Umberto Martins: As conseqüências da disparada do dólar

Um dos principais canais de comunicação da crise do capitalismo internacional, irradiada dos EUA, à economia brasileira é o mercado de câmbio. A disparada da moeda norte-americana é preocupante.



Por Umberto Martins*

Nesta terça-feira (21), o dólar comercial subiu 5,32%, cotado a R$ 2,238 para venda. Os três leilões que o Banco Central fez no mercado de câmbio não foram suficientes para reduzir a cotação da moeda.



A alta acumulada no mês é de 17,42%. No ano, chega a 25,94%. O BC realizou mais um leilão de swap cambial (contratos que trocam o rendimento em juros pela oscilação da moeda americana), com a venda de US$ 500,1 milhões, para atender à demanda do mercado. Depois, fez mais dois leilões de dólar à vista.



Efeitos controversos



Os efeitos da alta do dólar e conseqüente depreciação do real são contraditórios. Se, de um lado, o fenômeno beneficia os exportadores, de outro constitui uma série ameaça à estabilidade econômica do Brasil.



Em primeiro lugar, por refletir a fuga de capitais externos aplicados por aqui (sobretudo de curto prazo), tem um impacto negativo sobre as reservas, pois induz o BC a vender parte das suas economias em dólares para cobrir as remessas dos investidores e impedir uma depreciação maior do real, num duelo com o mercado que ameniza a queda (nem tanto), mas até agora não conseguiu estabilizar a taxa de câmbio.



Menos US$ 6 bi nas reservas



Felizmente, as reservas estão num patamar confortável, ainda superior a 200 bilhões de dólares, mas tendem a baixar significativamente se a sangria de riqueza para o exterior (na forma monetária) não for interrompida. Sinal disto é que o valor das reservas declinou de 207,2 bilhões de dólares em 2 de outubro para US$ 201,2 bilhões (conforme informações do BC), o que configura uma perda de US$ 6 bilhões em poucos dias. Não será difícil concluir que, neste ritmo, as coisas vão de mal a pior e podem evoluir para uma crise cambial no futuro.



Taxa de investimento



Muitos economistas contestam a eficácia da venda de dólares a vista pelo Banco Central, que estaria beneficiando apenas a especulação. Segundo informações divulgadas nesta terça-feira (21-10) pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, a série de operações realizadas no mercado de câmbios já consumiu US$ 22,8 bilhões, sendo que US$ 3,2 bilhões foram extraídos das reservas.



Além de comprometer nossas reservas, a alta do dólar tem um impacto negativo sobre os preços internos, estimulando a inflação. Outro problema se relaciona às importações, que ficam mais caras e devem desacelerar. Geralmente tal efeito é percebido como positivo, mas a verdade é que boa parte das mercadorias importadas pelo Brasil são máquinas, equipamentos e matérias-primas, ou seja, constituem meios de produção, acrescidos aos investimentos ou à Formação Bruta de Capitais Fixos (FBCF, para usar a terminologia adotada pelo IBGE). A redução das importações significa também uma redução da taxa de investimentos internos, o que certamente contribui para deprimir o crescimento do PIB.



* Umberto Martins, jornalista, é editor do Portal da CTB