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Pesquisa: aumenta a discriminação de negros no trabalho

O país comemora nesta quinta-feira, 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra. A data, que relembra o assassinato de Zumbi dos Palmares (1695), líder da resistência negra contra o escravismo, tornou-se feriado em mais de 300 cidades brasileiras.

Segundo dados divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), baseados na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) em cinco regiões metropolitanas – Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo – e no Distrito Federal, a desigualdade entre negros e não-negros ainda persiste e, em alguns casos, se deteriorou.


 


Mais desempregados


 


Na região metropolitana de São Paulo, a pesquisa indicou que no ano passado em comparação a 1998, o mercado de trabalho encolheu para os afro-descendentes nos 39 municípios. De acordo com o levantamento, 42,9% do total de desempregados (1,5 milhão), no ano passado, eram negros ante 40,8%, em 1998. O mesmo percentual entre os que não se declararam negros alcançou 59,2%, em 2007, contra 57,1%, em 1998. Os dados indicam ainda que ''um terço da População em Idade Ativa e da População Economicamente Ativa eram negros em relação aos não-negros que representam 64% destes contingentes”.


 


A avaliação técnica do Dieese afirma que “tradicionalmente os negros entram no mercado de trabalho mais cedo do que os não-negros e permanecem por mais tempo, fato associado a um tipo de inserção mais frágil, muitas vezes, relacionada à menor qualificação profissional, o que leva à auto-ocupação ou ao emprego doméstico e à construção civil, em que a remuneração e o valor da aposentadoria costumam ser insuficientes para suprir os gastos da família”.


 


Menos escolaridade


 


Quanto ao nível de escolaridade, a pesquisa indica que há mais negros do que não-negros classificados como analfabetos, embora em ambos os casos registra-se diminuição da população que não sabe ler e escrever. Em 2007, os negros analfabetos somaram 7,7% ante 11,2%, em 1998 , enquanto os não negros, 3,9%, contra 5,7%, em 1998.


 


No Distrito Federal, a pesquisa apontou que em 2007 os negros representavam um pouco menos que dois terços da população em idade ativa e da população economicamente ativa, mas são os mais preteridos na inserção ao mercado de trabalho.


 


Segundo o economista Tiago Oliveira, da equipe do Dieese, um dos responsáveis pela pesquisa no Distrito Federal, em 2007 no DF a população era composta por 1.259 mil pessoas, o que correspondia a uma participação relativa de 63,7%. No mercado de trabalho, por sua vez, os negros representavam 64,5% dos trabalhadores. Deste total, 81% estavam ocupados, ao passo que 19% desempregados.


 


O Estudo revela que de cada 10 desempregados no DF, aproximadamente sete eram negros, o que demonstra uma sobre-representação deste estrato populacional no contingente de desempregados no Distrito federal, disse Tiago Oliveira.


 


Outra conclusão da pesquisa é que os negros continuam sendo ampla maioria na construção civil e nos serviços domésticos que são setores marcados pela menor cobertura dos mecanismos de proteção social, além dos baixos rendimentos, jornadas extensas e, no caso da construção civil, a alta rotatividade.


 


Setor público


 


Outro dado importante a considerar, apontado pela pesquisa, é que 16,5% dos ocupados no DF pertenciam à administração pública. Deste total, 54,1% eram negros e 45,9% não negros. Para Tiago Oliveira, os números mostram, portanto, que os negros estão sub-representados no emprego público.


 


No setor privado, enquanto de cada 100 pessoas economicamente ativa quase 70 são negras, no setor público, para cada 100 ocupados só 54 pertencem a essa população – lembra Oliveira.


 


Gênero


 


Para a coordenadora da pesquisa do Dieese na Bahia, Ana Margaret Simões, o mercado de trabalho em Salvador, além de ser claramente racista, é marcado pelo preconceito de gênero. “Pior que ser negro, neste mercado de trabalho, é ser negra. A mulher negra é a maior vítima. Vinte por cento das mulheres negras só encontram ocupação no emprego doméstico. A taxa de desemprego da mulher negra é de 26,4%, contra 19,2% do homem negro. É a mais alta taxa entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas.


 


Márcia Hipólito, que coordena o trabalho de responsabilidade social da Organização Gelre, maior empresa de RH do país, afirma que, apesar de ter crescido a participação do negro no mercado de trabalho, ainda há muito por fazer. O mercado continua restrito. Algumas empresas anunciam a contratação de negros, mas é difícil ver alguns deles nas companhias.


 


“Só as leis e pesquisas não bastam, se não houver a conscientização de toda a sociedade. É imprescindível existir respeito entre as pessoas, que devem ser analisadas pelo seu potencial e não pela cor da sua pele. Existe todo um histórico escravagista do qual não se fala, mas que discrimina e exclui”, assegura, reconhecendo, no entanto, que algumas empresas já possuem programas de diversidade, porque perceberam que esse é um diferencial frente ao mercado e seus clientes.


 


Saúde


 


Na área de saúde também são chocantes os contrastes entre os indicadores de saúde de negros e brancos. Levantamentos da organização não-governamental (ONG) Criola, feitos com base em dados do Ministério da Saúde e divulgados pela Agência Brasil, revelam que negros e brancos são tratados de forma desigual no sistema público de saúde brasileiro.


 


De acordo com o estudo, as chances de crianças negras e pardas com menos de 1 ano de idade morrerem de doenças infecciosas e parasitárias são 44% maiores do que entre as brancas. No caso específico da tuberculose, o risco é 68% superior ao dos não-negros. Também nos registros de morte materna, o risco para mães negras e pardas chega a ser 41% maior.


 


A CTB


 


O compromisso da CTB com a valorização do trabalho exige que denunciemos que as elites nacionais, contando com centenas de anos de cumplicidade do Estado, são as responsáveis pelo processo de exploração e racismo sobre a população negra que ainda vivemos hoje.


 


A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil compreende que a emancipação da classe trabalhadora e a construção da verdadeira democracia no Brasil serão impossíveis sob a égide do capitalismo e do racismo; que o neoliberalismo carrega uma mensagem racista, pois produz crises econômicas, que conseqüentemente, afloram nacionalismos xenófobos e várias formas de intolerâncias, impactando com maior perversidade sobre as populações vítimas do flagelo da violência racial. Por isso chamamos toda população e movimento negro para somar-se a luta unitária contra a opressão capitalista e contra os entulhos racistas que persistem em nossa sociedade.


 


Para a CTB, vivemos um momento favorável para influenciar governos, propor e  construir convencimentos e consensos, para implementação de medidas contra o racismo e contra toda forma de opressão.


 


– Apoiamos as bandeiras históricas do movimento negro e propomos:


– Unidade entre o movimento sindical e movimento negro na construção de uma agenda de luta;


– Isonomia salarial: salários iguais para funções iguais;


– Fim da exigência de boa aparência e de foto no currículo para contratação;


– Medidas contra a não contratação de negros no setor bancário, no comercio, dentre outros;


– Obrigatoriedade da inclusão de medidas anti-discriminatórias nas convenções coletivas.