Encontro em Belo Horizonte funda a CTB Minas
Sindicalistas e trabalhadores de todo o estado participaram, nesse sábado (26), no sítio da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg), em Belo Horizonte, do Encontro de fundação da Central dos Trabalhadores e Trabalhado
Publicado 28/04/2008 20:44 | Editado 04/03/2020 16:52
Durante a manhã, os cerca de 140 delegados, representando aproximadamente 40 entidades sindicais, discutiram e aprovaram o regimento interno da CTB Minas e debateram as conjunturas nacional e estadual. No período da tarde, o congresso discutiu o estatuto da entidade e as diretrizes de atuação em Minas Gerais e elegeu os membros da direção plena e do conselho fiscal.
A deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG), pré-candidata à prefeitura de Belo Horizonte, participou do congresso e alertou para a investida contra os movimentos sociais em curso no país. “Há hoje uma ofensiva voltada para a criminalização dos movimentos sociais, numa tentativa de reprimir o avanço da luta da classe trabalhadora, afirmou a parlamentar, que cumprimentou os sindicalistas e trabalhadores pela “sensibilidade e ousadia de incluir as mulheres no nome da Central, dando-lhes visibilidade num particular momento de avanço da luta pela igualdade de condições”.
Ao analisar as conjunturas mundial e nacional, Jô Moraes chamou a atenção para o novo papel desempenhado pelo Brasil, junto com a China e a Índia, a partir da redução do papel hegemônico dos Estados Unidos. Segundo ela, a vitória de Fernando Lugo, no Paraguai, mantém a tendência de governos progressistas, em contraponto ao avanço conservador na Europa, com as eleições de Nicolas Sarkozy, na França, e de Silvio Berlusconi, na Itália. Outro aspecto positivo enumerado pela deputada foi a mobilidade social no Brasil. “Milhões de brasileiros elevaram o nível do consumo em 6,8% , com base na expansão sustentada do mercado interno”, salientou.
No congresso, não faltaram críticas à política macroeconômica capitaneada pelo Banco Central. Segundo Gilson Reis, presidente do Sinpro Minas e eleito presidente da CTB Minas, ao aumentar os juros, o órgão impede o crescimento mais acelerado do país. “Acabando com qualquer possibilidade de avanço, o Banco Central aumentou a taxa Selic. E, dessa maneira, o Brasil voltou a praticar os maiores juros do mundo”, denunciou o sindicalista. Segundo ele, neste momento, o desafio é mobilizar o movimento sindical para exigir do governo a aprovação do fator previdenciário, do reajuste das aposentadorias e das convenções 151 e 158 da OIT.
Para o deputado estadual Carlin Moura (PCdoB), o desafios dos trabalhadores e trabalhadoras é o “de aumentar a temperatura e a pressão da luta de classes em Minas e no Brasil, como forma de avançar nas conquistas por um país melhor”. O parlamentar criticou a administração do governador Aécio Neves, que, conforme ressaltou, “contraria os interesses dos trabalhadores” e se caracteriza “pelo confisco de suas conquistas, pela redução da assistência social e pela maquiagem das contas públicas”.
Segundo o parlamentar, o alardeado “choque de gestão” nada mais é do que um programa financiado por grandes empresas – tendo até uma entidade com sede em paraíso fiscal – e que não reduziu a dívida do estado. “O que o governador chama de ‘choque de gestão’ é uma maquiagem das contas públicas, feita a partir de muita publicidade e propaganda e da redução dos investimentos sociais. O estado deixou de investir até o percentual mínimo determinado pela legislação, como ocorreu na área da saúde. O que vemos em Minas é a presença de um ‘estado mínimo’, omisso em relação aos problemas. Ocupamos o 10º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apesar de sermos o terceiro estado mais rico”, denunciou Carlin.
CTB Minas
“A CTB muito em breve será a maior e mais atuante central em Minas”, disse Celina Arêas, secretária nacional de Formação e Cultura da Central, diretora do Sinpro Minas e da Contee e uma das organizadoras do encontro. Para Wagner Gomes, presidente da CTB, o fortalecimento da Central nos estados é fundamental para que a entidade seja forte e consiga pautar as discussões e defender as suas bandeiras em todo o país.
“Foi um congresso positivo, onde todas as forças compuseram a direção, o que demonstra as grandes possibilidades de crescimento da CTB em Minas”, avaliou Gilson Reis. Ele elegeu como um dos principais desafios no estado o “enfrentamento das políticas neoliberais do governador de Minas, que criminaliza os movimentos sociais e retira direitos dos trabalhadores”. Outro desafio apontado será a ampliação da Central em Minas. O presidente da Fetaemg, Vilson Luiz da Silva, disse que cerca de duzentos sindicatos da sua base devem se filiar à CTB nos próximos dias.
Durante o congresso, os delegados aprovaram uma agenda de atividades políticas e culturais em comemoração ao 1º de maio. Na próxima quarta-feira (30), será realizada uma passeata no centro de Belo Horizonte a favor da campanha de redução da jornada de trabalho. A concentração está marcada para as 15 horas, na Praça da Estação. Depois, os manifestantes seguem para a Praça Sete. Na terça-feira (6/05), haverá um protesto em frente ao Banco Central contra o aumento das taxas de juros. Duas moções de repúdio também foram aprovadas. Uma diz respeito à ação truculenta da Polícia Militar em Montes Claros, no último dia 24, contra a manifestação pacífica de estudantes, pais de alunos e dirigentes sindicais pelo meio-passe e por uma educação de qualidade.
A outra moção aprovada refere-se às declarações do recém-empossado presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de criminalização dos movimentos sociais. “Usando como mote a ocupação da Universidade de Brasília (UNB), o magistrado aproveitou a ocasião para mostrar seu conservadorismo, atacando o que chamou de ‘onda de invasões’”, diz o texto da moção.