'Che' não foi filmado em Cuba por causa do bloqueio dos EUA
Produtora do filme Che, Laura Bickford afirmou a jornalistas, na manhã desta quinta-feira (30), que o longa de Steven Soderbergh não contou com capital americano para sua realização. Projeto de seis anos, baseado em escritos de Che Guevara e pesq
Publicado 30/10/2008 18:20
Dividida em duas partes — O Argentino e A Guerrilha —, a saga guevariana não contou com um set cubano, em razão do embargo econômico dos Estados Unidos contra a Ilha. ''Como americanos, não podemos fazer negócios com Cuba. Não filmamos em Cuba. Não temos essa permissão'', declarou Laura.
Guevara foi um dos personagens centrais da Revolução Cubana, em 1959. O bloqueio comercial e financeiro se iniciou em 1962, no governo de John Kennedy.
A produtora americana participou de coletiva à imprensa, em São Paulo. No centro dos flashes, o ator porto-riquenho Benicio Del Toro (Guevara) e o brasileiro Rodrigo Santoro (Raúl Castro). Com 262 minutos, Che ganhará exibição na noite desta quinta, no encerramento da 32ª Mostra Internacional de Cinema.
Soderbergh também não rodou cenas na Argentina, onde nasceu o mítico guerrilheiro. Nada que, a princípio, prejudique o resultado da película. O filme teve locações em Porto Rico, México, Nova Iorque, Bolívia e Espanha. ''Pudemos pesquisar em Cuba. Estivemos lá, com o Benício, umas duas vezes ao ano'', disse a americana Laura, indicada ao Oscar pela produção de Traffic.
Del Toro se integrou desde o início ao projeto de Soderbergh e participou dos estudos sobre a personalidade de Che Guevara, morto em 1967 na selva boliviana. Para o ator, ele era ''um homem de ação e um intelectual'', mas hoje há outros meios de superar conflitos sociais, ''não somente o fuzil''. Prefere situá-lo nos anos 60: ''Um tempo muito violento''.
O porto-riquenho chegou nesta quinta-feira a São Paulo para divulgar o filme na Mostra. Com um espanhol difícil, mesclado com palavras em inglês, o ator rechaçou comparações entre ele e Guevara.
''A expectativa sobre ele (Che Guevara) era muito grande. É impossível fazer um filme sobre Che sem deixar passar alguma coisa”, declarou aos jornalistas. “Chega um momento que é tanta informação que você não sabe mais o que incorporar. Em alguma hora temos que saber que isso é só um filme. Eu não sou o Che Guevara''.
O ator afirmou que não acreditava que o papel fizesse o sucesso que fez. O personagem já lhe rendeu o prêmio da categoria no último Festival de Cannes. ''Não tinha muitas expectativas sobre o papel. Na hora de ser reconhecido pelo que você faz é que você percebe a repercussão que isso gerou. Como atores somos muito inseguros, não existe um texto que nos fale como ser um ator. Trabalhamos com instinto. Eu sei tanto quanto vocês se o filme é bom ou não. Mas o instinto é o que nos dá base''.
Santoro
Del Toro aproveitou que estava no Brasil para brincar com o ator Rodrigo Santoro, que no filme faz o papel do irmão de Fidel Castro, Raúl. Ao ser questionado sobre o que este filme tinha de diferente, Del Toro ironizou: ''Nesse filme temos o Rodrigo Santoro''.
Após a brincadeira, o ator respondeu à pergunta de forma mais séria. ''Fizemos uma grande investigação, pensamos como se eu fosse o personagem. Engraçado que em toda parte do mundo tem gente que o conheceu. Sabíamos que ele era um revolucionário, tinha muita coisa a ser feita. Por isso toda essa parte de investigação demorou seis, sete anos.''
Apesar de se dedicar com paixão ao papel, seu primeiro contato com Che Guevara veio quando ele já era ator. ''Como criança, ele nunca existiu para mim. Cresci em Porto Rico, que não tem nada a ver com a condição cubana. A primeira vez que eu ouvi o nome de Che foi numa canção dos Rolling Stones, chamada Indian Girl”, disse Del Toro.
Ele acrescentou que foi no México que eve o segundo contato com a história de Che. “Estava numa livraria e vi uma foto dele num livro com cartas que ele escreveu no período da Revolução Cubana. Li aquilo e fiquei muito comovido. Já aí nasceu um empenho em aprender mais sobre sua história. Alguns anos depois, me trombei com Laura (Wickford, produtora do filme)''.
Che é um projeto de Steven Soderbergh. São mais de quatro horas de projeção, divididas em dois capítulos, que apresentam as primeiras batalhas do guerrilheiro pela tomada de poder em Cuba, até sua morte em luta na Bolívia.
Da Redação, com informações do Terra Magazine
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