O negro na luta pelos quilombolas
Fundada na Bahia, em 1988, por um grupo de comunistas, a União de Negros e Negras pela Liberdade (Unegro) é uma entidade nacional que está presente em quase todos os estados brasileiros, com exceção do Amap
Publicado 01/04/2008 18:37 | Editado 04/03/2020 16:13
“A nossa comissão provisória surgiu faz um ano. Ela é nova apesar de que muito dos militantes que integram a Unegro, já militaram em outras organizações do movimento negro”, disse Emanuel Medeiros, presidente da Unegro.
Emanuel foi também presidente do Movimento Alma Negra (Moan). Considerada uma das entidades mais antigas do Estado do Amazonas, foi presidida pelo militante Nestor Nascimento. Após a morte de Nestor, o Moan sentiu necessidade de ter dentro do movimento negro uma entidade que também fizesse a ligação entre os anseios das comunidades e a luta do movimento mais geral. A partir dessa concepção se fundou a Unegro no Amazonas.
Para Emanuel, o movimento não é só de negros, “Na nossa concepção é um equívoco denominar que uma entidade é só de negros. A luta contra o racismo não é um problema dos negros, é um problema da sociedade e todos devem participar”.
Um dos aspectos trabalhados pela União são as ações com quilombolas. Segundo Emanuel, poucas pessoas sabem da existência dessas comunidades no Amazonas. A do Tambor, reconhecida pelo Governo Federal, está lutando pela titulação de suas terras. A comunidade fica dentro da Reserva do Jaú, uma parte da população já foi expulsa e vive em Novo Airão, aproximadamente 300 famílias ainda resistem as lutas. A entidade desenvolve trabalho também nas comunidades de Boa Fé, São Pedro e Matupiri, localizadas em Barreirinha. Essas comunidades estão mais atrasadas do ponto de vista de titulação.
Em Manaus, a Unegro desenvolve trabalho voltado para a cultura.
Na escola de samba Ypixuna, no bairro Santa Etelvina há um núcleo com atividades direcionadas a essa área, onde a maioria das pessoas envolvidas na escola já se filiaram ao movimento. No núcleo, todas as pessoas que entram para capoeira tem como parte da formação conhecer a história do negro no Brasil.
Já começou a fase de organização dos núcleos em bairros grandes. “Hoje num bairro a juventude fica solta. Quando isso acontece, ela fica sendo disputada pelos traficantes e nós precisamos criar núcleos que gere, perspectiva para organizar a juventude”. Nesse mês de abril vai ser eleito o núcleo da Zona Leste. A idéia é de ir aos poucos formalizando os núcleos. Samba, quilombolas, capoeira e carnaval são as principais atividades desenvolvidas pela Unegro no Amazonas.
Comunidades Quilombolas
São comunidades tradicionais que se organizam para enfrentar o racismo ou a escravidão e reconstruir seus modos de vida. Para uma comunidade ser reconhecida como quilombola, é necessário que ela tenha como objetivo a recuperação do modo de vida e a produção da cultura. O órgão que geralmente aplica o relatório para constatar se comunidade é quilombola ou não é a Funasa.
As comunidades de Santa Fé e São Pedro, localizadas em Barreirinha, são exemplos de quilombolas construídas a partir de escravos fugitivos. Já a comunidade do Tambor foi construída por escravos libertos, com o objetivo de reconstruir a sociedade perdida desde que saíram da África.
Aliança com o PCdoB
A União tem discutido junto ao partido, o projeto de implantação de
núcleos do movimento junto a toda organização do PCdoB. “Onde tem um
membro do partido nós queremos organizar um núcleo da Unegro para
fazermos um trabalho de conscientização e lutar contra o racismo. O
racismo é um problema estrutural do país e não só dos negros”.
Filiado ao PCdoB desde 1980, Emanuel acredita que o partido evoluiu do ponto de vista organizativo, a medida cresceu também se capacitou politicamente, e qualificou seus quadros. Para ele, o partido é muito respeitado na área acadêmica. Um exemplo é o caso do vereador Marcelo Ramos que veio da Juventude e possui representatividade nessa área. “O PCdoB manteve a marca de ser um partido da luta popular”.
De Manaus
Vanessa Sena