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Virada Cultural volta a mostrar preconceito contra o hip-hop

De nada adiantou a repercussão negativa da Virada Cultural de 2007, quando a Polícia Militar (PM), de forma covarde, agrediu dezenas de espectadores durante o show dos Racionais MC's, na praça da Sé, em São Paulo (

Os rappers, neste ano, ficaram longe do núcleo da festa. Público e artistas não pouparam críticas à distância do espaço reservado ao hip-hop (o palco do Baile Chique, montado no gradeado parque D. Pedro 2º), ao difícil acesso ao local e à maliciosa revista que a polícia fez, antes do show, nos espectadores.

 

No show de Rappin'Hood e Sinfonieta, o rapper, entre uma canção e outra, aproveitou para denunciar a organização do evento. Além da PM, o local contava ainda com seguranças particulares. ''Estamos sitiados'', acusou Rappin. ''Os caras dão geral na gente. Mas não é nada, não. Rap não é arruaça – é o som que prega a verdade.''

 

Ao final de sua apresentação, ele voltou a reforçar os ataques ao policiamento e à Prefeitura de São Paulo, atualmente sob a gestão de Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL). ''Eles têm medo de negão, da revolução. Eles querem zoar a gente, mas, na época da eleição, vão pedir o nosso voto.''

 

Na opinião de Rappin'Hood, o forte policiamento colaborou para o público reduzido do Baile Chique. O DJ americano Afrika Bambaataa encerrou a programação apresentando-se para 6 mil pessoas – o maior público do local. É pouco, se comparado com os 50 mil presentes ao célebre show dos Racionais MC's na Virada 2007.

 

Thayde, outro ícone do hip-hop e uma das atrações da Virada Cultural 2008, endossou as críticas ao esquema de segurança e ao endereço dos shows. ''A localização do palco é uma forma de demonstrar o preconceito'', disparou. ''O problema é que eles (a PM e a Prefeitura paulistana) já esperam coisa errada da gente. Espero que até o final do evento não ocorra nada de errado.''

 

''Repressão''

 

A Polícia Militar concentrou no Baile Chique cerca de cem homens – um dos maiores efetivos para um único palco da Virada. A alegação, segundo a própria PM, foi que a revista é comum para eventos em locais fechados. ''Pode até dar uma sensação de segurança, mas isso não deixa de ser uma repressão'', opinou a estudante Amanda Cabral, de 22 anos.

 

Falta à organização do evento explicar por que o evento hip-hop – e não outro qualquer da Virada – foi levado a um local tão controverso. Até mesmo o aspirante-oficial da PM Emanuel Ramon Tavares Nunes, responsável pela segurança no Baile Chique durante o evento, cometeu um ato falho ao explicar a situação: ''Estamos em um local mais afastado. Por isso, não podemos depender de efetivo menor''.

 

O rapper Mano Brown, dos Racionais MC's, esperado como convidado da Banda Black Rio, não participou do show, que começou com atraso. O palco do Baile Chique, de qualquer modo, reuniu precursores do rap no Brasil, como DJ Hum e MC Jack, além de nomes tais quais Z'África Brasil e Xis.

 

Da Redação, com informações da Agência Folha

 

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