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Preservar a catira será objetivo do 1º museu de Alto Paraíso

Alto Paraíso de Goiás, pequeno município de 6,6 mil habitantes, que atrai centenas de turistas, por pertencer à Chapada dos Veadeiros e pelas tradições de festas populares, terá, em breve, o Museu da Memória de Alto Paraíso. Com sede no antigo prédio da S

A coordenadora do Grupo de Catira de Alto Paraíso de Goiás, Fátima Chaves, contente com a iniciativa, vai comandar oficinas de catira no Museu. “É muito importante para Alto Paraíso esse resgate. Na verdade é um resgate mesmo, porque estava sendo esquecida e com esse movimento está reavivando esse lado. E é muito bom porque as crianças estão muito desligadas da cultura tradicional, da cultura própria. Ou seja, tem que aprender a valorizar o que é nosso, nossa própria cultura”, defende fátima.

“De três a cinco dias de festa”

O grupo de catira do município, hoje, é composto por oito pessoas. Mas no auge, tinha o dobro – normalmente, os grupos de catira são compostos por dois violeiros e dez dançadores. Fátima espera que as oficinas despertem o interesse das crianças e dos jovens pela tradição e, com isso, o grupo receba incremento de pessoas para reforçar as apresentações nas festas populares.

“Existem várias folias e festas comemorativas, nas quais se dança a catira: a Festa do Divino Espírito Santo, de São Sebastião, de Nossa Senhora das Graças e geralmente as danças acontecem nos pousos [espécie de pernoite de caravanas que passam pelo lugar]. Naquele local tem uma janta, que é doada pelas pessoas visitadas, em seguida, o grupo dança e canta, agradecendo, e assim segue em frente. Geralmente são de três a cinco dias de festas”, relata.

A catira, ou cateretê é uma dança marcada pelo ritmo das batidas dos pés e mãos dos dançarinos, em geral só homens, que se confrontam em duas fileiras, acompanhados por uma dupla de violeiros. Sua origem é controversa, podendo combinar influências indígenas, africanas e européias. Sufocada pelo rolo compressor da indústria cultural, ainda é dançada tanto em Goiás como no norte de Minas e áreas do interior de São Paulo.

Pela desconcentração dos museus

Em fevereiro, o Ministério da Cultura lançou um edital para que municípios com até 50 mil habitantes, que ainda não tenham possuam um museu, possam tê-lo. Dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) mostram que apenas 20% dos municípios brasileiros têm museu. Com a distribuição da verba, ainda que atinja a poucas localidades, espera-se diminuir este déficit.

“A grande maioria da população não tem qualquer relação com a questão museu, e a memória local está completamente dispersa, e não está sendo trabalhada nessas pequenas comunidades. Então foi uma forma de estimular, para que possamos ampliar o número de municípios com museus e a relação da comunidade com a memória local”, detalhou o diretor do Departamento de Museus do Iphan, José do Nascimento Júnior.

O relatório de gestão da Política Nacional de Museus mostra que Roraima e Amapá têm apenas dois museus e Tocantins tem três, enquanto São Paulo tem 366 e Rio Grande do Sul, 351. Se contabilizados os museus por região, Norte, Nordeste e Centro-Oeste, juntos, possuem 656 instituições em 19 estados, enquanto a Região Sudeste, sozinha, tem 854, distribuídas em apenas quatro estados.

Defesa contra o “bombardeamento da TV”

Para Nascimento, as pequenas cidades precisam de museus, para que questões como a memória local e a identidade das pessoas sejam preservadas. “O museu é o elo entre contar para as gerações atuais o que era aquele espaço, o que era aquela comunidade e projetar isso para o futuro, porque quem vai tomar contato hoje será o elemento para compor esse museu daqui para a frente”, disse.

O professor de história da arte do Brasil, Mário Roberto Bonomo, da Universidade de Brasília, foi o responsável pela elaboração do projeto do museu de Alto Paraíso e, para ele, a instituição também trará qualidade de vida aos moradores do município.

“O museu vai trazer a questão da auto-estima das pessoas, porque vemos, principalmente entre os jovens, o bombardeamento por programas de televisão com o modelo de vida do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas que vivem em cidades com estruturas completamente diferentes. Meu trabalho é pela valorização dessas cidades, e o museu serve para as pessoas se identificarem com o lugar”, defende.

Com informações da Agência Brasil