Sérgio Dávila: 'W.', o filme, é melhor que W., o presidente

George W. Bush luta com todas as armas que ainda restam e o pouco tempo que sobra a sua Presidência para não entrar para a história apenas como aquele que deixará a seu sucessor não só a pior crise financeira das últimas décadas como duas guerras em an

Com foco na Guerra do Iraque, o longa pinta um retrato de um presidente despreparado que, movido por convicção religiosa e desejo de se livrar da sombra do pai, leva o país e o mundo a um dos conflitos mais equivocados da história recente.


 


Seria só mais uma crítica a Bush, não fosse o diretor uma voz ativa — polêmica e progressista, mas ativa — na discussão política norte-americana. Stone já mirou as lentes em outros dois presidentes americanos: JFK, sobre o processo que se seguiu ao assassinato do democrata em 1963, e Nixon, sobre o processo que levou à renúncia do republicano em 1974.


 


A repercussão em torno do primeiro levou uma comissão do Congresso a reexaminar as circunstâncias do crime. É pouco provável que algo tão dramático aconteça com W., pois os fatos não são inéditos e foram retirados, segundo Stone, de importantes livros de não-ficção — como a série do jornalista Bob Woodward sobre Bush.


 


Ainda assim, a obra já causa barulho. Jeb Bush, irmão do presidente, disse anteontem que a relação Bush pai-Bush filho tal como descrita no filme “não passa de uma porcaria de primeira qualidade”. Reclamou ainda que ninguém o contatou para entrevistas prévias.


 


Em W., o ex-governador da Flórida é retratado como a primeira opção do clã para continuar a linhagem de políticos, e a eleição de seu irmão como governador do Texas é recebida quase como um acidente. Stone se defendeu dizendo que era um retrato “justo e equilibrado” sobre a família.


 


Na pré-estréia, o diretor agradeceu “aos jornalistas investigativos”. “Muitos deles trabalharam muito, e esse primeiro rascunho que fizeram foi a base a partir da qual simplificamos e condensamos para fazer esse filme.”


 


Seu longa é uma obra de ficção e abusa das liberdades do gênero, como entrar na cabeça do presidente ao tentar justificar atos que permanecem insuficientemente justificados. É a parte mais dispensável. O melhor é a maneira com que apresenta os fatos relatados em tais livros e reportagens.


 


Empacotados num roteiro bem-feito, surpreendem ao relembrar o espectador a sucessão de desmandos, falta de comunicação e ligeireza que cercou a Guerra do Iraque.


 


A julgar por W., a história não será grata com o presidente. Mas, como o Bush real disse e o Bush ficcional (o ator Josh Brolin, em grande atuação) repete no filme: “História? Todos nós já estaremos mortos”.