Ato Por uma São Paulo Melhor une oito partidos da cidade
O lançamento da carta-compromisso Por uma São Paulo Melhor levou centenas de militantes e lideranças de oito partidos políticos ao salão nobre da Câmara Municipal da cidade, na tarde desta segunda feira (28). Assinaram o documento, lido pela pres
Publicado 28/04/2008 21:44
A tônica do ato foi a união de forças políticas em torno de uma plataforma que enfrente os reais problemas da cidade e seja capaz de por fim à polarização entre dois blocos políticos nas próximas eleições. ''Este cabo-de-guerra empobreceu o debate político e transformou as eleições em simples escolhas de nomes, onde, o que menos importa, é o debate sobre o futuro do nosso município''.
Interrompido várias vezes por aplausos e palavras de ordem, o deputado federal Aldo Rebelo, pré-candidato a prefeito pelo PCdoB, enfatizou a importância de São Paulo para o estado e para o país. ''Se é verdade que Brasília é a capital administrativa e política, porque lá estão a sede do poder executivo, do poder legislativo e do poder judiciário, não é menos verdade que São Paulo é a capital econômica, a capital financeira e comercial do Brasil. Os visionários que fundaram São Paulo, talvez não imaginassem que estavam fundando a maior metrópole do Hemisfério Sul, o maior centro industrial, comercial e cultural da América Latina'', disse.
Aldo também condenou a desigualdade social da cidade, que possibilita padrões de consumo elevadíssimos para alguns, mas marginaliza tantos da obtenção do mínimo para uma vida digna. ''São Paulo tem uma frota de helicópteros que transporta uma parcela ínfima de sua população e tem um transporte público no nível da indigência e da incompatibilidade com um nível de conforto e da necessidade de seus habitantes'', exemplificou.
''Baldeação'' para outros cargos
Outra crítica dos partidos que aderiram à carta foi aos governantes que disputam a prefeitura da capital ambicionando outros cargos políticos. O vereador do PRB, Atílio Francisco, defendendo que o próximo prefeito saia da composição dessas forças políticas, alertou: ''São Paulo não precisa apenas de um bom administrador, precisa principalmente de tudo aquilo que a população vem doando para que a cada ano essa seja uma cidade melhor. São Paulo merece todo o carinho e toda a dedicação dos homens que vão governá-la nos próximos quatro anos''.
Nas palavras de Aldo Rebelo, a cidade ''tem sido abandonada por governantes que, muitas vezes chegam à prefeitura da capital já pensando no próximo passo, no próximo cargo no governo do estado ou na presidência da República, como se São Paulo fosse uma estação ferroviária de baldeação e de passagem''. Aldo afirmou que para resolver os problemas da metrópole é ''preciso acreditar no povo de São Paulo, mobilizar as energias políticas, intelectuais, materiais e espirituais, para que, sendo uma cidade mais justa e mais humana, possa ser melhor para seus moradores e para todo o Brasil''.
Bloco de Esquerda é a alternativa
Eliseu Gabriel, vereador e presidente do PSB no município, defendeu o fim da polarização do quadro eleitoral entre o que chamou de ''projetos idênticos'' e apontou a candidatura do Bloco de Esquerda como a melhor para enfrentar os desafios apresentados. ''O Bloco é uma alternativa para um projeto de poder para a cidade de São Paulo, em que o poder público interfira, sim, onde for necessário, inclusive na economia, para promover a igualdade'', disse.
O vereador defendeu que a prefeitura e o governo federal façam parcerias para melhorar o transporte público, deixando na cidade parte dos 13% da arrecadação que São Paulo paga à União em juros da dívida. ''Tenho certeza de que quem for o nosso candidato, o Aldo está a aqui na mesa, pode ser, vai ser nosso candidato, com certeza terá a capacidade e o discernimento para fazer isso''.
''O surpreendente é sempre mais gostoso''
O presidente estadual do PDT, João Gaspar, fez referências à trajetória daqueles partidos nas lutas populares. ''Os partidos que representam a periferia da cidade, os sindicatos, estão nessa mesa. Essa sala tem a síntese do Brasil. Basta tirar uma fotografia, basta ver a cor da pele das pessoas, basta ver a postura das pessoas. Essa aqui é a síntese do Brasil'', assertou.
Para Márcio França, deputado federal e presidente do PSB no estado, a união das legendas que já aconteceu nas eleições para a presidência da Câmara Federal e se aprofundou na luta contra a cláusula de barreira, tem tudo para prosperar a trazer grande impacto na política nacional.
''O Bloco de Esquerda, ampliado com a presença importante de outros partidos, pode representar uma mudança grave na eleição, não só em São Paulo, mas em todo o Brasil. Temos muita esperança nisso. Quando acontecer, a vitória será muito melhor porque vai ser surpreendente. E tudo aquilo que é surpreendente é sempre mais gostoso'', falou o socialista.
Veja a íntegra da carta-compromisso assumida pelas direções dos doito partidos:
''Por uma São Paulo Melhor''
''São Paulo, a maior e mais rica cidade do Brasil não consegue oferecer à sua população uma qualidade digna de vida. As eleições municipais se aproximam e é a mais importante oportunidade para que um projeto que visa a superação dos problemas existentes seja discutido.
A fim de que o pleito deste ano seja capaz de cumprir este papel, faz-se necessário romper a polarização eleitoral que culmina sempre entre apenas dois blocos de força. Este “cabo-de-guerra” empobreceu o debate político e transformou as eleições em simples escolha de nomes, onde, o que menos importa, é o debate sobre o futuro do nosso município. Diante disso, as forças que assinam este Manifesto, em toda sua diversidade, querem que as próximas eleições seja o momento de se encontrar as saídas para a cidade, por meio de um debate plural e democrático.
São Paulo, destino de milhões de brasileiros provenientes de outros Estados e de cidadãos vindos de todas as partes do mundo é, hoje, com 11 milhões de habitantes, uma das maiores cidades do planeta. O Produto Interno Bruto paulistano representa mais de um terço da riqueza do Estado e chega a vultosos 12% do PIB do país. São Paulo é, ainda, o centro financeiro da América Latina e abriga as sedes de grande parte das principais empresas instaladas no Brasil.
Também não podemos nos esquecer de que a capital paulista é anfitriã de constantes eventos internacionais nas áreas de economia, cultura, artes e esportes, entre outros, o que reforça sua vocação de metrópole global. Ao lado de outras cidades de portes semelhantes, a exemplo de Nova Iorque, Londres, Paris, Tóquio, entre outras, São Paulo tem grande influência no mundo.
Em contraste com tamanho potencial, desigualdades e contradições de iguais dimensões são também desenvolvidas. A oferta de sofisticados serviços de educação, saúde e lazer tornam-se inacessíveis à grande maioria da população. De semelhante modo, o espaço urbano possuidor de infra-estrutura é ocupado por empreendimentos luxuosos, expulsando a população de baixo poder aquisitivo para áreas degradadas da cidade.
Diante de tudo isso, é fácil constatar que os problemas de infra-estrutura são graves e as soluções que privilegiam o público são escassas. Um bom exemplo pode ser observado no fato de que São Paulo possui, hoje, uma frota de 6 milhões de veículos e apenas 57,6 quilômetros de metrô; isto, apesar de existir um Plano de Expansão dos Transportes Metropolitanos que elevaria a rede metroviária para mais de 200 quilômetros, o que não se traduz em resultados concretos.
Para fazer a cidade funcionar, milhões de trabalhadores se apertam, diariamente e durante horas, no precário transporte público. Outros tantos enfrentam em seus automóveis, intermináveis horas de trânsito caótico. Em comum, todos têm uma decrescente qualidade de vida.
Enfrentar estas contradições é vital para que a capital paulista continue avançando. Este é o compromisso que as forças políticas abaixo assinadas firmam com a população de São Paulo. Sem deixar de resolver os problemas imediatos, as soluções para a metrópole precisam ser duradouras. É necessário assimilar o que já foi feito de positivo e ter capacidade criativa para encontrar novos caminhos que superem os gargalos que travam o crescimento da cidade e sua apropriação por toda a população.
É preciso desenvolver a cidade harmoniosamente. Todos devem ter condições de viver São Paulo e tudo aquilo que ela pode oferecer. Todos necessitam ter acesso à educação, à saúde, ao transporte, à segurança, mas, também se faz necessário que sejam eqüitativas as possibilidades de acesso à cultura, ao lazer e à prática esportiva.
Para isso, não bastam políticas locais, mas investimentos provenientes das esferas federal e estadual e que sejam condizentes com a importância que a metrópole representa para o desenvolvimento nacional e do Estado, o que hoje está muito longe de acontecer.
Os partidos que assinam este documento estão unidos no compromisso com o desenvolvimento e a construção de um país socialmente justo. Desejamos trabalhar por uma nova cidade, pois, para alcançar o Brasil que queremos é preciso começar por São Paulo.''
De São Paulo,
Fernando Borgonovi