucura pela bandeira do ditador boliviano: «Há muita preocupação porque a Galoucura tem uma bandeira do René Barrientos, mas do outro lado, junto do Che Guevara, estão Osama Bin Laden e Sadam Hussein, e ninguém fala nada».
Apesar de ser um objeto de provocação, Xará garante que a bandeira atleticana não atinge a sua torcida: «Aqueles caras são muito bobos. Nem foi aquele general quem matou o Che Guevara (o oficial teria apenas dado a ordem). Não estamos nem aí para aquela bandeira».

Pesquisa
Apesar do desdenho cruzeirense, Barrientos estará firme amanhã no Mineirão, segundo Arcebispo: «A bandeira do René Barrientos não é de uma pessoa ou grupo. É da torcida e, sem dúvida, vai ao clássico. Ela agora é o nosso xodó».
E o novo xodó atleticano levou quase um ano para sem concebido, como revela o dirigente da Galoucura: «Fizemos um trabalho de pesquisa, de cerca de um ano, para descobrirmos quem matou o Che Guevara. Quando descobrimos que foi o René Barrientos, tivemos o auxílio do Governo da Bolívia, que nos mandou a biografia dele e também fotos, para que fosse feita a bandeira».

Fonte: Jornal Hoje em Dia