Altamiro Borges: Guerra das polícias e mentiras de Serra

Diante das cenas de guerra entre os grevistas da Polícia Civil e os soldados da Polícia Militar, em frente ao Palácio dos Bandeirantes, o governador José Serra revelou a sua mentalidade autoritária numa entrevista ao jornalista Luis Datena, da TV Bande

Em primeiro lugar, a greve da Polícia Civil não é coisa de uma minoria e nem uma aventura. Ela já dura um mês. Foi deflagrada em 13 de agosto após várias tentativas frustradas de diálogo com o governo José Serra. Segundo relatos da mídia, que nunca foi simpática ao movimento – as suas manchetes apelam sempre para os prejuízos à sociedade –, ele conseguiu adesão surpreendente, o que evidencia o grau de revolta da categoria. A Folha de S.Paulo chegou a noticiar a adesão de 80% nos distritos policiais da região metropolitana e de quase 100% nas delegacias do interior.



Intransigência e uso eleitoreiro



Em segundo lugar, a greve não tem vínculos orgânicos com qualquer central sindical ou partido político. Boa parte do comando do movimento, formado por delegados e investigadores, sempre esteve ligada ao partido governista, até por motivos óbvios de carreira. Não é para menos que os grevistas costumam cantarolar em suas manifestações o samba “você pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão”. Uma faixa sempre presente nos protestos diz: “PSDB, Pior Salário do Brasil”. As centrais sindicais apenas deram apoio à greve e vários parlamentares, inclusive tucanos, também estiveram presentes às manifestações para tentar evitar confrontos violentos.



Em terceiro lugar, o governo demonstrou total intransigência diante dos grevistas. Ciente de que o salário dos policiais está defasado, ele se recusou a atender a reivindicação de 15% de reajuste. Ofereceu apenas 6,2%, sem incorporar os adicionais, e fechou os canais de diálogo. Os grevistas até suspenderam o movimento por dois dias, numa tentativa de retomar as negociações, mas não amainaram a postura truculenta de Serra. “Não recebemos nenhuma proposta concreta”, criticou, na ocasião, Sérgio Roque, presidente da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo.



Até a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, presidida por um aliado do governador, Luiz D’Urso, emitiu nota criticando a intransigência. A OAB havia se oferecido para mediar as negociações, mas o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, sequer deu retorno à proposta – “o que é uma desconsideração com a instituição e com a própria classe profissional”. Agora, o truculento José Serra tenta encontrar bodes expiatórios e fazer uso eleitoreiro da greve para ajudar o seu candidato laranja à prefeitura da capital, o demo Gilberto Kassab.



*Altamiro Borges é jornalista, secretário nacional de Comunicação do PCdoB


 


Veja também o video com imagens do confronto:


– Briga de polícia: violência de Serra leva caos às ruas de SP