Encontro sobre energia eólica discute importância e gargalos do setor

Somente com a energia eólica, o Brasil tem potencial para superar em 50% toda a oferta de energia elétrica atual do País, e a maior parte desse potencial está no Nordeste. A afirmativa é do governador do Ceará, Cid Gomes, durante o evento “Diálogo sobre e

Com o objetivo de identificar os gargalos e oportunidades do setor, o encontro reuniu empreendedores do setor, representantes de bancos e federações de indústrias e autoridades políticas, entre elas o presidente do Senado, Garibaldi Alves, o Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, e os governadores Jacques Wagner (BA), Marcelo Déda (SE), Eduardo Campos (PE), Wellington Dias (PI) e Cid Gomes (CE). Todos os governadores manifestaram o desejo de aumentar a oferta de energia eólica no Nodeste.


 


O presidente do BNB, Roberto Smith, abriu a rodada de apresentações destacando a atual conjuntura de aumento do consumo de energia no Nordeste, em contraste com a redução da capacidade temporal de armazenagem hídrica e do conseqüente uso de energia termelétrica, que é mais suja e cara. Ou seja, o uso da eólica como fonte de energia complementar pouparia os estoques hídricos nos períodos de seca, diminuindo a dependência nacional (pois o sistema brasileiro é interligado) de fontes termelétricas, reduzindo também o custo da energia no mercado livre.


 


Apesar de todas as vantagens proporcionadas pela eólica, o setor ainda não está se desenvolvendo de forma satisfatória. “Marco regulatório adequado, confiabilidade e visão de futuro são condições indispensáveis para que os agentes financeiros possam investir tanto nos parques eólicos como na estruturação de toda a cadeia produtiva, impactando diretamente no desenvolvimento industrial”, declarou o presidente.


 


Segundo Smith, é necessário um cluster (grupo) de fornecedores de equipamentos para energia eólica no Nordeste, bem como a sinalização do Governo em promover a permanente compra de energia eólica, com estabelecimento de leilões regulares específicos. “É fundamental a definição de uma política de participação mais expressiva e permanente da energia eólica na matriz energética brasileira. Para isso, é essencial que o Governo, junto com os agentes do setor, analise seus gargalos, verificando a possibilidade de desoneração tributária das centenas de componentes nacionais o produto nacional ante o importado”, concluiu.


 


Leilão específico



No início de 2009, o Governo Federal promoverá leilão específico para compra de energia eólica. A decisão foi anunciada pelo ministro das Minas e Energias, Edison Lobão, que também garantiu que o Governo pretende realizar, anualmente, novos leilões específicos. Ele concordou em realizar outra reunião com os presentes para a consecução do desenvolvimento da eólica no País.


 


Para o ministro, nenhum país possui uma matriz energética tão renovável e limpa quanto o Brasil (46%). Ele destacou o caráter complementar da energia eólica em relação às demais formas de energia. Segundo ele, os ventos costumam ser mais fortes quando, por exemplo, há escassez de chuvas.


 


Lobão ressaltou o grande potencial para energia eólica de estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Maranhão, Sergipe, entre outros. No Ceará, ele destacou o projeto Asa Branca, em pleno oceano atlântico. Tecnicamente, no entanto, o especialista Paulo Ludmer (diretor da Associação Brasileira de Energia Eólica) garante que, em terra firme, os primeiros projetos serão mais baratos.


 


Ainda segundo o ministro, o Brasil possui um modelo energético moderno, que muitos países avançados procuram copiar. Ele salientou ainda que o Brasil não terá mais surpresas no abastecimento de energia elétrica.


 


Limpa e barata


 


Além de limpa e renovável, a energia produzida nos parques eólicos é de rápida implantação, o que permitiria a superação de gargalos energéticos já para os próximos três anos. Enquanto o preço da energia térmica é de R$ 570/MWh, o da eólica chega a apenas R$ 200/MWh e se mostra em tendência de queda. “Essas informações desfazem o mito de que a eólica seria uma energia cara e com baixo fator de capacidade”, reforçou o governador Cid Gomes.


 


O BNB vem investindo não só na construção de parques eólicos, mas na estruturação do setor. Entre obras concluídas, projetos aprovados e em análise, o Banco soma investimentos de R$ 2,4 bilhões, sendo R$ 1,02 bilhão com recursos do FNE e R$ 973,5 milhões do FDNE. São 12 projetos, que se concentram no Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. No total, o BNB já investiu R$ 2,7 bilhões em energia alternativa, incluindo eólica, biomassa e PCH (Pequenas Centrais Hidroelétricas).


 


Mitos e gargalos


 


“A discussão hoje sobre energia eólica não passa mais pelo seu custo, mas sim pelo seu desenvolvimento seguro e sustentável (ou seja, previsibilidade enquanto negócio)”. As palavras do presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEE), Lauro Fiúza, deram o tom de sua apresentação no evento. Com a palestra “Mitos e Gargalos da Energia Eólica no Brasil”, Fiúza destacou a trajetória do petróleo como principal fonte de energia no século XX e a necessidade de energias “complementares”, como prefere dizer ao referir-se à energia eólica. “A eólica é uma das poucas formas de geração de energia elétrica que tem o seu custo pautado exclusivamente no investimento”, afirmou. “A partir daí, não há flutuação de preço, não há aumento de custo, ao contrário do que acontece com outras formas de energia que dependem de combustíveis fósseis”, concluiu.


 


O presidente da ABEE ainda discutiu sobre alguns “mitos” que, segundo ele, são recorrentes no debate sobre a energia eólica. Um deles seria a dependência de projetos de energia eólica de máquinas produzidas no exterior – as termelétricas a gás, por exemplo, são totalmente importadas. Para Fiúza, o Brasil pode aproveitar-se da tecnologia desenvolvida em outros países para destacar-se também como grande fabricante desses equipamentos. “Temos identificado que existem pelo menos 1000 indústrias no Brasil que poderão entrar um programa desses [de produção do maquinário]”, afirmou Fiúza. “A inserção da energia eólica na matriz energética brasileira será certamente mais uma decisão estratégica que promoverá o desenvolvimento econômico e social do Brasil”, disse.


 


 


Fonte: Banco do Nordeste