O espetáculo das lágrimas

Por Ricardo Rojas*
Helicópteros, reconstituições, repórteres em frente à delegacia, capas de jornais, chamadas de noticiários; a imprensa transformou a morte de uma criança em um dos espetáculo mais comentados do ano, mandou às favas a prudência e c

Em Tirania da comunicação, Ignácio Ramonet comenta que “a hiperemoção como tal sempre existiu na mídia, mas permanecia como específica dos jornais de uma certa imprensa demagógica que manejavam facilmente com o sensacional, o espetacular e o choque emocional”. Por aqui, há muito tempo a obscuridade sensacionalista, aquela que aposta no apelo emocional exacerbado e na exploração da sensibilidade como forma de alavancar a audiência, transformou o processo comunicacional em uma busca incessante pelo que há de mais sórdido, como um psicopata doentio às vésperas da cadeira elétrica.


 


É bem verdade que algumas perversidades autoritárias que ameaçam a investigação jornalística não são exclusividades da imprensa nativa. Basta recorrermos aos jornais britânicos Daily Express e Daily Star, que foram obrigados a estampar em suas capas do dia 19 de março um pedido formal de desculpas aos pais de Madeleine. Isso porque os dois jornais haviam publicado anteriormente notícias acusatórias atribuindo ao casal o assassinato da menina.


 


De qualquer forma, não acredito que essa maníaca obsessão pela culpabilidade precoce e pelo espetáculo da morbidez tenha algo para acrescentar ao jornalismo. Isto é, ao extrapolar o limite da informação, aos poucos estes métodos autoritários, que valorizam muito mais o escândalo do que a própria informação, transformarão a comunicação em um circo dos horrores, onde o choque emocional superará a razão e, verdadeiro ou não, o fato deverá gerar emoção. Cria-se, então, outro espetáculo.


 



(*) Ricardo Rojas – Estaudante de Jornalismo – Pelotas RS
http://kadorojas.blogspot.com/