Santo André: operação da PM teve falhas, dizem especialistas
Depois de cem horas de negociação difícil e polêmica com o seqüestrador Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos, especialistas apontam pelo menos três falhas na operação, relaizada nesta sexta (18) em Santo André, comandada pela Polícia Militar de São Paul
Publicado 18/10/2008 22:28
A operação terminou nesta sexta, às 18h05m, com as reféns Nayara Rodrigues Vieira e Eloá Cristina Pimentel da Silva, ambas de 15 anos, baleadas. Para Marcos Du Val, instrutor há 10 anos da Swat em Dallas, nos Estados Unidos, a negociação prolongada foi o principal problema da ação da PM.
“Em casos passionais, não se demora tanto. Em Dallas, esperamos 24 horas. Se a negociação não evolui, invadimos”, compara. Segundo Du Val, o risco de morte, em casos de seqüestros passionais é maior.
“Quanto mais demora mais a pessoa pode pensar que vai sair na rua e virar chacota dos amigos porque perdeu a mulher ou foi traído. E, para evitar esse tipo de situação, é mais fácil ele matar a companheira e se suicidar em seguida”, argumenta, embora reconheça que o padrão de negociação adotado pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo é diferente daquele usado pela Swat.
Devolução de refém
Outro erro, para o instrutor, foi devolver a refém. “Foi um erro gravíssimo de quem estava gerenciando a crise. Também chamou a atenção o fato de a polícia não ter invadido o cativeiro depois de ouvir o primeiro disparo na manhã de sexta. Os especialistas, que elogiaram a entrada da PM à tarde, lembraram que somente o negociador teria condições de saber qual seria a melhor momento de invadir.
“No primeiro dia também houve disparos dentro e fora do apartamento. Naquele dia, não foi necessário entrar”, opina Jorge Lordello, especialista em segurança e pesquisador criminal. Para o especialista Hugo Tizaka, diretor executivo de uma consultoria internacional em segurança, o fato de uma das reféns voltar ao local de cativeiro é, no mínimo estranho.
“Este tipo de atitude ao meu ver é arriscada e incomum. Mas não temos todos os detalhes para saber porque isso aconteceu”, afirma Tizaka, que levanta a hipótese de que a jovem não tenha seguido o que foi acordado. “A polícia pode ter sido traída no que foi acordado com a jovem.”
Exposição na mídia
Outro ponto questionado pelo especialista é quanto a grande exposição do caso na mídia. “Em alguns países, a mídia é proibida de mostrar imagens ao vivo sobre um seqüestro. Nesse caso, o seqüestrador sabia de tudo que acontecia do lado de fora através da televisão. Isso influencia muito as suas decisões, é prejudicial.”
Apesar disso, Tizaka acredita que o procedimento da Polícia Militar foi correta. “Eles (policiais) devem negociar até o último momento para garantir que todos saiam bem. No entanto alguma atitude desesperada abreviou as negociações.”
No entender do especialista, o Gate tinha um plano de invasão, mas não estava pronto para colocá-lo em prática. “Todas as ações do Gate são sincronizadas. O fato de a escada não estar posicionada na janela no momento em que entraram pela porta mostra que tiveram que adiantar a operação devido a algo que ocorreu dentro do apartamento”, analisou.
Fonte: Globo Online