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PC dos EUA vê eleição deste ano como “oportunidade única”

“Os próximos nove meses são uma oportunidade única”, concluiu de Sam Webb, presidente do Partido Comunista dos Estados Unidos (PCEUA), na última reunião do Comitê Nacional do Partido (dias 29 e 30). Webb traça como meta a “derrota esmagadora” da ultradire

É difícil acreditar que nós nos reunimos há apenas quatro meses. Quanta coisa aconteceu desde então, quanta coisa mudou. Todos nós pensávamos que este ano seria emocionante, e possivelmente um momento de transição para um novo estágio da luta. Mas alguém antecipou uma tão dramática virada? Alguém previu uma tal explosão de ativismo político? Alguém adivinhou uma tão titânica luta pela indicação presidencial do Partido Democrata?



Eu não. E suspeito que tenho um grande número de acompanhantes.



O povo americano, ao tomar os temas em suas próprias mãos, confundiu os acólitos políticos de todas as cores, reconfigurou o terreno e o clima da política, e pôs em movimento um processo que bem pode configurar uma triunfal vitória nas eleições de novembro. Uma tal vitória sobre o extremismo de ultradireita redefiniria a correlação de forças e lançaria as bases para se marchar em uma outra direção.



Nesse novo estágio, o poder das corporações transnacionais em seu conjunto pode rapidamente emergir com todo destaque como o principal obstáculo ao progresso social.



A virada política



A virada política que ricocheteia pelo país não tem comparação nas últimas décadas. Seu fôlego e profundidade são notáveis. Sua linha política é progressista. Ela está ditando os contornos do discurso político. Rejeita os velhos estereótipos racistas e sexistas. É uma rebelião de massas contra a política da administração Bush.



O objeto deste levante são as primárias presidenciais democratas. No entanto, a reviravolta foi muito além das expectativas de qualquer um. Recordes estão sendo batidos em quase todas as primárias estaduais. Cada setor do povo está marchando para as urnas. Os jovens eleitores agarram o touro eleitoral pelos chifres.



A elevada octanagem dessa rebelião é de tirar o fôlego. Em toda parte temos concentrações de gente. Os candidatos, as primárias e as alternativas são objeto de animadas conversações.



Se alguém pensa que essas alternativas têm fôlego curto ou que se trata apenas de personalidades, só posso dizer que essas pessoas estão apenas assistindo, mas não sentindo, nem ouvindo o vendaval que atravessa o país.



Graças a essa escalada, uma mulher ou um afro-americano está no pórtico da indicação presidencial. Isto reflete a crescente maturidade política do povo americano. Deve ser celebrado como um grande resultado democrático. Tudo que reduza este fato deve ser vigorosamente contestado.



Não importa se as dezenas de milhões de votantes nas primárias democratas apóiam Barak Obama ou Hillary Clinton, pois o sentido político de seus votos é claro: o povo quer mudança, e não qualquer tipo de mudança, mas aquela que coloca as necessidades populares à frente da beligerância, da divisão, das aparências e dos lucros empresariais.



Lutas em outras arenas certamente vão prosseguir, mas todas elas terão sua parte no grande drama que agora se desvenda no estágio da política eleitoral. Embora o desfecho deste drama ainda não tenha sido escrito, pode-se dizer que uma decidida vitória do povo irá refedinir todas as arenas de combate, em benefício do movimento popular.



Qualquer organização ou movimento que não se insira de modo pleno e prático neste processo extremamente dinâmico será deixada para trás por seus próprios membros e pelos acontecimentos. Terá perdido uma oportunidade que rarissimamente aparece na vida política.



Portanto, todo comunista deve se tornar um participante ativo na rebelião eleitoral, se é que ele ou ala já não o fez. Os acontecimentos são muitos e as possibilidades quase ilimitadas.



Examinemos a situação.



O fator espontâneo



Enquanto a classe operária e todos os demais segmentos do movimento popular estão engajados na rebelião, suas estruturas e tendências organizadas estão bem atrás. Que seja algo mais espontâneo que organizado não deve espantar ninguém. Qualquer convulsão desta magnitude é algo em construção e possui um vasto elemento de espontaneidade.



Como tudo mais, na natureza e na sociedade, uma rebelião de massas deve ser encarada dinamicamente, em seus movimentos contraditórios. A vida, para parafrasear Lênin, é sempre mais complexa e multifacética do que podemos sequer imaginar. A teoria, por necessária que seja, é apenas um guia para a ação.



Desgraçadamente, essa lição não foi plenamente assimilada por alguns na esquerda. Eles vêem pouco ou nenhum potencial progressista na política eleitoral ou no Partido Democrata, têm dificuldades em aquilatar e responder apropriadamente a padrões políticos pouco familiares, como a presente revolta no quadro das primárias democratas. É algo que não encaixa nem pode ser forçado a encaixar facilmente em seu modelo político de mudança social.



Não é preciso dizer que não partilhamos dessas opiniões. Na verdade, essa rebelião na arena eleitoral é o principal vetor político da luta deste ano.



Temos em nosso crédito o fato de termos dito, na última reunião do Comitê Nacional, que as eleições poderiam desencadear um processo conduzindo a uma nova era de luta de classe e democrática, num nível mais elevado. Ao mesmo tempo, temos que admitir que subestimamos a fúria e o alcance do levante. E tampouco antecipamos o fenômeno Obama.



O ingresso dos jovens e independentes



Um dos pais alentadores aspectos desse levante do povo é o ingresso dos jovens, que ou não tinham idade para votar nas últimas eleições ou optaram por se abster. Ao ingressarem em massa no processo das primárias democratas, a nova geração está se tornando um agente de mudança. Nunca, desde os anos 60, vimos a juventude trazer tanta energia e idealismo ao processo político.



As razões para a mudança qualitativa estão bastante claras. Sentindo algo diferente na candidatura Obama, os jovens afluem para as primárias do Partido Democrata em número recorde, como votantes e organizadores. Eles não apenas concebem a possibilidade de um novo mundo; imaginam sua realização durante as suas vidas.



Os independentes [não filiados ao Partido Democrata ou ao Republicano] também estão entrando nesta rebelião. Para muitos deles as primárias presidenciais democratas são um espaço de ação e idéias novas. A política de ontem não encontra eco em suas mentes; estão em busca de respostas para renitentes problemas como o insuportável custo dos planos de saúde, que pesa sobre sua qualidade de vida.



Não por último, a classe operária, os oprimidos por sua nacionalidade ou raça e as mulheres estão saltando nesta rebelião como não se via há muitos anos. Cada um destes segmentos comparece às urnas em quantidade inédita.



Os padrões eleitorais.



O que revelam os padrões eleitorais?



Primeiro, o povo trabalhador em grande medida dividiu seu voto entre Obama, Hillary, Edwards, Kucinich e Richardson. Dizer que Hillary concentrou quase todo o voto operário é simplesmente um erro. Por um motivo: os negros são em sua esmagadora maioria classe operária, e deram seu voto a Obama. E por outro: Obama recebeu a parte do leão do voto operário, no sentido amplo, em muitas primárias e no cômputo geral. Ao mesmo tempo, nota-se que Hillary teve bom desempenho entre os sindicalistas, as mulheres trabalhadoras e os latinos trabalhadores.



Segundo, o segmento afro-americano deu um arrasador apoio a Obama. Em quase todas as primárias, cerca de nove em cada dez eleitores afro-americanos votaram nele. Isto se deve não só ao compreensível orgulho pela possibilidade de eleger pela primeira vez um presidente negro, mas também porque Obama representaria os seus interesses, uniria nosso país e o introduziria em uma nova era de eqüidade, justiça e paz.



Terceiro, muitas mulheres apoiaram Hillary, embora as mais jovens, e as afro-americanas de todas as idades, tendam a votar em Barak. Mas o realmente notável é a massiva afluência de mulheres de todas as nacionalidades, raças e condições sociais.



Quarto, muitos brancos, homens e mulheres, votaram em um afro-americano. Isto pode ser o aspecto isolado mais notável, por menos que tenha sido destacado na mídia. Na verdade, pelo que se noticia parece que Obama está em primeiro lugar exclusivamente com base no voto negro. Mas qualquer um que reflita sobre o tema sabe que isso é falso. Obama venceu em vários estados com reduzida população afro-americana, e saiu-se bem em estados sulistas, especialmente a Virgínia, com o voto da maioria dos eleitores brancos.



Mais: os milhões de brancos que votaram em Obama o fizeram porque gostaram dele – de seu jeito, seu estilo, sua oposição à guerra, sua preocupação com a marmita, sua habilidade de unificar nosso país atravessando as divisas raciais e outras, sua novidade, sua juventude.



Quinto, o voto latino foi majoritariamente para Hillary Clinton. Porém o mais impactante foi o crescimento do voto latino nas primárias democratas de 2008. Sua percentagem no total passou de 10%, enquanto nas eleições gerais de 2004 ela foi de 6,7%. Na Califórnia, a fatia latina dos votantes das primárias democratas chegou a 30%, contra 16% em 2004; no Texas, 32%, contra 24%. Mudanças semelhantes ocorreram nos demais estados do sudoeste.



Também notável é que a participação dos latinos nas primárias é de 78% para o Partido Democrata e 22% para o Republicano, quando em 2004 a relação era 63% e 37%. As implicações são óbvias: o voto latino é uma parte essencial e crescente do esforço mais amplo para obter uma esmagadora vitória sobre a direita em novembro.



Sexto, os votos dos jovens e os dos idosos seguiram direções distintas, com a juventude apoiando entusiasticamente Obama e os mais velhos, exceto os negros, votando em Hillary. Isso não é difícil de explicar: os mais idosos preferem um candidato conhecido, como Hillary. Obama, em contraste, é um recém-chegado.



O fenômeno Obama



A mais clara expressão deste movimento em curso gira em torno da candidatura de Barak Obama, cuja inspiradora mensagem política cativou a imaginação de milhões. A tal ponto que muitos comentaristas e políticos usam as palavras “transformacional” ou “transformador” para descrever a candidatura – por sua capacidade de reunir uma ampla maioria popular para reconfigurar de modo fundamental os termos e o terreno da política neste país.



A campanha de Obama não só trouxe novas forças para este processo. Também as catalisou em novos formatos organizativos.



A onda em torno da candidatura Obama, enquanto principal corrente da primária democrata, tem muito de espontânea. Mas o que a diferencia é que dá a impressão de “um movimento”. Seu apoiadores enxergam em Obama alguém que não traz a bagagem da velha geração de políticos e que fala o que eles desejam ouvir.



Tenho ouvido comentaristas políticos dizerem que a obamamania não possui um programa político definido, carece de coerência organizativa e não dá garantias de que continuará para além do dia da eleição. Ao ouvir essas observações, pergunto-me: onde alguém poderia pensar que este movimento em curso, com alguns meses de vida, poderia ser como uma máquina bem azeitada?



Qualquer um com senso de história sabe que os movimentos, ao nascerem e às vezes  mesmo mais tarde, não são nem nítidos e nem ordeiros. Os modelos ideais nunca encontram representação concreta na vida real.



Ainda que este movimento tenha sua dinâmica própria, ele é inseparável da personalidade e do perfil político de Barak Obama. Embora não seja um candidato da esquerda, ou alguém que endossemos – nós [do PCEUA] não endossamos candidatos ou partidos –, é, sim, uma novidade na cena política. Seus conceitos estratégicos e táticos são de amplo espectro e sua política olha para adiante. Seu chamamento à mudança ressoa em milhões de pessoas. E seu desejo de superar as divisões entre negros e brancos, negros e pardos, brancos e não-brancos, estado vermelho e estado azul [as cores dos partidos Republicano e Democrata], imigrante e nativo, cristão e muçulmano, muçulmano e judeu, colarinho azul e colarinho branco [trabalhador da produção e de escritório], homem e mulher, gay e hetero, urbano e rural, tocou uma profunda corda entre os americanos. Após três décadas de ácido rancor e divisão, as pessoas se sensibilizam com um país mais cordato, mais gentil e justo.



No papel, é verdade que algumas posições de Hillary Clinton, para não mencionar as de Edwards e Kucinich [postulantes democratas à esquerda] são melhores que as de Obama. Mas em muitos sentidos os compromissos políticos e plataformas partidárias não são o principal para se julgar o potencial de um candidato presidencial ou sua aptidão de mudança. Isso seria olhar a política com excessiva estreiteza.



Olhar as coisas assim não leva em conta quem pode unir e inspirar essa rebelião massiva, ou quem consegue articular uma visão moral e política para dezenas de milhões, ou quem possui a capacidade de reunir maiorias políticas no período pós-eleitoral, ou quem tem a habilidade para obter uma arrasadora vitória sobre McCain e os republicanos em novembro.



Nessa contagem a vantagem vai para Obama, aos olhos de muitos eleitores. Isso não significa dizer que Hillary não seria um duro adversário para McCain. Seria. Nem implica em sugerir que ela não pode vencer. Pode. Mas seria bem mais difícil.
Eu também suspeito que Hillary governaria à esquerda do que foi a administração Bill Clinton, em grande medida porque agora as condições e as expectativas são diferentes.



Porém já escutei coisas assim: Obama não é um político burguês? Não conseguiu um monte de dinheiro de Wall Street? Não é um centrista e uma cria do Partido Democrata?



Todas essas assertivas merecem ser discutidas, mas nenhuma pode ser facilmente respondida com um sim ou um não. E ainda que pudessem, isso não nos diria necessariamente quem é Obama, com que o seu governo se pareceria e como interagiria com o amplo trabalho que o movimento popular conduz.



Conceito de classe dinâmico e aberto



Com certeza não queremos dispensar categorias como classe e luta de classe, mas também não queremos fazer delas conceitos petrificados e sem vida. Classe e luta de classe devem ser entendidos como processos dinâmicos e categorias não rotuláveis e não simplesmente como uma relação com os meios de produção que inevitavelmente conduz à luta  e à consciência de classe.



Devidamente empregada, a categoria classe fornece-nos a chave para atitudes, tendências, predisposições e comportamentos dos atores políticos, de um indivíduo ou grupo social. Mas não enquadra estes mesmos atores em concepções de mundo e linhas de ação irrevogáveis. Usá-la isolada dos processos políticos, econômicos e culturais mais amplos é converter o marxismo em um dogma.



Caso se colocasse apenas perguntas concebidas com estreiteza, caso desconsiderasse a fluidez do terreno da política, a lógica de conjunto do combate e a facilidade com que os indivíduos mudam em momentos assim, o movimento popular se isolaria de espaços e oportunidades para obter vitórias históricas em um momento dado. Empregar uma tal metodologia hoje em relação a Obama acarretaria este perigo.



Luta pela unidade



Por bastante tempo os apoiadores de Hillary e Obama têm dito sem ambigüidades que cerrarão fileiras em torno do candidato escolhido. Partindo do princípio de que isso ocorra, é fácil imaginar a formação de um movimento eleitoral com sentido e profundidade sem igual no século 20.



Uma formação política com bases tão amplas tem condições para infligir uma esmagadora derrota em McCain e no Partido Republicano, assim como para abrir um novo caminho.



Contudo, ainda não está dado que isso vai acontecer. Para não falar do papel divisionista da direita, algumas tensões irromperam na contestação da primária democrata, abrindo espaço para que os simpatizantes de cada pretendente migrem para o opositor caso o seu preferido não seja o candidato.



Ao mesmo tempo, preconceitos de raça e de gênero não estiveram ausentes nas primárias. Isso deve ser reconhecido e rejeitado com vigor, para que não encontrem espaço neste momento excepcional da vida política de nossa nação.



Era de se esperar que nossos adversários políticos da direita iriam exacerbar as tensões raciais e de gênero. Mas o surpreendente é que gente que se pensaria estar do nosso lado use táticas semelhantes, quando não idênticas, como a campanha Hillary Clinton tem feito nas primárias [Sam Webb cita aqui alguns exemplos do que considera “comentários com subtexto racial”].



A campanha Hillary parece não entender o que está em jogo nesta eleição. Está jogando um jogo perigoso. Os simpatizantes de ambos os campos deviam insistir energicamente na rejeição dessa tentativa cada vez mais transparente de polarizar o eleitorado conforme padrões raciais. Caso não tenha resposta, isso poderia converter um momento de oportunidade e vitória numa amarga derrota, com toda a desmoralização, divisão e abuso verbal que inevitavelmente se seguiriam.



Nós não podemos silenciar. Acomodar-se com a discórdia racial e de gênero, em nome da unidade, não é um comportamento comunista. Nossa estratégia política é derrotar decisivamente a direita nesta eleição. Apenas um movimento unido pode fazê-lo.



O papel da mídia



A mídia também está amplificando essas fissuras nas primárias democratas. Primeiro, parecia haver uma quadrilha midiática, usando formas sutis ou frontais de marxismo para menosprezar Hillary Clinton e sua candidatura. Nos últimos meses, quando a campanha de Obama inesperadamente tomou a dianteira e um movimento emergiu no contexto de sua candidatura, o foco da mídia, especialmente a direitista, é desprestigiá-la [seguem-se alguns exemplos].



Parece-me que setores da classe dominante e dos democratas de direita anseiam por reduzir a estatura de Obama por temerem que sua candidatura e sua mensagem não apenas o conduzam à Casa Branca, mas também ponham em movimento um processo que vá muito além de qualquer coisa que eles tolerem confortavelmente.



Alguns setores da classe dominante preferem McCain, outros Hillary Clinton e outros ainda Obama, mas algo que desgosta a todos eles é uma vitória arrasadora. Aos olhos deles, Obama mais provavelmente que Hillary poderia vencer por uma larga margem.
Dada a crise econômica em aprofundamento e a crescente exigência de ação federal, esses patifes do dinheiro e do poder temem o clamor público por um novo New Deal [“Novo Acordo”, nome da política de Franklin Roosevelt para enfrentar a crise dos anos 30]. Perdem o sono com as demandas populares de uma nova regulamentação da economia e democratização do Estado. Incomodam-se com as expectativas das massas, de reformas políticas e econômicas em profundidade.



A guerra e a economia



Sé é que existe uma perfeita tempestade econômica, eu diria que estamos próximos dela. […]. E, depois de alguns indiscutíveis êxitos no inchaço do poder, prestígio, riqueza e lucratividade do imperialismo americano (facilitados pela dissolução da União Soviética), agora parece que essa contra-ofensiva está tropeçando, se é que não chegou a um ponto de exaustão. Os limites do militarismo são evidentes. A crise econômica e as contrações se intensificam. Novas configurações do poder econômico ganham força. E novos movimentos de oposição eclodem em muitas regiões do mundo, assim como no coração do imperialismo.



No curso do debate eleitoral, por postos de trabalho, auxílio desemprego, moratória para as hipotecas residenciais, um programa maciço de infraestrutura, uma política industrial e urbana, correção ambiental, produção energética alternativa e a regulamentação das instituições financeiras e fluxos de capitais, poderíamos também unir movimentos e combates lutando por soluções imediatas.



O mesmo pode ser dito do movimento pela paz, que continua a pressionar por uma rápida retirada do Iraque. Dezenas de milhões de americanos dizem que se gastou sangue e dinheiro demais e é hora de chamar as tropas de volta, acabando com a ocupação. A janela para por fim à guerra hoje está aberta, mas requer que todas as pessoas amantes da paz e o movimento antibelicista se dêem as mãos para derrotar decisivamente McCain em novembro.



O que é preciso para vencer



A conquista da presidência e do Congresso com uma boa margem é possível. Mas admitimos que não será fácil. Podemos esperar [da parte de McCain e da direita republicana] a mais suja campanha de que tem memória.



No entanto, o vento sopra a favor do movimento popular e do Partido Democrata. A posição do público está mudando em um sentido progressista e democratizante. A energia e o entusiasmo nas bases são palpáveis. O comparecimento de eleitores do lado democrata sobrepuja o dos republicanos. O sentimento anti-corporações é forte. A não ser que haja uma debacle daqui para a Convenção, os democratas e o movimento popular em seu sentido amplo têm condições de se unificar em torno do nome que for escolhido.



Portanto, uma vitória esmagadora em novembro está ao nosso alcance. Mas isso não depende apenas do candidato, mas também da iniciativa e energia das principais forças do movimento popular.



Estas forças impulsionaram as primárias. Na mesma medida ou mais, impulsionarão a luta para derrotar McCain e os republicanos em novembro. É com estas forças e suas organizações principais que o movimento de esquerda e progressista deve se posicionar. Afinal, ele atinge, influencia e mobiliza dezenas de milhões.



Ao mesmo tempo, novas formas de organização continuarão a emergir, especialmente caso Obama seja escolhido candidato.



Como nas últimas eleições, a classe operária e o movimento trabalhista arregaçarão as mangas para a batalha do voto. Quantias inéditas de dinheiro foram coletadas. Um número sem precedentes de sindicalistas será mobilizado. Uma quantidade recorde de sedes sindicais servirá à mobilização, e assim por diante [Webb fornece aqui alguns exemplos de iniciativas sindical-eleitorais já em curso, como a campanha da AFL-CIO “McCain às claras” e os “Esquadrões da Verdade”.



A tática política nas novas condições



O objetivo da tática é tornar efetiva a nossa estratégia política. Neste momento, nossa tarefa estratégica é contribuir com a rebelião popular com a missão de obter uma arrasadora vitória sobre McCain e os republicanos em novembro.



Isto coloca a questão: por que dar tanta importância a derrotar os republicanos por uma margem esmagadora?



É a margem de supremacia que dá amplitude ao movimento, para não falar do estímulo ao novo presidente e aos democratas progressistas no período pós-eleitoral. As experiências históricas de 1936 e 1964 evidenciam este fato.



É a margem de supremacia que desloca a correlação de forças de classe e sociais no país, decisivamente, em favor do movimento popular. É ela que embaraça e desarvora a direita.



Numa palavra, uma vitória esmagadora é o resultado que abre o caminho para o movimento popular liderado pelos trabalhadores transitar para um novo estágio da luta, onde as corporações transnacionais sejam identificadas como o principal obstáculo à paz, igualdade, segurança econômica e democracia.



Em contraste, uma vitória democrata por margem estreita dificultará o avanço em todos estes sentidos. Vedará as aberturas e oportunidades para reestruturar o campo da política e da luta de classe.



Nada me irrita mais que as pessoas de esquerdas que declaram não poder apoiar Obama ou Hillary porque nenhum dos dois abraça posições consistentemente de esquerda. Por que o fariam? Eles não são candidatos da esquerda e portanto não o farão. Ambos esperam ser o candidato de uma ampla, diversificada, frouxa e ondulante coalizão eleitoral. mesmo que estejamos nos seus calcanhares, não estou certo de que venham a estruturar esse programa estritamente de esquerda. Na verdade, penso que a esquerda e as forças progressistas que tenham sensibilidade deviam permitir-lhes um pouco de jogo de cintura.



O objetivo desta eleição não é eleger um candidato presidencial da esquerda ou um Congresso de esquerda. Isto não é possível neste momento. Gostaríamos que fosse, mas no espírito do marxismo os objetivos devem se basear na realidade concreta, não em desejos, não em fantasias que podem te lisonjear momentaneamente mas no final te deixam vencido.



A realidade atual é a seguinte: a direita dominou a cena política durante três décadas; a tarefa do movimento popular é desalojá-la do poder e criar um terreno político mais favorável para dezenas de milhões de pessoas lutarem, vencerem e seguirem avante. Nas circunstâncias presentes, o único caminho para fazer isto é a coalizão que se forma para eleger um presidente do Partido Democrata e incrementar a maioria democrata no Congresso.



Nem todos vêem as coisas assim. Alguns dizem que a tarefa é romper com o Partido Democrata. O único problema dessa tática é que as dezenas de milhões, inclusive todas as forças essenciais do movimento popular, não mostram interesse por ela.
Outros dizem que os democratas são duvidosos e não devemos confiar que aplicarão políticas progressistas caso vençam. Mas uma vitória esmagadora não criará uma dinâmica mais favorável?



Outros ainda, nas fileiras progressistas e de esquerda, parecem tão envolvidos em suas nuances específicas, quanto às estratégias internas e externas para o day after da eleição, que perdem de vista a tarefa prática de vencê-la. Por interessante que seja essa especulação, deve-se dizer que o day after não servirá de nada se não vencermos no dia da eleição.



Por fim, há os que dizem que o papel do movimento de esquerda e progressista é dirigir o debate e elevá-lo. Aos seus olhos, o foco principal seria pressionar Obama ou Hillary no sentido da esquerda, nesse ou naquele tema – o Iraque, a Palestina e Israel, a saúde pública, o impeachment. Eu gostaria de dizer que concordo com essa tática, mas, francamente, discordo, por um motivo: as forças de esquerda e progressistas são pequenas demais para conduzir o debate. Os candidatos, a mídia e o povo americano já o estão conduzindo. A esquerda e os progressistas deviam se somar a ele, trazendo as suas posições programáticas.



Sim, devemos apresentar saídas e posições mais avançadas no processo eleitoral e não seguir a reboque da plataforma do Partido Democrata. Mas devemos fazê-lo dentro do contexto da tarefa principal, de derrotar a direita – não tanto para influir nas posições dos candidatos, mas para mobilizar o povo, impulsionar o comparecimento no dia da eleição e iniciar o processo de balizar a agenda política pós-eleitoral.



Nosso papel



Nosso papel nesta eleição é simples: participar e fornecer uma liderança para a tempestade que se avizinha e cujas ondas se encapelarão em novembro. O maior perigo para nós é subestimar esta possibilidade, em ambos os sentidos.



Eu não chegaria a dizer que as oportunidades para construir o movimento e o partido sejam ilimitadas, mas elas cresceram imensamente. São condições muito mais favoráveis que as que temos tido há um bom tempo. Confrontemo-nos com o seguinte: o movimento está surgindo; e nossas idéias já não são tão radicais, estão migrando para o main stream, devemos fazer o mesmo.



A principal questão que precisamos discutir agora é: como cada organização de base [do PCEUA] deve se movimentar mais depressa e avançar mais? Como nos ligarmos à juventude que ingressa em massa na arena eleitoral? Como aprofundar nossas conexões com os trabalhadores, os americanos oprimidos racial e nacionalmente, as mulheres, os idosos, ps movimentos pela paz, ambientais e estudantis? Como elevar nossa visibilidade, como construir o partido e sua imprensa?



Conclusão



Os próximos nove meses são uma oportunidade única. Temos que atuar sobre esta base e levar esta mesma mensagem a cada pessoa que encontrarmos.



Quando chegar o Ano Novo, é possível visualizar que o gorila do extremismo de direita já não esteja nas costas do povo americano e dos povos do mundo; que um movimento de enormes proporções tenha se imposto; e que o capital tenha minguado qualitativamente na balança de poder em nossa nação. Neste caso – e penso que assim será –, além de saudar o Ano Novo com uma taça de champanhe, uma caneca de cerveja ou uma dose de uísque, poderemos voltar nossa atenção para o trabalho de traduzir uma histórica e esmagadora vitória em termos de agenda legislativa popular.



Fonte: http://cpusa.org