Santo André: operação da PM teve falhas, dizem especialistas

Depois de cem horas de negociação difícil e polêmica com o seqüestrador Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos, especialistas apontam pelo menos três falhas na operação, relaizada nesta sexta (18) em Santo André, comandada pela Polícia Militar de São Paul

A operação terminou nesta sexta, às 18h05m, com as reféns Nayara Rodrigues Vieira e Eloá Cristina Pimentel da Silva, ambas de 15 anos, baleadas. Para Marcos Du Val, instrutor há 10 anos da Swat em Dallas, nos Estados Unidos, a negociação prolongada foi o principal problema da ação da PM.


 


“Em casos passionais, não se demora tanto. Em Dallas, esperamos 24 horas. Se a negociação não evolui, invadimos”, compara. Segundo Du Val, o risco de morte, em casos de seqüestros passionais é maior. 


 


“Quanto mais demora mais a pessoa pode pensar que vai sair na rua e virar chacota dos amigos porque perdeu a mulher ou foi traído. E, para evitar esse tipo de situação, é mais fácil ele matar a companheira e se suicidar em seguida”, argumenta, embora reconheça que o padrão de negociação adotado pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo é diferente daquele usado pela Swat.


 


Devolução de refém


 


Outro erro, para o instrutor, foi devolver a refém. “Foi um erro gravíssimo de quem estava gerenciando a crise. Também chamou a atenção o fato de a polícia não ter invadido o cativeiro depois de ouvir o primeiro disparo na manhã de sexta. Os especialistas, que elogiaram a entrada da PM à tarde, lembraram que somente o negociador teria condições de saber qual seria a melhor momento de invadir.


 


“No primeiro dia também houve disparos dentro e fora do apartamento. Naquele dia, não foi necessário entrar”, opina Jorge Lordello, especialista em segurança e pesquisador criminal. Para o especialista Hugo Tizaka, diretor executivo de uma consultoria internacional em segurança, o fato de uma das reféns voltar ao local de cativeiro é, no mínimo estranho.


 


“Este tipo de atitude ao meu ver é arriscada e incomum. Mas não temos todos os detalhes para saber porque isso aconteceu”, afirma Tizaka, que levanta a hipótese de que a jovem não tenha seguido o que foi acordado. “A polícia pode ter sido traída no que foi acordado com a jovem.”


 


Exposição na mídia



 
Outro ponto questionado pelo especialista é quanto a grande exposição do caso na mídia. “Em alguns países, a mídia é proibida de mostrar imagens ao vivo sobre um seqüestro. Nesse caso, o seqüestrador sabia de tudo que acontecia do lado de fora através da televisão. Isso influencia muito as suas decisões, é prejudicial.”



 
Apesar disso, Tizaka acredita que o procedimento da Polícia Militar foi correta. “Eles (policiais) devem negociar até o último momento para garantir que todos saiam bem. No entanto alguma atitude desesperada abreviou as negociações.”


 


No entender do especialista, o Gate tinha um plano de invasão, mas não estava pronto para colocá-lo em prática. “Todas as ações do Gate são sincronizadas. O fato de a escada não estar posicionada na janela no momento em que entraram pela porta mostra que tiveram que adiantar a operação devido a algo que ocorreu dentro do apartamento”, analisou.


 


Fonte: Globo Online