Crise pode ajudar na integração energética da América do Sul

A crise que afeta o capitalismo mundial deve ser aproveitada estrategicamente para exploração das oportunidades de crescimento e integração dos países sul-americanos e sair do discurso para a prática na questão energética, avançando no desenvolvimento

O evento, promovido  pelo Parlamento do Mercosul (Parlasul) e que reuniu parlamentares e especialistas do Paraguai, Uruguai, Brasil, Argentina e Venezuela, concluiu, em documento oficial, que a integração energética deve ser utilizada como ferramenta importante na promoção do desenvolvimento social e econômico, assim como a erradicação da pobreza, alcançando uma articulação para diminuir as assimetrias existentes na região.



Entre os temas debatidos, estiveram as formas de substituição dos hidrocarbonetos, a situação atual das reservas mundiais de petróleo, o marco jurídico necessário para viabilizar a “transição energética” e o impacto da produção de energia sobre os preços dos alimentos.



Vice-presidente da Comissão de Infra-Estrutura do Parlamento do Mercosul, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) avaliou que os parlamentares cumpriram de forma positiva a jornada de trabalho em Caracas. “Aprovamos uma declaração final, contendo uma série de recomendações em torno dos recursos energéticos na região, de forma que saímos de Caracas com a grande tarefa de consolidar, junto aos parlamentos e governos nacionais, a construção de uma política coesa para a integração energética que alcance êxito”, afirmou.



Processo inadiável



O documento aprovado no evento considera que a atual situação de crise financeira emergente nos Estados Unidos e na Europa, a alta no preço do petróleo e dos alimentos, somados às mudanças climáticas, contribuem para a possibilidade de coordenar linhas de ação conjunta para o adequado tratamento dos recursos energéticos sul-americanos, representando uma grande oportunidade para o fortalecimento do inadiável processo de integração regional.



Entre as propostas apresentadas está a criação do Observatório Energético do Parlamento do Mercosul, composto por parlamentares do Mercosul e por técnicos para elaborar diagnósticos, propostas e informativos sobre a questão energética para subsidiar os trabalhos do Parlamento do Mercosul.



Após o encerramento do Seminário em Caracas, os parlamentares do Mercosul realizaram ainda uma visita técnica às instalações da PDVSA, estatal venezuelana de petróleo.



Fonte de oportunidades



Na abertura do Seminário, o embaixador do Brasil, Antônio José Simões, lembrou que, historicamente, as crises e guerras são fontes de oportunidades, citando como exemplo o final da Segunda Guerra Mundial, quando a indústria siderúrgica brasileira conheceu forte impulso.



“Quanto mais somos dependentes dos países ricos, mais a crise nos afeta. Não se trata de romper relações, mas de apostar na diversificação e aumentar as trocas com nossos países vizinhos. E é imprescindível fazer isso também no campo energético”, avaliou o embaixador.



Também destacou que existem grandes projetos de integração em andamento e que podem ser desenvolvidos muitos outros, ainda não explorados, como energias alternativas: energia solar, eólica e biocombustíveis.



Outro especialista brasileiro convidado para o debate, o diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério das Minas e Energia, Ricardo Dornelles, apontou o uso do álcool, mais especificamente do etanol, para combater os efeitos dos combustíveis  que provocam a destruição da camada de ozônio.



Dornelles destacou que o Brasil possui condições para a produção de biocombustíveis: “Temos cerca de 100 milhões de hectares cultiváveis, permitindo a produção de cana de açúcar e outros produtos, matéria-prima para o etanol”.



De Brasília
Aline Pizatto
Colaborou: Márcia Xavier