Nudez castigada: o manifesto de Pedro Cardoso contra o nu

No elenco de Todo Mundo Tem Problemas Sexuais, de Domingos de Oliveira, o ator Pedro Cardoso aproveitou a primeira sessão do filme, na quarta-feira (8), no Festival do Rio, para fazer um discurso antinudez no cinema e na TV. A pedido de Cardoso,

“Minha tese: a nudez impede a comédia e o próprio ato de representar. Quando estou nu, sou sempre eu a estar nu, e nunca o personagem”, acrescenta. Segundo ele, nas mãos das “empresas que exploram a comunicação em massa”, a nudez — que fora “uma conquista contra excessos da repressão à vida sexual” — tornou-se “apenas um modo de atrair público”.


 


Cardoso apontou “conivência de escritores e diretores — alguns deles, em algum momento, verdadeiros artistas; outros, nunca!”. Disse que “é sobre as atrizes que a opressão da pornografia é exercida com maior violência”. E afirmou que “é freqüente que cineastas de primeiro filme exibam a amigos, em sessões privê, cenas ousadas que conseguiram arrancar de determinada atriz”.


 


O artista citou ter feito “algumas pequenas cenas de nudez parcial” e disse que se sentiu “muito mal” com a experiência. “Tirar a roupa não é uma exigência do ofício de ator, e sim da indústria da pornografia.” Ele afirmou ambicionar o dia “em que não teremos medo do YouTube e das sessões nostalgia do Canal Brasil”. O Canal Brasil exibe atualmente a pornochanchada Os Bons Tempos Voltaram — Vamos Gozar Outra Vez (1985), de Ivan Cardoso e John Herbert, com Pedro Cardoso no elenco.


 


Ao final do manifesto, o ator disse que o fato de namorar uma atriz acentuou sua preocupação com o tema, por ver a mulher que ama “ter que diariamente se defender no trabalho contra a pornografia reinante”. De acordo com a imprensa de celebridades, Cardoso namora a atriz Graziella Moretto, que estava presente à sessão. Questionado a respeito, Cardoso disse: “Não respondo nenhuma pergunta sobre minha vida particular”.


 


Graziella está no ar na novela das sete da Globo, Três Irmãs, no papel de Valéria, descrita como “mulher fatal dos pés à cabeça” pelo site da produção. A atriz fez sua primeira cena de nudez no cinema no filme Feliz Natal, que corresponde à estréia na direção de longas do ator Selton Mello. O filme será lançado no dia 21 de novembro.


 


A cena em que Graziella fica nua é quando sua personagem, após um desastroso Natal em família, finalmente vê sua casa sossegada, apaga as luzes e, sozinha em seu quarto, olha-se despida no espelho. Questionada se arrepende-se de ter feito a cena, a atriz responde: “Eu me arrependo não de uma cena específica, mas de ter me submetido a situações em que me senti constrangida a fazer determinadas cenas que afrontavam meu próprio pudor”.


 


Graziella afirmou concordar “integralmente com o texto do Pedro Cardoso”, que está em um site na internet. Disse também desconhecer “ator ou atriz que não se sinta pessoalmente aviltado com o sucateamento da profissão e a tênue linha que hoje nos separa da pornografia”.


 


Apoio de Cláudia Abreu


 


A atriz Cláudia Abreu — que integra o elenco de Todo Mundo Tem Problemas Sexuais — aderiu ao manifesto antinudez do colega Pedro Cardoso. Após o discurso do ator, no Cine Odeon, ela foi ao microfone e disse: “Queria dizer que sou atriz e endosso tudo o que ele falou. Passei por uma situação recentemente. Ele está completamente certo”.


 


Cláudia é uma das protagonistas de Três Irmãs. Ainda está em cartaz nos cinemas com Os Desafinados, de Walter Lima Jr., em que faz uma cena de nudez e outra de sexo com o personagem de Rodrigo Santoro.


 


A Folha de S.Paulo perguntou se a declaração era referência ao filme de Lima Jr., mas a atriz disse tratar-se de menção a “experiências recentes”, sem especificar quais. Lima Jr. rebate: “Acho desproposital ela se colocar como vítima, até porque ela não foi surpreendida por isso. Ela leu o roteiro e estabeleceu limites, que foram obedecidos”.


 


O cineasta explica a cena em que Abreu se despe, na frente dos Desafinados: “Ela toma uma atitude própria de uma mulher do momento, uma mulher moderna, que não está tutelada pela vontade do homem. Estou falando de 1962, de um momento em que o comportamento vive uma revolução. Isso não quer dizer que eu tenha desrespeitado ninguém. E a opinião de um ator da TV Globo não vai mudar a história”.


 


Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo