África do Sul: pobres esperançosos com troca de presidente

Trabalhadores e pobres da África do Sul viram uma “nova aurora” em seguida à troca de liderança dentro do partido dominante do país, o Congresso Nacional Africano.



Por Dennis Laumann, para o People's Weekly World

Há poucos meses de cumprir seu segundo mandato, Thabo Mbeki renunciou ao cargo de presidente da África do Sul, obedecendo a uma determinação de seu partido para que desocupasse o cargo.



A decisão do Comitê Nacional Executivo do partido veio em seguida à decisão da Justiça do país, que encerrou um processo de fraude e suborno contra o presidente do CNA, Jacob Zuma. O Juiz Chris Nicholson apontou em seu veredito que o caso Zuma, como ficou conhecido, havia sofrido interferência política direta administração do presidente Mbeki.



Zuma é considerado o candidato natural do CNA para as próximas eleições presidenciais do país, mas como ele não é membro do parlamento, não poderia ser escolhido neste momento para ocupar o cargo vago da presidência.



Ao invés dele, um veterano ativista do CNA e ex-líder sindical substituirá Mbeki. Kgalema Motlanthe, um político profundamente respeitado no país, é, como Zuma, da ala esquerda, majoritária no CNA.


O terceiro presidente da nação, desde o fim do apartheid há 14 anos, Motlanthe foi empossado em 25 de setembro passado. Em seu primeiro discurso à nação, proclamou: “Nos últimos dias, provamos a durabilidade de nos ordem constitucional e a vibração de nossa democracia”.



Motlanthe é considerado um líder de transição até Zuma concorrer ao cargo no próximo ano, quando existem poucas dúvidas em relação à sua vitória. Mas, desde que a Procuradoria Nacional ameaçõu apelar do veredito do Juiz Nicholson, a eleição de Zuma parece que terá mais complicações em mais uma batalha judicial. Em tal situação, Motlanthe pode emergir como um candidato alternativo do CNA.



De fato, foi a notícia de que os advogados apelariam e tentariam reabrir o caso contra Zuma que provocou a ação do partido contra Mbeki. Os simpatizantes de Zuma acreditavam que Mbeki estava procurando vingar-se de Zuma desde que este fora demitido do cargo de vice-presidente da África do Sul em 2005.



A ala que apóia Zuma retirou Mbeki de sua posição como presidente da CNA e votou em Zuma para substituí-lo até dezembro, durante a convenção do partido. Desde então, Mbeki é visto como um presidente sem mandato.



Enquanto o noticiário focava as acusações de corrupção contra Zuma e sua rivalidade com Mbeki, os principais fatores que determinaram a queda de Mbeki foram os problemas econômicos e sociais fundamentais que afetavam os trabalhadores da África do Sul.



Durante sua presidência, Mbeki favorecia a “disciplina fiscal” e outras medidas pedidas por defensores do neoliberalismo, enquanto a cirse vivida pelos trabalhadores se intensificava. Blade Nzimande, secretário-geral do Partido Comunista Sul Africano, afirmou em um discurso feito durante o último fim de semana, na Conferência Nacional do PC, que “o capital monopolista em nosso país assegurou uma relativa hegemonia sobre a direção da nossa sociedade e do nosso estado no pós-apartheid. essa hegemonia foi garantida, em parte, graças ao grupo de liderança que rodeava o camarada Mbeki”.



Esse discurso antecipou que o novo governo deverá focar mais atenção à criação de empregos, à melhoria da saúde pública e à construção de moradias. O presidente Motlanthe afirmou que seu governo está comprometido a reduzir a pobreza e o desemprego à metade até 2014.



Como resultado das mudanças na política, agora ficaram suspensas as negociações entre a oposição o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe pela divisão de poder no país, questão que tinha Mbeki como mediador.



Segundo reportou a mídia, Mugabe afirmou que a saída de Mbeki teria sido “devastadora”. Outro fato celebrado com muita festa pelos ativistas sul-africanos da luta contra a Aids foi a demissão do ministro de saúde escolhido por Mbeki, Manto Tshabalala-Msimang, que tornou-se conhecido por ter dito que a Aids era tratável com uma beberagem composta por alho, limão e beterraba.



O primeiro presidente democraticamente eleito da nação, Nelson Mandela, em uma carta ao novo presidente, afirmou que o país está “em boas mãos”. Mandela descreve Motlanthe como “um líder calmo, firme e com princípios, alguém que coloca a razão acima da emoção e alguém que procura unir ao invés de dividir”.


 


O Partido Comunista Sul Africano, uma das três organizações da Aliança Tripartite, formada também pelo CNA e pelo Congresso Sul Africano de Sindicatos (Cosatu), também deu boas-vindas ao novo presidente, “um humilde filho de operários de nosso país, que realmente compreende as necessidades e as aspirações das pessoas comuns de nossa nação”. Nzmande, líder do partido, disse em uma conferência recente do PCSA que a troca de liderança “marcará uma nova aurora para a nossa nação”, criando a oportunidade de “levar adiante uma agende de luta contra a pobreza, de criação de empregos e construção de uma vida melhor para nosso povo”.


 


 


Fonte: People's Weekly Party