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Pochmann critica falta de convergência do BC com o governo

O aumento da taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 11,75% ao ano, mostra que “não há coordenação perfeita dentro do governo Lula”, diz Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). “A decisão anterior do Banc

Para Pochmann, isso “expressa a ausência de uma maioria política que diga: nosso projeto é o de crescimento. O governo está tomando decisões olhando somente para as pressões”, complementa.



Veja abaixo trechos de sua entrevista à Folha de S.Paulo, separados por tema:



Juros



“A decisão do Copom é claro sinal de que não existe convergência no governo. Há um grupo político que defende a estabilidade monetária a qualquer preço. Essa decisão do Copom talvez tenha sido uma das mais tensas porque o conjunto de forças reunidas em torno de uma economia mais financeira venha de certa maneira tendo processo de decisão sem grande contestação, sem grande reação social e política. Hoje, dentro do sistema financeiro e do governo havia aqueles que defendiam a estabilidade dos juros. Mesmo assim, o BC elevou a taxa básica de juros.”



BC x governo



“Vejo hoje no governo Lula um governo de disputa. A decisão do Copom pode acirrar essa polarização, que tem implicação política mais abrangente. Diria que parte da tensão, que se deu no período que antecedeu a decisão, foi estimulada, explicitada pela parte daqueles que constituem o Copom. O BC teve uma posição muito ousada, subiu os juros sabendo que dentro do governo havia posição contraria à sua decisão.”



Impacto



“A elevação dos juros terá efeito em relação às expectativas dos empresários. Vai ter impacto nas pessoas ou empresas que estão tomando crédito e na dívida pública. Pode também atrair mais recursos estrangeiros especulativos para o país. Teremos uma taxa de câmbio ainda mais valorizada, com maior dificuldade para a exportação e maior estímulo à importação, além da substituição de produtos nacionais por importados. Mas o impacto na economia real deve ocorrer a partir do segundo semestre.”



Investimentos



“Há 25 anos o país carece de investimentos e tem dificuldade para competir no mercado internacional. Cerca de 44% do PIB está aplicado no sistema financeiro. Com a elevação dos juros, cria-se constrangimento para aplicar dinheiro em máquinas, fábricas e compra de equipamentos. Quem tem dinheiro para aplicar acaba sempre preferindo liquidez, que depende do tamanho da taxa de juros. Hoje, o empresário pensa ainda: Se eu investir hoje em uma fábrica, vai ter demanda para meus produtos? E o país vai ter infra-estrutura para eu vender no Brasil e exportar?”



PIB



“O Ipea não mudou projeção para o desempenho da economia neste ano. O PIB deve crescer na faixa de 4,2% a 5,2%, mas pode até superar os 5,4% de crescimento do ano passado. Este é um ano eleitoral, ano em que há investimentos em obras. Também haverá investimentos estabelecidos no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. Não está claro que haverá catástrofe generalizada na economia mundial devido à crise nos Estados Unidos. A China pode até crescer menos, mas cresce 10% ao ano. No ano que vem, sim, pode haver crescimento menor no país, dependendo do que ocorrer na economia mundial. Não apenas pelo que acontecerá nos Estados Unidos mas também pelas decisões que os países vão tomar em relação à alta dos juros.”



Petróleo



[A descoberta de megacampos de exploração de petróleo] tem efeito positivo na economia porque nos torna mais fortes do ponto de vista da matriz energética mundial. O Brasil se coloca como grande produtor e exportador de petróleo perante outros países, mas essa medida tem de ser acompanhada por uma política industrial, de valorização e diversificação das cadeias produtivas para que possa gerar enriquecimento. Se não houver essa política nem diversificação, o que você vai formar? É preciso [fazer da descoberta] algo inteligente.