Artigo: “Os Lacerdas da História”.
Este processo eleitoral que a cidade de Belo Horizonte vem vivenciando trouxe-me uma instigante reflexão com relação à história e às figuras políticas. Mesmo sendo historiador, me dou o direito, neste momento, de por meio dos referenciais da História aven
Publicado 16/09/2008 14:37 | Editado 04/03/2020 16:51
Neste sentido, temos o candidato oficial à prefeitura de Belo Horizonte, o Lacerda, vulgo Picolé de Chuchu Mineiro. Fez-me relembrar de um outro Lacerda marcado em nossa história republicana. E mais, as semelhanças não são meramente pelo homônimo com o famoso Carlos Lacerda ou por suas figuras de Picolé de Chuchu, sem gosto, sem graça, sem alma.
Como recordei do “Corvo”, o famoso Carlos Lacerda, era considerado o inimigo político número um de Getúlio Vargas, mas também foi ferrenho opositor de Juscelino Kubitschek. Foi Carlos Lacerda o grande articulador, juntamente com os militares, que envolto de um discurso revolucionário (para ele e seus pares), impôs a todo custo a renúncia do presidente Vargas, levando-o ao suicídio.
Isso todos nós sabemos, e o que isso teria a ver o desconhecido Lacerda candidato a prefeitura de Belo Horizonte? Assim como o famoso Lacerda, o atual, em seu programa eleitoral contou-nos sua história de vida. De líder estudantil “revolucionário”, preso na ditadura militar, ao ser solto, estando desempregado e desamparado, tomou a sábia decisão de tornar-se empresário. E assim como nos contos de Pinóquio, ou na metáfora do grão em grão se enche o papo, tornou-se milionário. Mas o que o referido não conta é como conseguiu “encher o papo”. Entretanto o jornalista Paulo Peixoto da Folha de São Paulo nos ajuda a esclarecer sua “estória” de vida: “a vida empresarial de Lacerda é marcada pelo regime militar (1964-1985): inicialmente uma vítima da ditadura, depois passou a receber ajuda dos militares e, em 1973, se tornou empresário do ramo de telecomunicações com a colaboração de oficiais ligados ao Exército.”(Folha de São Paulo, 31 de agosto de 2008)
Suas semelhanças vão mais do que da couraça de revolucionário a reacionário. O antigo Lacerda, dono do jornal Tribuna da Imprensa, fazia uso da mídia para articular suas manobras golpistas. Como não lembrar de suas tentativas de impedir a posse do presidente JK, evitada pelo General Teixeira Lott e, as denúncias panfletárias da construção de Brasília?
Está certo que o atual Lacerda não é dono de jornal e que também não está tentando impugnar nenhuma eleição. Mas por acaso, alguém leu em algum jornal do Estado de Minas Gerais, ou em qualquer outro meio de comunicação, alguma matéria vinculando o atual Lacerda com o caso do mensalão? Algum veículo de comunicação nos informou que ele foi o maior doador da campanha de Ciro Gomes em 2002? Alguém viu a lista dos 40 “mensaleiros” na qual está o nome de Márcio Lacerda? Fato que o levou a perder o seu cargo no Ministério da Integração Nacional!
Tudo bem que o atual Lacerda não é tão bem articulado como o antigo Lacerda. Mas alguém viu esse sujeito em alguns dos debates públicos na capital mineira?
Ah! As semelhanças não param por aí. O nome do partido político do antigo Lacerda era União Democrática Nacional (UDN). Que de democrática tinha pouco. Tendo em vista as várias tentativas de golpe, em 1950, 1954, 1955 e que se repetiram em 1964, quando o seu partido defendeu a intervenção dos militares para o estabelecimento da “ordem”. Por sua vez, o Picolé de Chuchu Mineiro é membro do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Por favor, alguém me ajude! O que o partido do Lacerda tem de Socialista? Ou alguém acredita que ele defende a Revolução Bolivariana?
Não pretendo me prolongar nessa aventura da história homônima. Mas relembrando um filósofo alemão (seu nome não é Lacerda), que analisando os processos revolucionários ocorridos na França no século XIX, discorreu: a história quando se repete a primeira vez é uma tragédia, a segunda é uma farsa. (KARL MARX: O 18 Brumário).
Creio que o antigo Lacerda já tenha causado tragédias mil a nossa história em nome de seus interesses escusos. Por isso conclamo que não deixemos que a história se repita e que essa farsa vivenciada em nossa cidade se torne um fato histórico em nossa vida. Cidadãos de toda Belo Horizonte “Uni-vos”!
Professor Reinaldo de Lima Reis Júnior.