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6 mil metalúrgicos protestam pela redução da jornada em SP

Cerca de seis mil trabalhadores metalúrgicos, ligados à CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), da Força Sindical, e à CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) da CUT, tomaram as ruas da capital paulista no dia 25, sexta-feira. El

Duas passeatas e um ato público unitário na praça da Sé, centro de São Paulo, marcou o protesto dos metalúrgicos. No centro da praça, próximo ao chamado Marco Zero da cidade, as entidades instalaram uma tenda para coleta de apoio popular ao abaixo-assinado pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salários.


 


Os metalúrgicos da Força se concentraram na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no bairro da Liberdade, já os metalúrgicos da CUT saíram da sede da central, no bairro do Brás, e seguiram em passeata até a Sé, onde se encontraram e realizaram o ato conjunto.


 


De cima do caminhão de som, dirigentes da Força Sindical e da CUT se revezavam para explicar aos trabalhadores a importância da redução da jornada de trabalho sem redução salarial no país.


 


Juntas, as duas confederações – CNTM e CNM – representam mais de dois milhões de metalúrgicos.


 


O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e diretor da CUT, José Lopez Feijóo, rememorou uma série de avanços conquistados nos últimos 30 anos, desde que o Novo Sindicalismo nasceu a partir da greve de maio de 1978 na Scania, para então concluir: “Nós vamos continuar melhorando o Brasil, este é o nosso objetivo”.


 


Unidade


 


“Esta é uma luta pela unidade, pelo emprego, pelo salário igual. Somos a categoria mais organizada do país, com força para dizer que queremos não só a redução da jornada de trabalho, mas a aprovação das Convenções 151 e 158. Vamos seguir firme e juntos empunhando bem alto esta bandeira”, disse Eleno Bezerra, presidente da CNTM.


 


Em todos os Estados onde CNTM e CNM têm representação ocorreram paralisações, assembléias e atos públicos.


 


“A unidade das centrais em torno de temas de interesse geral da classe tem se demonstrado vitoriosa, e assim será novamente”, afirmou o presidente da Força Sindical e deputado federal, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).


 


“Um tempo atrás, nossa agenda era lutar contra retrocessos, banco de horas, redução de direitos. Nos últimos cinco anos, nossa agenda está em processo de avanço”, comparou o presidente da CNM, Carlos Alberto Grana.


 


Paulinho da Força comentou que as três bandeiras principais do semestre – redução da jornada, 151 e 158 – já chegaram com pressão ao Congresso e fazem parte do debate nacional. “Todos perceberam que a unidade, nestes momentos, gera conquistas. É por isso que tem tanta gente louca com a gente”, disse.


 


Era pouco mais de meio-dia quando os manifestantes deram as mãos e ergueram os braços, para simbolizar unidade na luta. Os sinos da Catedral tocavam, e esse detalhe não passou despercebido por Valter Sanches, secretário geral da CNM-CUT: “Até os sinos estão badalando a nosso favor”, anunciou ele ao microfone.


 


Reivindicações


 


“Este é um ato, uma mobilização especial pela redução da jornada e pela aprovação das convenções, mas é também um ato pelo fim do fator previdenciário, essa herança nefasta do governo FHC que penaliza os trabalhadores e impede que as pessoas recebam o valor das aposentadorias pelas quais contribuíram a vida toda”, disparou, numa das primeiras falas, Carlos Alberto Grana.


 


O presidente da Força Sindical mostrou-se confiante na queda do fator previdenciário, já aprovada no Senado e que seguirá para votação na Câmara dos Deputados.


 


“Em 1984, os metalúrgicos começaram a parar as fábricas e conquistaram a redução da jornada de 48h para 44h semanais. Este é um momento importante para os trabalhadores, estamos acumulando forças. Tudo isto contraria os empresários, que são contra reduzir jornada, mas fazem rotatividade de mão-de-obra pra pagar salários mais baixos e de forma desigual em todo o país. Vamos mudar esse quadro”, afirmou Paulinho.


 


A reivindicação pela ratificação das Convenções 151 e 158 visa acabar com as demissões injustas, a rotatividade de mão-de-obra, a desigualdade salarial e diminuir a terceirização. Só a rotatividade atinge 30% da categoria metalúrgica.


 


Abaixo-assinado


 


As amigas Edinalva de Jesus e Elaine Barreto foram uma das primeiras a escrever o nome no abaixo-assinado. Edinalva, assistente de enfermagem, está sem emprego e sofre com lesões por esforços repetitivos que a impedem de encontrar nova vaga.


 


“Trabalhava em hospital particular e chegava até a carregar pacientes no braço de um andar para outro, fazia força o dia inteiro. Agora, tenho dores e nem consigo pegar peso. Eu sou vítima das longas jornadas”, afirma.


 


Elaine trabalhava num laboratório de medicamentos, na linha de produção de soro. “Eram oito horas direto de encher frasquinhos e depois carregar sacos de mais de cinco quilos no ombro. Isso precisa mudar”, disse.


 


Tanto Elaine quanto Edinalva acabavam de sair de um escritório de advocacia, onde foram abrir processo trabalhista contra os ex-empregadores.


 


Cléber José da Silva e Luana Graciele da Cruz, vendedores e companheiros de trabalho na mesma loja, também assinaram.
 


“A gente trabalha muito e ganha pouco. Fico do meio-dia às oito da noite, inclusive de sábado, e não consigo estudar”, reclamou Cléber, 18 anos.


 


Próximos passos


 


A CNTM e CNM vão encaminhar uma pauta à CNI (Confederação Nacional da Indústria) pedindo a abertura de negociação sobre a redução da jornada de trabalho sem redução salarial.


 


A manifestação da última sexta-feira foi uma preparação para o Dia Nacional de Luta pela Redução da Jornada de Trabalho, sem redução do salário, que será promovido no dia 28 de maio por seis centrais sindicais (CTB, CUT, Força, UGT, CGTB e NCST), com paralisações e manifestações em todos os estados, por todas as categorias profissionais.


 


“A hora é agora! O momento econômico é propício: a economia está crescendo, a atividade industrial está no pico, o consumo aumentou. Vamos levar esta luta até a conquista da redução da jornada, por mais empregos, menos acidentes de trabalho, mais qualidade de vida e desenvolvimento econômico no país”, destacou Eleno, da CNTM.


 


O movimento sindical vai intensificar o abaixo-assinado pela redução da jornada que vem sendo feito em âmbito nacional, com objetivo de coletar mais de 1 milhão de assinaturas. O documento será entregue ao Congresso Nacional reivindicando a aprovação do Projeto de Emenda Constitucional 393/01, de redução da jornada de trabalho, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS).