Valter Pomar: direita boliviana quer pretexto para guerra civil

Setores da oposição de direita boliviana parecem ter escolhido o caminho do confronto, provocando o governo para que reprima as manifestações, esperando assim criar um pretexto para dividir as forças armadas e iniciar uma guerra civil. Comenta-se

10 de agosto de 2008, domingo, Bolívia: a oposição de direita perde o referendo revocatório. Mas não foi esmagada: além de seguir contando com forte poderio econômico e midiático, obteve maioria eleitoral em vários estados e um importante percentual nacional.



Diante deste resultado, a oposição poderia escolher entre dois caminhos principais. O primeiro deles era reconhecer a legitimidade do governo Evo Morales e aceitar o convite, feito por este, para negociar.



O segundo caminho era dar início a um processo de desobediência, provocando o governo para que reprima as manifestações, esperando assim criar um pretexto para dividir as forças armadas e iniciar uma guerra civil.



Setores da oposição de direita boliviana parecem ter escolhido este segundo caminho. Comenta-se abertamente que têm o respaldo da embaixada norte-americana. Contam até com a torcida de parcelas da mídia brasileira, que denunciou o governo Evo como suposta “ameaça ao fornecimento de gás para o Brasil”, mas que agora trata com grande parcimônia as ações de setores fascistas.



9 de setembro de 1973, domingo, Chile: o presidente Salvador Allende comunica ao general Pinochet que convocaria um referendo para o país decidir democraticamente que caminho seguir. O anúncio seria feito no dia 10, mas foi adiado para o dia 11 de setembro.



O povo não foi convocado para votar, pois no próprio dia 11 um golpe derruba Allende, coroando o processo de desestabilização iniciado pela direita civil e militar, no exato momento em que a Unidade Popular venceu as eleições presidenciais de 1970.



A oposição de direita chilena escolheu o caminho do golpe. Está fartamente comprovado que o governo norte-americano participou do início ao fim da empreitada, inclusive financiando a “imprensa livre”, partidos políticos e dirigentes sociais de direita.



4 de novembro de 2008, terça-feira, Estados Unidos: eleição do novo presidente norte-americano. Sete candidatos disputam o pleito, mas apenas dois têm chances de vencer: John McCain (republicano) e Barack Obama (democrata). A maior parte dos analistas espera uma vitória por margem apertada.



O fato de um republicano poder vencer a eleição, mesmo depois do desastroso governo Bush, serve como alerta para quem nutre muitas expectativas acerca do confuso e oligárquico processo que escolherá o próximo governo norte-americano.



Para além dos imensos interesses imperiais e empresariais envolvidos, aguçados pelo ambiente de crise interna e instabilidade externa, existe o histórico de intervenção norte-americana, tanto por parte de presidentes democratas, quanto de republicanos.



Este é um dos motivos pelos quais o Partido dos Trabalhadores não apóia nenhum dos candidatos que disputam a presidência dos Estados Unidos. Mas esta atitude não significa desconhecer as diferenças entre as candidaturas, nem tampouco implica em passividade.



Qualquer que seja o novo presidente dos Estados Unidos, ele jogará importante papel na conjuntura internacional e latino-americana. Ao Partido dos Trabalhadores, interessa manter canais abertos e institucionais de contato, com variados setores daquele país, inclusive com quem estiver no governo.



Sem confundir diplomacia com identidade ideológica e sem alimentar ilusões, uma das questões fundamentais é trabalhar para impedir, ou pelo menos dificultar ao máximo, a interferência dos Estados Unidos na política dos países latino-americanos.



Sem apoio ao Norte, a oposição de direita existente em cada país latino-americano fica do seu tamanho real (que está longe de ser desprezível). E fica mais repetir o roteiro golpista, amparado na concepção expressa por Henry Kissinger, secretário de Estado do governo norte-americano quando Allende foi eleito: “não vejo razão pela qual se deve permitir o Chile se tornar marxista pela irresponsabilidade de seu povo”.



*Valter Pomar é secretário de Relações Internacionais do PT


Fonte: www.pt.org.br