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Oposição admite que fracassou no uso político das CPIs

O desfecho da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Cartões Corporativos aponta uma tendência do Congresso de esfriar investigações desse tipo. Por conta do fracasso da CPI dos Cartões, que está prestes a encerrar suas investigações sem fa

Escaldado pelos efeitos políticos devastadores produzido pela CPI dos Correios, encerrada em 2006, sobre o mensalão, o governo reorganizou sua base de apoio para participar altivamente das investigações em torno do uso irregular dos cartões de crédito corporativos por servidores públicos, ministros e assessores.


 


Com uma base de apoio amplamente majoritária, os líderes governistas indicaram para compor a CPI apenas parlamentares que não vacilam no apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim, neutralizaram os trabalhos da oposição, que tentava fazer uso político das CPIs, e deram o tom do que pode se tornar no futuro qualquer pedido de CPI que tenha como objetivo apenas desgastar a imagem do governo.


 


“Acho que dificilmente a CPI dos Correios teria produzido o resultado que teve se tivesse sido instalada hoje”, avalia o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator daquela comissão.


 


“A solução é dar um tempo nas CPIs. Essa é a saída para que elas voltem a se fortalecer como um instrumento institucional do Congresso. Porque, depois de aprender com os efeitos da CPI dos Correios, o governo mudou de estratégia e passou a ter como tática a desmoralização das CPIs”, tentou explicar o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), para quem a abertura da comissão representou “um fracasso anunciado”.


 


Também frustou a oposição a perda de apelo midiático das CPIs. Durante a crise política de 2005, a mídia criou um verdadeiro frisson em torno das CPIs e os depoimentos às comissões de investigação eram transmitidos ao vivo por algumas emissoras de TV a cabo e pela TV Senado, e a cobertura jornalística de cada lance da investigação era constante, o que fez com que muitos integrantes das CPIs, especialmente parlamentares da oposição, fossem tratados como verdadeiras celebridades.


 


Já nas últimas ocasiões, a audiência para este tipo de cobertura caiu bastante e o público, percebendo que havia muita desinformação e jogo de cena entre os deputados oposicionistas, perdeu o interesse na disputa política travada nas CPIs.



Relatório final



Nesta terça-feira (3), a senadora Marisa Serrano (PSDB-GO) vai ler o relatório final da CPMI dos Cartões Corporativos elaborado pelo deputado Luiz Sérgio (PT/RJ). A senadora informou que concederá vista coletiva do texto até as 10h da quinta-feira, quando serão lidos os votos em separado, se houver, e será votado o relatório final. A votação do relatório final deve acontecer até o dia 8, quando termina o prazo de 90 dias fixado para o trabalho da comissão. Caso seja aprovado, o relatório será encaminhado ao presidente do Senado Garibaldi Alves Filho, para que seja dado conhecimento do documento aos demais parlamentares.



Na última quarta-feira, os sub-relatores de Sistematização e de Fiscalização da CPI Mista, deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Índio da Costa (DEM-RJ), respectivamente, apresentaram relatórios parciais com sugestões dessas áreas ao relator da comissão. Luiz Sérgio informou que analisará os documentos para decidir se vai incorporá-los ao seu relatório.



Os relatórios parciais não trouxeram novas revelações. Nos sub-relatórios, também não houve sugestão de indiciamento de ministros e outras autoridades do governo federal envolvidos em irregularidades no uso dos cartões corporativos e das chamadas “contas B”. No texto, os deputados também não pediram o indiciamento dos envolvidos no suposto dossiê com informações sobre gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O relator da CPI Mista já informou que não incluirá o caso do dossiê em seu texto.



Entre as sugestões apresentadas no último dia 28 pelos dois sub-relatores, destaca-se a recomendação de descredenciar definitivamente os portadores de cartões corporativos que façam uso abusivo do instrumento, com a obrigatoriedade de restituição, em dobro, dos valores gastos. Os dois sub-relatores propuseram ainda limitar os saques com cartões corporativos a casos excepcionais e específicos.



Também foi sugerida a proibição de uso dos cartões aos sábados e domingos, bem como foi recomendada pelos sub-relatores a identificação das empresas privadas que mantêm relações contratuais com o Poder Público e que têm, no seu quadro societário, sócios que são ou foram servidores públicos.



O deputado Índio da Costa sugeriu ainda a realização de licitação para escolha do banco, do adquirente (empresa que credencia os estabelecimentos para aceitar a bandeira) e da própria bandeira do cartão corporativo do governo federal, uma vez que a adquirente e a bandeira cobram uma taxa de até 4% sobre o valor da operação.



Os deputados também recomendaram a constituição de uma comissão permanente no Congresso Nacional, composta por senadores, deputados e um integrante do Ministério Público Federal, para exercer a fiscalização das despesas com cartões corporativos com o auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU), resguardado o obrigatório sigilo.



Da redação,
com agências