Daniel Castro: É o fim da hegemonia das novelas globais

A nova novela da TV Globo, A Favorita, marcou 34,6 pontos de audiência na Grande São Paulo, registrando a pior estréia da década no horário. Sua estréia, na última segunda-feira (2), confirmou uma nova realidade na TV brasileira.

Definitivamente, a hegemonia das novelas da Globo acabou. O gênero permanece líder, mas foi-se o tempo em que as novelas da Globo davam 60 (anos 90) ou 50 (início da década de 2000) pontos no Ibope. Agora, já está bom quando dão 40.



O primeiro capítulo da conservadora A Favorita marcou 34,6 pontos na Grande SP – cada ponto equivale a cerca de 56 mil domicílios. É uma senhora audiência, mas foi a pior estréia do horário das 21h nesta década e, provavelmente, em todos os tempos. Duas Caras, pior primeiro capítulo no Ibope até então, começou com 40 pontos.



Há cada vez menos televisores ligados na Grande SP. E, na segunda-feira, “só” 49% sintonizaram A Favorita. Portanto, menos da metade dos telespectadores se interessaram pelo grande produto global. Há apenas três anos, as novelas das oito tinham mais de 70% dos aparelhos sintonizados nelas.



A estréia de João Emanuel Carneiro como autor de novela das oito foi ofuscada pelo “último” capítulo de Caminhos do Coração, a “trash”, porém inovadora novela dos mutantes, que tem cara de série. Numa atitude ousada (e também desrespeitosa com o telespectador habitual), a Record tirou Caminhos das 22h30 e colocou às 20h40, só para tentar prejudicar a Globo. Deu certo. Caminhos cravou 22,6 pontos.



Os Mutantes (novo nome de Caminhos) dificilmente se manterá acima dos 20 pontos – o capítulo de segunda era excepcional e frustrou muita gente que esperava um mandante para crimes menos óbvio que a doutora Júlia (Ítala Nandi).



Mesmo que A Favorita (já apelidada de A Rejeitada pela Record) suba para 40 pontos (essa é a tendência), tem-se um cenário de concorrência na teledramaturgia brasileira. Copiando um pouco do “Q” da Globo (mas só um pouco), a Record conseguiu oferecer uma alternativa ao telespectador que não agüentava mais a mesmice e caretice das produções do Projac. Atraiu um público mais jovem. De cada cem telespectadores de Caminhos, 39 têm menos de 24 anos. Em Duas Caras, 57 de cada cem já passavam dos 35 anos.



Para alívio da Globo, A Favorita não aparenta problemas que possam refletir mais rejeição. Morno, seu primeiro capítulo não teve estripulias (nada de cenas “superproduzidas”), mas foi bem amarrado no roteiro e focado na trama central. Didático, apresentou os principais personagens. Como em Dancin” Days (1978), a principal história é a disputa de duas mulheres por uma filha. Sintomático do conservadorismo atual (em que um strip-tease de Taís Araújo só foi mostrado do pescoço para cima), a rebolativa discoteque foi substituída por tango. Eletrônico, mas tango.



Fonte: Folha de S.Paulo