Presidenciável da FMLN salvadorenha explica ''caso Chávez''
A mídia tradicional de El Salvador (La Prensa Gráfica, El Diario de Hoy) resolveu fazer uso eleitoral dos rumores sobre a presença ou não do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na 18ª Cúpula Ibero-americana. A pauta consistiu em usar o espantalh
Publicado 30/10/2008 18:16
Mauricio Funes, jornalista, concorre à presidência do país centro-americano pela oposicionista Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN). E tem aparecido em primeiro lugar nas pesquisas, embora em empate técnico com o direitista Rodrigo Avila, da Arena (Aliança Republicana Nacionalista), hoje no governo.
Favorito nas pesquisas
A última pesquisa, publicada na terça-feira por La Prensa Gráfica, apurou 32,2% das intenções de voto para Funes e 29,4% para Avila, um ex-diretor da Polícia Nacional Civil. Na hipótese de um segundo turno, o candidato da FMLN obteve 34,8% e o da Arena 32,3%, também em condição de empate técnico.
Com 6,8 milhões de habitantes e cerca de 21 mil km2, El Salvador viveu em guerra civil por 12 anos (1979-1992), depois que uma junta militar deu um golpe no país e o arcebispo Oscar Romero foi assassinado. Calcula-se que 75 mil salvadorenhos morreram.
Com o acordo de paz de 16 de janeiro de 1992, a FMLN, surgida como organização guerrilheira e tomando seu nome do fundador do Partido Comunista de El Salvador, Farabundo Martí, converteu-se em partido político. Desde então, enfrenta a direitista Arena nas urnas e possui 31 dos 84 deputados no Parlamento salvadorenho.
''A direita pode recorrer à violência''
Veja a declaração de Funes ao Terra Magazine:
“O tema do presidente Chávez entrou na agenda eleitoral muito antes de ele decidir se vinha à Cúpula, e a direita está utilizando como parte de sua campanha suja o tema da relação do meu partido com Chávez e de uma eventual relação de um governo meu com o presidente Chávez. A ele cabem razões relacionadas a sua segurança pessoal.
Na Cúpula Iberoamericana do Panamá no ano 2000, quando foi capturado o terrorista cubano Posada Carriles, descobriu-se que ele planejava um atentado contra o presidente Fidel Castro, que acabava de sair de El Salvador. Há evidências suficientes que demonstram que foi nos governos de direita que Posada Carriles conseguiu obter passaporte salvadorenho, cédula de identidade salvadorenha e certidão de nascimento salvadorenha. Autoridades de El Salvador foram cúmplices das operações de Carrilles em seu intuito de assassinar Fidel Castro.
Não seria estranho que Chávez tivesse informação de que existe algum plano para atentar contra sua vida, levando em consideração esses antecedentes. Nós temos a informação de que há estruturas que trabalham muito próximas, vinculadas ao partido Arena, que não descartam a possibilidade de recorrer à violência com o objetivo de impedir a alternância no exercício do poder, e temos sinais suficientes para isto.
O presidente Saca rompe a institucionalidade quando em um evento de empresários pede a eles que falem com seus trabalhadores para que não votem no FMLN. Isso é violação da lei. Mas o que há é a mais completa impunidade. O candidato à presidência do partido governista envia uma carta aos militares aposentados e da ativa, dizendo a eles que tenham muito cuidado, que se o FMLN ganhar a eleição vai dissolver as Forças Armadas, enquanto que em nosso programa de governo pregamos a necessidade de modernizar e reforçar institucionalmente as Forças Armadas.
Faz aproximadamente um mês, a senhora chanceler disse nos Estados Unidos que se El Salvador caísse nas mãos da FMLN, cairia facilmente nas mãos de Chávez e que isso colocaria em risco a segurança não apenas de El Salvador, mas também a segurança dos Estados Unidos. Para tanto estava convidando as autoridades norte-americanas a intervirem no processo eleitoral salvadorenho para evitar essa vitória. E chegou a declarar o presidente Chávez inimigo de El Salvador e inimigo dos Estados Unidos.
Além dessas condições, eu não descartaria que a direita possa recorrer à violência. Temos informações de que há estruturas integradas por ex-militares que participaram da guerra e que estão trabalhando com o aparato de propaganda do partido governista, que mandou fabricar silenciadores de pistolas e fuzis automáticos em oficinas, as quais no passado tiveram ligações com Posada Carriles. Não sabemos com que propósitos, porém chama a atenção cada um desses movimentos que estamos registrando.
Não creio que a presença do presidente Chávez tenha afetado a campanha, e particularmente minha imagem. De toda maneira, com ou sem Chávez, durante a Cúpula Ibero-Americana se insiste em vincular-me a ele. Nesse sentido, não me sinto frustrado nem aliviado. Eu tenho me reunido com boa parte dos presidentes da América Latina, e continuarei me reunindo. Chegará o momento em que deverei me reunir com Chávez”.
Com informações do Terra Magazine e agências