Movimentos populares de Santa Cruz denunciam “estatuto”
Não é verdade que a população do departamento boliviano de Santa Cruz apóie em bloco o “estatuto autonômico” que as autoridades locais querem impor neste domingo. Uma concentração popular em Santa Cruz, nesta sexta-feira (2), conclamou os movimentos popul
Publicado 03/05/2008 00:04
No populoso bairro Plan 3000, na periferia da cidade de Santa Cruz, os opositores do referendo ilegal se concentraram nesta sexta-feira, diante de um monumento a Andrés Ibáñez. Estavam presentes líderes de comunidades urbanas e camponesas, operários, professores, indígenas de várias etnias e outros representantes das populações do Oriente Boliviano.
Guaranis, escravizados, rechaçam “referendo”
Justa Cabrera, “grande capitã guarani”, acusou a proposta de estatuto apresentada pelo Comitê Cívico de Santa Cruz de não reconhecer os direitos distintos dos povos indígenas que habitam esta parte da Bolívia. Denunciou que os guaranis vivem em condições de escravidão, trabalhando apenas por comida, fornecida por seus próprios patrões nos canaviais, comida que jamais conseguem pagar, e quando morrem a dívida é herdada por seus filhos.
Outro dirigente guarani boliviano, Moisés Segundo, anunciou que as comunidades guaranis não permitirão que entrem em seus territórios as urnas eleitorais do referendo ilegal que pretende impor unilateralmente a “autonomia” do departamento de Santa Cruz. Moisés Segundo fez a declaração em entrevista à TV Telesur.
Benito Rojas, representante da etnia yuracaré, rodeado de guerreiros de seu povo, armados com arcos e flechas, afirmou que os yuracarés defenderão a unidade da Bolívia com suas vidas. E fez lembrar que o povo não elegeu o Comitê Cívico, mas elegeu sim o presidente da República, Evo Morales.
Secretário-geral da OEA manifesta apreensão
Os manifestantes proclamaram que o chamado “referendo autonômico”, além de ilegal e anticonstitucional, não conta com as garantias mínimas indispensáveis para a livre expressão da voltade popular. Lembraram ainda que a consilta não tem o respaldo da Corte Nacional Eleitoral (equivalente boliviano do TSE brasileiro), nem a participação de fiscais e observadores de partidos ou organizações nacionais ou estrangeiros.
Para os manifestantes, o “estatuto autonômico” proposto representa os interesses dos setores oligárquicos de Santa Cruz e não as maiorias empobrecidas do departamento, que continuam identificadas com a proposta da nova Constituição, aprovada pela Assembléia Constituinte em dezembro passado.
A decisão de realizar o “referendo” também despertou manifestações de apreensão na reunião da OEA (Organização dos Estados Americanos) realizada nesta sexta-feira e, Washington. “Este problema [da Bolívia] é muito complexo. Preocupa-nos a divisão que possa surgir nessa nação nos próximos dias, motivada por esse conflito”, disse o chileno José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA. Para ele, é preciso “evitar a violência e fazer respeitar a constituição boliviana”.
Com informações da Agência Bolivariana de Notícias