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Futebol: Falta de trabalho de base afasta Rússia do topo

“Agradecimentos a Dasaiev, Sulakvelidze, Baltacha, Tchivadze, Demianenko, Daraselia, Gavrilov, Biessonov, Bal, Chenguelia e Blóhin — a primeira escalação que fez meu coração balançar pelo futebol”. Esse é o final da seção de agradecimentos do livro “Fu

Nas Copas de 1986 e 1990, alguns nomes mudaram, mas o nível técnico foi sempre o mesmo. Foi a era de Bielanov, Protássov, Alieinikov, Mihailitchenko, Zavárov, Dobrovólski. Desde a excursão do Dínamo de Moscou à Inglaterra em 1945 e do surgimento de Iáchin, sabe-se que a União Soviética — sobretudo Rússia e Ucrânia — nunca teve escassez de talento e só não teve mais sucesso em Copas do Mundo devido às arbitragens. Mas já não surgem tantos jogadores naquela parte do mundo.



O futebol russo se ressente disso. O aparecimento dos novos milionários do capitalismo do Leste Europeu fez os clubes russos terem grande injeção de investimentos. De CSKA Moscou ao Lutch-Enérguiya, não falta dinheiro para contratações. Não alcançam o nível da Premiership ou da liga espanhola, mas é muito mais que campeonatos de algum respeito, como Holanda e Portugal, e não difere muito da França.



Além disso, há um processo de modernização dos estádios. O Lujiniki, principal estádio de Moscou na era comunista (recebeu as competições de atletismo nos Jogos Olímpicos de 1980), já é uma arena moderna e até receberá a próxima final da Liga dos Campeões. E nem é o estádio mais moderno do país, posto ocupado pelo Lokomotiv, do Lokomotiv Moskva.



Ainda assim, os resultados dos clubes russos e da própria seleção russa são desproporcionalmente discretos. A vitória sobre a Inglaterra nas Eliminatórias da Eurocopa ainda mostrou evolução, em boa parte pela contratação do técnico Guus Hiddink. Ainda assim, não é nada para um país com potencial e tradição para ficar entre os melhores da Europa.



O problema é o trabalho na base. A União Soviética conquistou um título e um vice do Mundial Sub-20. Desde a separação das repúblicas, o máximo que a Rússia conseguiu foi duas participações. Ambas com eliminação nas quartas-de-final e as duas logo depois do fim do comunismo. Ou seja, ainda aproveitando os benefícios do trabalho que era feito na era soviética.



Até seria possível dizer que parte da culpa é que, como países separados, as antigas repúblicas soviéticas são mais fracas. Mas isso não é uma verdade absoluta. Na década de 1980, a seleção soviética era bastante diversificada, com jogadores russos, ucranianos, georgianos, armênios e bielorrusos. Mas, nas boas equipes vermelhas dos anos 1960 e 70, o predomínio era de russos, com uma minoria respeitável de ucranianos. Ou seja, a Rússia reduziu o ritmo de produção de jogadores.



Outra desculpa automática seria argumentar que a queda do regime comunista fez o investimento estatal em esporte praticamente acabar. Ainda que seja verdade, outros esportes continuaram gerando atletas de talento, inclusive modalidades muito concorridas como tênis, vôlei, basquete e natação.



No futebol, a realidade é outra. Os melhores nomes russos nos últimos anos foram Kárpin, Kantchelskis, Kiriákov, Chalimov, Kolivánov, Mostovoi, Salenko, Ovtchinnikov, Onopko, Nigmatullin, Smiertin, Títov e Biestchástnih. Todos eles tiveram oportunidades na Europa Ocidental, mas nenhum impressionou. Claramente, havia uma queda de nível dos jogadores russos.



É no surgimento de talentos locais que está o renascimento do futebol da Rússia. A seleção atual já tem bons nomes, como o goleiro Akinfeev, e os atacantes Pogriebniak, Archávin e Pavliutchenko. À exceção do primeiro, nenhum é garoto. De qualquer modo, identificar o aparecimento de alguns nomes mais consistentes, e com a orientação de um técnico de experiência internacional, ajudou a seleção russa a assustar um grande.



De qualquer modo, é preciso mais. A Rússia tem população, tradição e dinheiro. É um país que deveria estar entre os mais fortes de seu continente. Para continuar, mesmo com os nomes esquisitos de seus jogadores, encantando torcedores de todo o mundo, inclusive garotos no Brasil.


 


Fonte: Balípodo.com, com título do Vermelho