Fórum Social das Américas reforça unidade dos movimentos

O Fórum Social das Américas (FSA), realizado nos dias 7 a 12 de outubro na Guatemala, foi um passo importante na direção da unidade dos movimentos sociais no continente. É o que sustenta o secretário adjunto de Relações Internacionais da CTB, João Batista

Batista foi o representante da central no evento, que tratou também do apoio e da solidariedade dos movimentos a governantes progressistas, como o presidente da Bolívia, Evo Morales, bem como ao povo cubano. “Creio que as bandeiras antiimperialistas constituem um ponto comum para avançar no sentido da unidade”, opina Batista.


 


Confira abaixo a íntegra da entrevista.


 


Como você avalia o Fórum Social das Américas?
Em primeiro lugar, cumpre assinalar que o FSA, realizado na Universidade de San Carlos da Guatemala, reuniu mais de 7 mil delegados e delgadas de diversos países americanos, em especial do Caribe. Teve mais de 350 atividades, com muitos debates, reflexões, conversações, seminários e mesas de diálogo. Discutiu-se um pouco de tudo, com destaque para os problemas relacionados ao processo de mudança e transição política em curso, socialismo, crise do capitalismo e diversidade cultural.


 


Houve uma presença forte dos povos indígenas, homens, mulheres, jovens, camponeses, que contrasta com a composição social de outros encontros realizados pelos movimentos sociais. Creio que esta foi uma característica marcante do FSA, sinal de uma crescente politização da população mais pobre e dos movimentos sociais. A eleição de Evo Morales na Bolívia foi emblemática da emergência dos povos indígenas como sujeitos ativos da história e protagonistas da transformação social.


 


Qual foi o saldo político do fórum?
O segundo ponto a ressaltar é o caráter antiimperialista e antineoliberal do evento. Embora os fóruns sociais tratem de uma multiplicidade de temas, intercâmbio de experiências de diferentes setores da sociedade, as articulações principais foram concentradas na busca de uma plataforma comum antiimperialista. A manifestação de apoio a Evo Morales, ocorrida durante o evento, no dia 9, foi um momento proeminente do encontro. O centro de todas as intervenções, feitas por lideranças dos movimentos sociais, foi a defesa firme das mudanças em curso na América Latina, tendo a Bolívia como destacado exemplo.


 


Os manifestantes aprovaram uma forma concreta de manifestação de solidariedade a Morales, que é a realização do encontro dos movimentos sociais em Santa Cruz, na Bolívia, no final deste mês. O Brasil foi representado no ato pelo companheiro Joaquim Piñero, dirigente do MST, e por Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres, que fizeram ricas intervenções e representaram muito bem nosso país.


 


Participamos também de forma mais ativa num encontro dos movimentos sociais da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), que conta com grupos de trabalho mesmo em países que não são filiados à ALBA, como é o caso do Brasil, onde a CTB participa da articulação.


 


Destacamos em nossa intervenção a necessidade da politização dos movimentos sociais, em primeiro lugar em apoio às mudanças políticas e sociais que redundaram em governos democráticos e até mesmo revolucionários no continente — Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua. Entendemos que a Alba tem uma importância estratégica, ao postular uma integração em bases mais avançadas, com valores socialistas, que não se resume a acordos comerciais e, em vez do individualismo e da competição neoliberal, valoriza o princípio da solidariedade e complementaridade. Isto contribui para a politização e unidade dos movimentos sociais na região.


 


Em terceiro lugar, realçamos a necessidade de organizar grupos de trabalho nos países para desenvolver formas concretas de solidariedade e apoio político a esses governos. A FSM (Federação Sindical Mundial) organizou uma oficina sobre a tendência à criminalização dos movimentos sociais, liderada pelo companheiro Ramon Cardona, dirigente da FSM para a América, que contou com a presença de importantes organizações da região, como a Federação Nacional dos Trabalhadores da Nicarágua (FNT).


 


O FSA abordou a necessidade de intensificar a mobilização em apoio e solidariedade a Cuba?
Sim, o fórum tomou uma posição clara a este respeito, exigindo o fim imediato do bloqueio a Cuba e acentuando a necessidade de intensificar a solidariedade para com a Ilha, após o país ter sido devastado pelos furacões Gustav e Ike.


 


O fórum também criticou de forma enérgica a reativação da 4ª Frota de Intervenção dos EUA e aprovou um abaixo assinado, subscrito por todas as organizações representadas na Guatemala, condenando a conspiração golpista na Bolívia, manietada pelos EUA e com apoio das oligarquias reacionárias, e conferindo total solidariedade ao presidente Evo Morales. O abaixo-assinado será entregue a Morales no encontro continental dos movimentos sociais que será realizado em Santa Cruz no final deste mês.


 


Do Fórum Social das Américas saiu uma agenda concreta que passa pela mobilização dos movimentos sociais para a realização da Cúpula dos Povos em Salvador, no mês de dezembro, e também no Fórum Social Mundial, em janeiro do ano que vem. Tivemos também o prazer de presenciar belas atividades culturais dos indígenas no campo da música, artes plásticas, danças e rituais místicos, além de belas e combativas homenagens a Che Guevara, cujo o revolucionário passou parte de sua vida trabalhando na Guatemala.


 


E a participação dos movimentos sociais no processo de integração econômica e política das nações latino-americanas?
A importância da integração foi um tema freqüente nos debates, o que reflete o avanço político e social da América Latina. Temos o exemplo da Unasul, que deu uma resposta rápida e eficaz à tentativa de esquartejar a Bolívia. Mas é preciso ressaltar a necessidade de integração desde baixo, ou seja, com uma participação mais ativa dos movimentos sociais.


 


Isto nos remete ao desafio de conferir maior protagonismo à classe trabalhadora e aos movimentos sociais, sobretudo ao movimento sindical, no processo de mudança político em curso. Isto exige a construção de uma plataforma comum no continente e a união das organizações de caráter regional — como a Confederação Sindical das Américas (CSA) e a Federação Sindical Mundial para a América.


 


Creio que as bandeiras antiimperialistas constituem um ponto comum para avançar no sentido da unidade. Divididos não teremos força para nos colocar à altura do desafio histórico. A CTB entende e propõe que o fórum sindical que será realizado em Belém, no FSM (Fórum Social Mundial), deve ser convocado pelas duas centrais (CIS e FSM).