Gláucia Lima: A Ilha da dignidade
1º de maio já é por si uma festa especial para todos os trabalhadores do mundo, porém, comemorar a data em Cuba tem sentido e sabor especiais. Ali agrupam-se povos de todo o planeta que fraternalmente celebram a unidade, a cidadania e a solidariedad
Publicado 27/05/2008 10:15 | Editado 04/03/2020 16:36
A presença do espírito internacionalista e revolucionário de Che, creio não ser possível sentir em nenhuma outra pátria como na cubana. Cada gesto de carinho e cada palavra proferida por seu povo ao identificar a nacionalidade brasileira traduzem-se sem medo: “Brazil, Cuba, hermanos…”
Na Ilha, fui passear, não para fazer documentário, nem pesquisa política, tampouco para exercer proselitismo, sequer tenho filiação partidária. Minha segunda língua é a hispânica, cuja cultura muito me atrai (Principalmente as canções. Usei-as sobremaneira na dissertação do mestrado que fiz em ensino de espanhol).
Testemunhei um forte sentimento de zelo pela coisa pública, Para eles, “se é Estatal, é nosso”, diferenciando-se de nós, para quem “se é público, não é de ninguém”. No meu país me perguntam da ‘pobreza’ de lá, pobreza que não vi, não igual à daqui, como também não vi riqueza concentrada como a que temos, vi, sim, muita riqueza de espírito concentrada naqueles cidadãos que valorizam suas raízes, que ‘não fogem à luta’. Identifico um povo forte, alegre, capaz de resistir, sin perder la ternura, a um embargo torpe e assassino de países imperialistas ou sem autonomia ou conhecimento de amor entre os povos e/ ou solidariedade humana e cidadã. Solidariedade que não falta em seus princípios, oferecendo ajuda humanitária a qualquer habitante do planeta, dividindo o que têm com quem tem menos ainda.
Encontro na sua poesia e na sua música a explicação de tanta dignidade, pois de arte foram forjados seus heróis. A maior ilha do Caribe, de lindas praias azuis, da piña colada, do mojito, do charuto, de musicalidade e artezanía, do charme dos carros cinqüentões, também é a da educação e a da saúde, detalhe, pública e de qualidade. Dois anos após a revolução, erradicou-se do país o analfabetismo. É, inegavelmente, uma potência mundial nos esportes, que diga o beisebol, atualmente campeão do mundo.
Ah, meu gigante e querido Brasil, como seria maravilhoso se você fosse contagiado por esse patriotismo! Que ele não aparecesse só na Copa do Mundo de Futebol, mas que lembrássemos e exaltássemos nosso Tiradentes ao menos um pouquinho, como em Cuba é enaltecido José Martí, incansavelmente lembrado e citado nos muros do país com frases de sua própria autoria como a que diz: “De la virtud se hacen los pueblos...”
Gláucia Lima – servidora pública estadual (fazendária) e municipal (professora); mestre em ensino de espanhol; foi dirigente do Sintaf por duas gestões.