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“Hoje, eu ganharia” de Temer, diz deputado Ciro Nogueira

O deputado piauiense Ciro Nogueira (PP) não se intimida com a “experiência” do adversário Michel Temer (PMDB-SP) e diz que está em campanha permanente.  Para não desanimar diante da contabilidade oficial

O deputado federal Ciro Nogueira (PP-PI) recusou nos últimos dias a oferta da presidência da República de um ministério em Brasília, em troca da desistência de sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados. O parlamentar piauiense, segundo informações da imprensa, considerou “um atestado de oportunismo” aceitar tal proposta.


 


 


Ciro já esteve inclusive no Palácio de Karnak há 10 dias pedindo o apoio do governador Wellington Dias (PT) para sua candidatura. Ele acredita que toda a bancada piauiense, mesmo os deputados do PMDB (Alberto Silva e Marcelo Castro) vão apoiar seu nome pelo fato de ser um candidato do Piauí. O deputado considera sua candidatura de consenso entre os partidos menores, que resistem ao hegemonismo do PT e do PMDB no Congresso Nacional. Ciro conta ainda com dissidências dentro do PT e do PMDB, além da antipatia que alguns parlamentares nutrem em relação ao peemedebista Michel Temer (SP), presidente nacional do PMDB, um adversário paulista que já fora presidente daquela Casa e é deputado federal desde 1987.


 


 


Mas o deputado piauiense não se intimida com a “experiência” do adversário e diz que está em campanha permanente.  Para não desanimar diante da contabilidade oficial da base de Temer — que soma petistas e peemedebistas, as maiores bancadas da Casa —, o discurso dos defensores de Ciro se baseia no fato de que, na hora do voto, integrantes das duas legendas devem descumprir a orientação partidária porque não são adeptos ao estilo do peemedebista de lidar com os colegas.


 


Em conversas reservadas, integrantes do grupo de apoio ao pepista admitem acreditar em uma tese otimista o suficiente para mudar o placar favorável ao PMDB. Segundo eles, alguns petistas com maior visão de futuro — ou mais preocupados com a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — devem perceber antes da eleição para a presidência da Casa, em fevereiro, que alimentar o crescimento do PMDB pode ser um tiro no pé do PT, cuja ferida vai aparecer na eleição presidencial de 2010.


 


 


“Uma hora ou outra eles vão entender que se derem espaço demais para os peemedebistas podem criar um monstro que a qualquer momento vai se bandear para o lado da oposição e apoiar um candidato diferente do lançado pela base governista. Isso sim será um problema para este governo”, diz um peemedebista simpático à candidatura de Ciro Nogueira.


 


 


Ao blog de Josias de Souza, Ciro Nogueira disse: “Se a eleição fosse hoje, eu ganharia do Michel com facilidade”. Vai abaixo a entrevista:


 


 


Acha que pode prevalecer sobre Michel Temer?


 


CN: Creio que sim. Minha candidatura é a única que está sendo construída dentro da Câmara. A do Michel corre por fora da Casa. Baseia-se exclusivamente num acordo feito dois anos atrás entre PT e PMDB.


 


 


O que quer dizer com ‘fora da Casa’?


 


CN: No último mês, o Michel se preocupou mais em articular a eleição do presidente do Senado do que em se eleger presidente da Câmara. É preciso que todos os candidatos debatam os problemas da nossa Casa, que interessam aos deputados.


 


 


Há outras candidaturas além da sua e da de Michel Temer?


 


CN: O [Osmar] Serraglio [PMDB-PR] me disse que será candidato. A Rita [Camata, PMDB-ES] me disse que talvez coloque o nome dela.


 


 


Isso era antes de o PMDB oficalizar o nome de Temer, não?


 


CN: O Serraglio conversou comigo na semana passada. Me disse que o momento correto para lançar candidaturas é dezembro. Eu concordo.


 


 


De onde vem a convicção de que pode virar presidente?


 


CN: Perceba que tudo o que se constrói em torno de Michel é baseado em 2010. PSDB e PT querem o apoio do PMDB na disputa presidencial. Converso com os deputados. Eles querem saber o que será feito para valorizar o trabalho da Casa.


 


 


Os deputados não se interessam por 2010?


 


CN: Sinto que a maioria não quer eleger um presidente da Câmara com base única e exclusivamente num projeto partidário de poder.


 


 


Como assim?


 


CN: O projeto do Michel é o de se tornar um superlíder do PMDB. E a eleição de um presidente da Câmara não pode se voltar para a defesa do interesse partidário, que passa pela votação das matérias em troca de cargos.


 


 


Deputado não quer cargo no Executivo?


 


CN: A Câmara perdeu boa parte de suas prerrogativas graças a esse agachamento, que leva a uma promiscuidade nas relações entre Legislativo e Executivo.


 


 


Seu partido comanda o Ministério das Cidades. Não é contraditório?


 


CN: Não vejo nada demais em um parlamentar ou um partido fazer indicações para compor o Executivo. O que digo é que o presidente da Casa não pode se envolver nisso. Imagine se o Gilmar Mendes [presidente do STF] fosse pedir um cargo ao Lula. É essa promiscuidade que eu combato.


 


 


Para se eleger, precisa de 257 votos. Já dispõe desse número?


 


CN: Não quero ser pretensioso. Mas, se a eleição fosse hoje, eu ganharia do Michel com facilidade.


 


 


A eleição será em fevereiro. Receia que o quadro mude?


 


CN: Toda eleição está sujeita a riscos. Não posso desmerecer a candidatura do Michel. É forte. O Serraglio também é um homem respeitadíssimo. Muita coisa pode acontecer. Só espero que seja uma disputa interna, sem influências externas ou uso da máquina.


 


 


Ofereceram-lhe um ministério para desistir da disputa?


CNNão quero entrar nessa discussão. Descartei completamente essa hipótese. Mas ainda exploram isso. Os deputados sabem que quero presidir a Câmara.


 


 


Que importância atribui ao fato de o voto ser secreto?


 


CN: É fundamental. Todas as tentativas de mudar a regra, para tirar a autonomia dos deputados, não prosperaram. Isso me dá a segurança de uma votação isenta.


 


 


O fato de não dispor do apoio do Planalto não o prejudica?


 


CN: Meu partido [PP] integra a base do governo. Se for analisar as minhas votações, creio que talvez eu tenha votado mais com o governo do que o próprio Michel.


 


 


A posição do Lula não importa?


 


CN: O Lula pode ter suas simpatias. Se ele pudesse escolher, não seria nem eu nem o Michel. É preciso lembrar que, na disputa passada, o Lula apoiou o Aldo [Rebelo, PCdoB], que perdeu a disputa.


 


 


O seu apoio a Aldo será retribuído agora?


 


CN: Creio que a maioria do Bloco de Esquerda [PCdoB, PSB e PDT] vai votar comigo. O Aldo é um de meus maiores conselheiros.


 


 


De onde vêm os seus votos?


 


CN: Tenho votos em todas as legendas, algumas mais, outras menos. Tenho uma minoria do PMDB. Em outros partidos, tenho a quase totalidade dos votos.


 


 


Tem votos no PSDB?


 


CN: A maioria.


 


 


No DEM?


 


CN: A quase totalidade.


 


 


No PT?


 


CN: A grande incógnita é o desfecho desse problema da reciprocidade do PMDB ao PT no Senado. Tenho trabalhado muito o PT. Minha expectativa é boa. Mas não tenho a mesma certeza que tenho em relação a outros partidos.


 


 


Não receia que a experiência conte a favor de Temer?


 


CN: O Michel é mais velho do que eu. Já presidiu a Câmara uma vez. Mas eu o encaro como um remédio que não surtiu efeito. Eu sou uma fórmula nova. Estou no meu quarto mandato federal. Tenho mais tempo de Mesa do que o Michel. Sou novo, vou fazer 40 anos, inexperiente jamais.


 


 


A amizade com Severino Cavalcanti não o descredencia?


 


CN: Não vejo acolhimento na Casa a esse tipo de observação. É falta de argumento. Sou amigo do Severino, mas não compartilho com ele os pontos de vista. Somos de gerações diferentes. Na eleição passada, ele ficou com o Arlindo [Chinaglia]. Eu coordenei a campanha do Aldo [Rebelo]. Quero ser avaliado pelo que proponho e pelo que vou fazer. Muitos irão se surpreender.


 


 


O que propõe de tão surpreendente?


CN: Vou apresentar, por escrito, em dezembro. Fazer isso agora seria encurtar o mandato do Arlindo [Chinaglia]. Quero reverter um fenômeno que diminui o Parlamento: a perda de nossa prerrogativa de legislar.


 


 


Refere-se ao excesso de medidas provisórias?


CN: Não apenas isso. Quero que os parlamentares voltem a legislar. Hoje, perdemos essa atribuição para o Executivo e também para o Judiciário. Temos de responder à altura.


 


 


Que resposta seria essa? 


CN: Desejo, por exemplo, dar os primeiros passos na direção de um Orçamento impositivo. Imagine como será o Parlamento se o deputado e o senador puder votar sem a possibilidade de ser coagido com o argumento de que o Executivo não vai liberar a sua emenda. Será uma revolução.