Para 81% dos americanos, país está “mal encaminhado”
Cerca de 81% dos habitantes dos Estados Unidos acham que o país está “mal encaminhado”, e uma grande maioria opina que a situação piorou nos últimos cinco anos, segundo pesquisa publicada ontem pelo jornal The New York Times divulgada no sábado (5). A pes
Publicado 06/04/2008 18:20
“Embora o estado de ânimo do público venha piorando desde o começo da Guerra do Iraque, se deteriorou ainda mais nos últimos meses à medida que a economia, aparentemente, entrou em recessão”, disse o jornal.
Cerca de 78% dos entrevistados acreditam que o país está pior agora do que há cinco anos. Este pessimismo surpreendente, já que 72% dos 1.368 entrevistados entre 28 de março e 2 de abril indicaram que a situação financeira em seus lares é “boa”.
Entre os assuntos que mais preocupam os americanos, segundo a pesquisa, estão a economia e o mercado de trabalho (37%), e a ameaça terrorista e a Guerra do Iraque (17%). “O descontentamento apresenta riscos claros para os republicanos neste ano de eleições, já que a popularidade do presidente Bush continua em baixa”, publicou o jornal.
Março sem 80 mil empregos
O Departamento do Trabalho dos EUA informou nesta sexta-feira (4) que houve uma perda líquida (fechamentos menos aberturas de vagas) de 80 mil postos de trabalho em março. A maioria dos analistas projetava uma redução entre 50 mil e 60 mil empregos no período. Trata-se do terceiro mês consecutivo de perdas e a maior destruição de empregos num mês em cinco anos.
No mês, a taxa de desemprego foi calculada em 5,1%, ante projeções de 5%. Em fevereiro, o governo americano havia reportado taxa de desemprego de 4,8% e o fechamento de 76 mil postos de trabalho.
Economistas consideram que o fechamento das vagas mina a confiança dos consumidores na economia, que tendem a apertar os gastos, o que afeta a economia, já que o consumo responde por mais de dois terços do PIB (Produto Interno Bruto).
Na quinta, o governo americano já havia adiantado outro número bastante desfavorável sobre o mercado local de trabalho: a elevação de 38 mil solicitações de auxílio-desemprego, que totalizaram 407 mil na semana encerrada no dia 29 de março, o mais alto nível desde setembro de 2005. Economistas do setor financeiro projetavam um número em torno de 366 mil solicitações.
Recessão
As estatísticas reforçam a idéia de que os EUA já se encontram em recessão, tese defendido por muitos economistas.
Na quarta-feira, o presidente do Fed (Federal Reserve, o BC americano), Ben Bernanke, admitiu pela primeira vez que há risco de que a economia dos EUA entre em recessão no primeiro semestre deste ano.
''Não parece provável que o Produto Interno Bruto cresça muito, se é que cresce, na primeira metade de 2008, e ainda poderia se contrair um pouco'', disse Bernanke, em testemunho para uma audiência no Comitê Econômico conjunto do Congresso.
Fraqueza aceita
Apesar da notícia, os mercados financeiros reagiram com relativa tranqüilidade. O Índice Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, caiu 0,13% e a bolsa eletrônica Nasdaq avançou 0,32%.
Analistas explicaram que esse desempenho do mercado acionário se deveu ao fato de que os investidores já se haviam preparado para a “má notícia”.
“A tendência de recessão está aí para todos verem com dados piores que o previsto, mas o mercado se estava preparando para notícias ruins”, comentou Martin Stanley, chefe de derivativos da GFT Global Markets. “Isso certamente aumenta a chance de outro corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).”
Março foi o terceiro mês seguido em que os EUA perderam postos de trabalho. Em fevereiro, o número de vagas havia caído em 76 mil e, em janeiro, 22 mil. A última vez em que a economia dos EUA teve uma perda de postos de trabalho durante três meses consecutivos coincidiu com o começo da Guerra do Iraque, em 2003.
Para Frank Lesh, corretor e analista de futuros da FuturePath Trading, “parece que a fraqueza econômica foi aceita pelos mercados”. O economista do Bank of Tokyo-Mitsubishi Christopher Rupkey destacou que o relatório “é um soco na economia americana que vai mexer com a confiança dos consumidores”.