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Diretora da Anac combinou com tucanos os ataques a Dilma

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, confessou que Denise Abreu, ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o procurou para fazer as denúncias contra a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). A revelação confirma uma suspeita que ga

''Ela me procurou dizendo que estava sendo perseguida e queria se defender. Só que na época avaliamos que estava faltando liga, provas, e sugerimos que ela deveria buscar a imprensa. Acho que foi o que ela fez'', afirmou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), ao confessar para a Folha que a cúpula do PSDB manteve contato com Denise Abreu antes da ex-diretora da Anac procurar a mesma imprensa que a desmoralizou no ano passado para atacar, sem provas, a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Roussef.


 


Denise Abreu acusa Dilma e a secretária-executiva da pasta, Erenice Guerra, de pressioná-la a não exigir documentos que atestassem a capacidade financeira dos compradores e a origem do dinheiro dos sócios da Volo do Brasil. A lei limita em 20% a participação de estrangeiros em empresas aéreas.


 


Segundo o senador, ele teve um primeiro encontro com Denise Abreu, quando disse que gostaria de conversar com ela na presença de outros dirigentes do partido.


 


Uma segunda reunião foi agendada na sua casa, em Brasília, com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o vice executivo do partido, Eduardo Jorge.


 


Na conversa com os tucanos, Abreu relatou ter tido conhecimento de que o governo teria produzido um dossiê contra ela, com supostas contas suas no exterior. A ex-diretora da Anac dizia suspeitar que Erenice estaria por trás da operação. Para se defender, disse aos tucanos que iria revelar as pressões de que fora alvo.


 


Guerra disse, porém, que em nenhum momento o PSDB montou uma operação para atacar a ministra. ''Foi ela quem nos procurou, não tem nada de fogo inimigo da nossa parte”, buscou desconversar Guerra.


 


Denise Abre é velha conhecida do PSDB. Ela entrou no partido em 1995, ocupando a chefia de gabinete de José Guedes, secretário de Saúde de Mário Covas. Passou pelo mesmo cargo na pasta da Assistência Social, onde acompanhava obras da antiga Febem. Só depois que ganhou um cargo na Casa Civil, sob indicação de José Dirceu, é que Denise Abreu deixou –pelo menos ao que se saiba– de freqüentar o ninho tucano.


 


Tucanaram a Varig


 


Assim como fizeram com o episódio do falso dossiê que apontava gastos extravagantes do casal FHC, a imprensa e a oposição tentam agora transformar a denúncia de Denise Abreu num novo front de batalha política para desgastar a imagem da ministra Dilma Roussef. 


 



Mas tal como no episódio do dossiê –que depois ficou comprovado não passar de uma tramóia urdida no gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR)—o caso Denise-Varig também corre sério risco de terminar respingando no próprio tucanato.


 


Não falta munição para sustentar as suspeitas que pesam contra o PSDB neste episódio. Basta lembrar a matéria de capa da revista IstoÉ Dinheiro de 2005. Na reportagem, a revista denuncia como o Conselho de Administração da Varig foi transformado num ninho de tucanos que, mais tarde, acabaram levando a empresa à falência.


 


Naquele ano, Ernesto Zanata, então presidente do Conselho de Curadores da Fundação Ruben Berta, dona de 87% das ações da Varig, nomeou um conselho de experts para tentar salvar a empresa. E o consultor David Zylbersztajn, ex-genro de Fernando Henrique Cardoso, que presidiu a Agência Nacional do Petróleo, emergiu como o novo presidente do Conselho de Administração da Varig. Cabe aqui um parênteses: Nesta última semana de junho, o nome de Zylberstajn apareceu nas investigações sobre os negócios suspeitos da empreiteira Alstom com o governo de São Paulo e do fundo Matlin Patterson com a Varig.


 


Mas voltando a 2005, quando Zylberstajn tentava “salvar” a Varig, ele havia dito que a empresa já estava morta. Mas depois aceitou o desafio de tentar recuperá-la. A primeira providência de Zylbersztajn foi se cercar de profissionais que, de uma forma ou de outra, estavam ligados ao PSDB. O primeiro a chegar foi Omar Carneiro da Cunha, ex-presidente da Shell e filiado ao partido. Depois vieram Eleazar de Carvalho, ex-presidente do BNDES na gestão FHC; Marcos Azambuja, que foi embaixador do Brasil na França no governo FHC, e o brigadeiro Sérgio Ferolla, ex-ministro do Superior Tribunal Militar. Para a vaga de presidente executivo foi escolhido Henrique Neves, ex-presidente da Brasil Telecom. Homem de confiança de Zylbersztajn.


 


Foi esta turma que planejou as condições para a venda da Varig. Entre as propostas apresentadas por eles estavam a do empresário Nelson Tanure; a da Ocean Air, de German Efromovich; da empresa aérea TAP; do grupo português Pestana; de um fundo de investimentos do Texas; de outro grupo português ligado a um fundo chamado Fonditec e financiado pela seita católica Opus Dei, a mesma de Gerlado Alckmin. Havia ainda propostas de compra da Varig feitas pela companhia aérea Avianca e até uma da associação dos funcionários da própria Varig.


 


Clóvis Carvalho


 


Mas antes do time tucano montado pelo ex-genro de FHC entrar na jogada milionária, um outro tucano de alta plumagem também deixou suas impressões digitais na massa falida da empresa.


 


Foi ninguém menos que o ex-chefe da Casa Civil do Governo Fernando Henrique, Clóvis Carvalho, quem esteve durante quatro meses sentado na cadeira do Conselho de Administração da Varig. Ao seu lado estava o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário da Camex (Câmara de Comércio Exterior), Arnim Lore (que foi presidente executivo da Varig), Luiz Espínola e Joaquim Fernandes Santos.


 


Eles foram empossados no comando da empresa em 2002, enquanto a companhia faturava anualmente R$ 8 bilhões e liderava a aviação comercial brasileira doméstica e internacional.


 


No comando da Varig, os representantes oriundos do governo tucano elaboraram um documento no qual os acionistas renunciavam a uma série de direitos, passando a serem meros espectadores da gestão que eles passariam a ter na companhia.


 


Pouco tempo depois, a Varig afundava numa crise sem precedentes que nem mesmo os técnicos tucanos, paladinos da excelência administrativa e do choque de gestão conseguiram resolver.


 


Agora que Denise Abreu resolveu voltar suas baterias contra o governo Lula, parlamentares tucanos querem que a ministra Dilma vá ao Congresso explicar por que a Varig foi vendida por uma valor abaixo do que era esperado. Mas, pelo histórico recente da Varig, parece que quem deve explicações são os próprios tucanos.