Sem categoria

Sintaema, um exemplo de bom combate por filiação à CTB

Com 19 mil trabalhadores na base e 14 mil sócios, o Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo) se tornou, na semana passada, a maior entidade paulista a aderir à CTB (Central dos Trabalhadores e Trabal

“Em nenhum momento desse processo houve subestimação. Apostamos no amplo debate e construímos tudo junto à base, numa relação democrática com a categoria”, afirma Helifax. “Antes de o sindicato tomar qualquer decisão, mobilizamos, intensificamos a discussão, amadurecemos posições.”


 


De fato, para deixar a CUT e optar pela CTB, o Sintaema viveu um das fases mais marcantes de sua história. Atuou de forma madura – e sem precipitações – diante de um desafio que se impunha à entidade desde 2007. No 6º Congresso do Sintaema, realizado em dezembro, um dos temas mais debatidos foi justamente a relação da entidade com a CUT. Em votação, a imensa maioria dos delegados aprovou a desfiliação da entidade à central.


 


Por limites estatutários, essa decisão tinha de ser referendada pela categoria em uma assembléia – que foi marcada para 13 de março. Qual rumo, afinal, a categoria deveria seguir? Para se chegar a qualquer conclusão, abriu-se uma intensa rodada de reflexões, através da “Tribuna de Debates” do jornal do sindicato. Também foram realizadas dezenas de reuniões nos núcleos setoriais do Sintaema espalhados pelo estado, para que as mais diversas opiniões fossem confrontadas.


 


Na assembléia de 13 de março, cerca de 95% dos 200 delegados ratificaram a indicação do 6º congresso: o Sintaema estava definitivamente fora da CUT. Com isso, restava saber para qual central o sindicato iria. Quatro tendências presentes na direção apresentaram propostas:


 



– a Corrente Sindical Classista (CSC) levantava a bandeira da filiação à CTB;


– sindicalistas ligados ao PSOL propunham a adesão à Intersindical;


– a Articulação Sindical (ArtSind) propôs que o sindicato voltasse a se filiar à CUT;


– a Conlutas batalhava para que o sindicato não se filiasse a nenhuma central.


 


Após nova rodada de discussões, uma assembléia realizada em 27 de março reuniu a categoria para decidir o futuro do sindicato. Apesar de a assembléia ter sido realizada numa quinta-feira à noite, trabalhadores do interior compareceram em peso – alguns viajando mais de cinco horas para se dirigir a São Paulo e chegando de volta às suas cidades na madrugada de sexta-feira.


 


Eram 416 sócios presentes – a maior assembléia temática da categoria, excluindo-se as campanhas salariais. Num momento histórico, mais de 85% deles levantaram seus crachás (foto abaixo) e aprovaram a filiação à CTB, coroando uma longa e contundente trajetória classista.


 



Assembléia de 27 de março: o Sintaema aderia à CTB 


 


“Todas as forças reconheceram a riqueza desse processo, feito de maneira democrática e transparente, sem maiores traumas”, afirma Helifax, que em seguida evoca o filósofo italiano Antonio Gramsci. “Foi construída uma 'maioria consentida', não imposta, atropelada. Não houve rolo compressor.”


 


A relação Sintaema-CUT


 


Helifax é um dos mais experientes líderes da categoria. Em 1990, foi eleito diretor de base – seu primeiro cargo sindical. Nas gestões seguintes, passou pelas diretorias de Formação e Imprensa, até ser assumir a presidência em 2003. Ao analisar as gestões de que participou, desde a primeira, Helifax afirma que o Sintaema acertou tanto ao entrar na CUT em 1990 como ao optar pela CTB 18 anos depois.


 


“Na década de 1980, enquanto o movimento sindical vivia uma regressão no mundo inteiro, havia avanços no Brasil. Uma das razões foi o surgimento em 1983 da CUT, que jogou papel nas lutas sindicais, dinamizando o movimento e chamando greves gerais, dando um caráter de classe. Naquele momento a opção (de filiar à CUT) era acertada pelo condicionamento histórico. A CUT era a central de maior respeito nos anos 80.”


 


Segundo Helifax, a década de 1990 mudou o cenário de lutas para o sindicalismo, a partir da eleição de governos neoliberais tanto em São Paulo quanto no Brasil. “A globalização neoliberal levou à flexibilização de direitos, à retirada de conquistas, ao desemprego em massa.”


 


O Sintaema, porém, conseguiu consolidar sua perspectiva classista. “Fruto de uma concepção plantada em meados dos anos 80, combinamos lutas econômicas mais imediatas com disputas de alcance político de longo prazo. A luta contra a privatização se tornou o maior embate do ponto de vista político. A época foi de grandes greves contra parceiros estratégicos, as PPP (Parcerias Público-Privadas), a venda de ações e as terceirizações.”


 


Na época, a relação do sindicato com a CUT era positiva, mas já ocorriam problemas de grande dimensão. “A CUT tem problemas de ordem política interna desde o nascedouro. Não houve a possibilidade de a central se expandir, de ser mais democrática. A força que prevaleceu (a ArtSind) é muito hegemonista, dando pouco espaço para outras correntes.”


 


As perspectivas em relação à CUT pioraram após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Hoje o Sintaema avalia que a CUT não conseguiu manter sua autonomia diante do governo Lula. Ainda que o governo federal seja de esquerda, o movimento dos trabalhadores tem de apresentar suas próprias propostas e lutar por elas – se contrapor, enfaticamente, à plataforma da direita.” Para Helifax, “Lula acertou ao levar sindicalistas para o governo, mas a opinião desse grupo no poder se estendeu à CUT, que perdeu parte de sua identidade”.


 


Sobre o novo cenário aberto ao sindicalismo, Helifax diz que “o balanço foi de que não havia qualquer possibilidade de avanço significativo com a CUT à frente do processo. A central não era mais um centro dinâmico de um movimento que unificasse os trabalhadores.”


 


Por que a CTB


 


Na opinião de Helifax, não foi por acaso que a opção pela CTB foi tão majoritária. “Essa vitória se deveu à consistência das propostas, trabalhadas e discutidas com a base”, diz o presidente do sindicato. “A CTB é fruto da bem-sucedida experiência no movimento sindical da CSC. Tinha a melhor proposta e uma grande plataforma sobre os debates pré-filiação. A assembléia do dia 27 coroou esse processo, em que só não escreveu ou não deu opinião quem não quis.”


 


Para Helifax, quatro motivos foram decisivos para que a deliberação da categoria. O primeiro diz respeito à concepção de movimento defendida pela CTB, que “prima por um sindicalismo classista, plural, amplo e democrático”. A segunda razão é que a nova central, fundada em dezembro, “defende a unicidade sindical contra o pluralismo”.


 


Helifax também disse que “os bons mecanismos que garantem financiamento dos sindicatos e o chamamento da CTB por um novo Conclat (Congresso da Classe Trabalhadora), para a discussão de uma pauta comum entre as centrais”, foram outros dois bons motivos que levaram a categoria a preferir a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.


 


Apesar da mudança da CUT para a CTB, o Sintaema vai defender – segundo seu presidente – a unidades das centrais sindicais, sobretudo nesta conjuntura. “As relações entre centrais e governo têm melhorado muito nos últimos anos. Todos os acordos em Brasília se dão através desse relacionamento, das mobilizações, em que os trabalhadores foram às ruas unidos por seus interesses.”


 


Helifax lembra que não é só a CTB que tem a oferecer ao sindicato. “Por sua trajetória das mais bem-sucedidas, o Sintaema deve ser um instrumento de amplo auxílio a CTB – e tem a responsabilidade de ajudar a construir e consolidar o pensamento da central na base. Seus membros devem ajudar na composição da CTB em São Paulo e no Brasil”.


 


E quais seriam, de acordo com Helifax, os maiores desafios de uma central de orientação democrática e classista? “É preciso fazer um chamamento, convocar as demais forças do movimento paulista e brasileiro a aderir às grandes idéias da CTB. Sem desmerecer as outras centrais, temos uma proposta mais avançada para que as lutas extraiam uma sociedade sem explorados nem exploradores, uma sociedade nova – uma sociedade socialista.”