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Obama presidente? líder trabalhista de Detroit vive um sonho

Enquanto milhões em todos os Estados Unidos trabalham para eleger o primeiro presidente negro da história americana, Dave Moore, de 96 anos, um líder comunitário e há muito tempo um líder trabalhista, se pergunta se tudo isso não passa de um sonho.

''Eu não quero parecer pessimista, mas fui negro a vida toda e algumas vezes eu me pergunto se não estou sonhando'', afirmou Moore ao PWW, orgão do PC dos EUA. Ele disse que ''foi um estouro'' ver quantos brancos votaram em barack Obama nas primárias e o impressionante apoio de milhares de eleitores brancos nos comícios de Obama por todo o país.



''Quando eu acordar no dia seguinte, após a eleição e Obama tiver vencido, então eu saberei que este país começou a fazer uma virada para melhor'', afirmou Moore.



Nascido em 6 de abril de 1912, ainda adolescente Moore deixou o que chama de ''estado escravagista da Carolina do Sul'' com sua família e se mudou para Detroit. Novo na grande cidade, ele disse que nunca tinha tinha visto tanta gente apressada e nervosa antes.



Moore lembra de ter entrado para um time de water polo ainda jovem, da parte leste da cidade, no tempo que placas como ''Negros'' e ''Brancos'' ainda eram comuns. Seu time conseguiu chegar às finais do campeonato municipal e eles atravessaram a cidade para jogar em um parque, em uma área predominantemente branca. Embora o parque tivesse placas segregacionistas, Moore disse que os jogadores ignoraram a lei e que sentaram onde quiseram. Segundo ele, o prefeito de Detroit havia declarado que as áreas publicas eram livres para todos. ''E nós vencemos o campeonato'', Moore diz, com uma ponta de orgulho.



Moore lembra também da Grande Depressão dos anos 1930, quando pessoas não tinham comida e tinha de sobreviver de vegetais e frutas. ''E nós não tinhamos aquecimento no inverno, daí usavamos lenha que tiravamos do alpendre da casa, para permanecermos aquecidos''.



As pessoas, naquela época, ''viviam em muita miséria, sofrimento, dor e agonia, enquanto os tubarões acabavam ficando com todo o dinheiro''. Seus pais perderam US$ 500 quando os bancos fecharam. ''Aquilo era um montão de grana naquela época'', diz Moore. ''Todos nós sofremos o diabo'' diz.



Moore começou a militar no movimento social em uma organização chamada Conselho dos Desempregados, que mobilizava pessoas para lutar contra a fome e o despejo em massa. Essa experiência ensinou Moore a importância da união entre os trabalhadores negros, brancos e latinos. As pessoas chegavam juntas e lutavam por seus direitos básicos, contra empregadores ricos que demitiram milhares de pessoas, ou os expulsavam de suas casas no inverno.



Um dos momentos mais memoráveis de Moore foi em 1941, quando ele trabalhava como ferramenteiro e organizou os operários no sindicato United Auto Workers, dentro da Ford Motor Company em Dearborn, Michigan. Naquela época, a Ford era a terceira maior empresa industrial do mundo e 75% dos postos de trabalho da empresa foram extintos, sem nenhuma contrapartida do poder público. Pessoas morriam de fome e frio.



Em 1932 Moore ajudou a liderar uma marcha de trabalhadores famintos, quando cinco membros do sindicato morreram vítimas do fogo de metralhadoras, disparadas por bandidos a serviço do anti-sindicalista Henry Ford. Aquele foi o primeiro movimento interracial entre os trabalhadores, que superou o divisionismo que Ford tentou provocar.
Aquela luta eventualmente abriu a porta à organização dos trabalhadores da indústria de automóveis e à fundação do UAW.



Finalmente, Moore foi eleito para liderar o sindicato local, na poderosa Ford. Como muitos outros, no entanto, Moore foi vítima do McCartismo e foi demitido de sua posição,que conquistou em uma eleição, no ano de 1951. Com o desvanecimento do McCartismo, ele voltou ao sindicato em 1963 e foi eleito um dos representantes nacionais do UAW.



Moore foi um dos membros fundadores do Conselho Nacional dos Trabalhadores Negros e atuou como assistente legislativo do lendário deputado George Crockett. O falecido prefeito de Detroit, Coleman Young, indicou Moore como diretor de uma das secretarias municipais.



Refletido sobre a história que viveu e que batalhou, Moore disse que a comunidade negra foi atingida em cheio pela atual crise econômica. ''Nós temos muitas pessoas desempregadas agora'', afirmou, dizendo também que a maioria de seus vizinhos foram expulsos da, até há pouco, pujante indústria automobilística. Moore acredita que o caos na economia vai ajudar Obama a se tornar o primeiro negro presidente na história dos EUA, mas ''isso não será nada fácil para ele''.



Durante os anos da Depressão, na década de 1930, o então presidente Roosvelt tinha o apoio popular, diz Moore. ''E é isso que Obama precisa ter, as pessoas atrás dele. Eu acredito que a chave da campanha de Obama está sobre os ombros da classe trabalhadora''.



''Eu acho que Obama tem o melhor programa, não importa o que acontecer, os gatos gordos de Wall Street e os tubarões da grande indústria são aqueles que controlam as finanças deste país'', afirmou. ''Eles não querem ver o povo forjar um movimento unitário''.



''É um caminho longo, muito longo, que os trabalhadores e os pobres terão de percorrer até, mas nós precisamos lembrar que este país é um país capitalista e os gatos gordos de Wall Street farão o que for para manter suas regalias. Dêem uma olhada na história do nosso país — é o grande negócio que sempre dá as cartas. Eu espero que Obama vá no rumo do que ele chama quando diz que é favorável às mudanças''.



Quando se trata de lutar por sindicatos, unidade multirracial, direitos civis e paz, Moore afirma que já viu de tudo um pouco. Ele sabe o que signifca lutar por uma agenda favorável aos trabalhadores na vitória ou na derrota. Hoje, ele tem grande esperança no futuro.



''Eu gostaria de ver toda a nossa gente unida um dia, quando o racismo fora apenas história'', diz. ''Eu gostaria de ver um mundo onde as pessoas não precisem se preocupar com a fome ou com o desemprego. Onde os jovens possam ter uma educação que dê a eles a possibilidade de contribuir para uma sociedade melhor. Onde o governo do nosso país cumpra de fato o papel de ajudar a educar nossas crianças para um mundo baseado na paz, na compreensão e na fraternidade, a despeito de raça, religião ou credo''.



Moore acredita que eleger Obama no próximo 4 de novembro é dar um passo rumo a essa direção.