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Mino Carta: uma curta história da decadência da 'Veja'

A postura de Veja, cuja equipe fundadora dirigi de setembro de 1968 a fevereiro de 1976, foi neste período determinada pela prática do jornalismo correto e, portanto, de oposição à ditadura. Sua redação foi assolada pela censura até março de 1

Logo a censura voltou, pois logo mostramos nossa independência. Ou, por outra, não nos deixamos seduzir pela condescendência do regime que se arvorava benevolente. Voltou piorada.


 


Tivemos de organizar um sistema de transporte do material redacional até as dependências da Polícia Federal em São Paulo, de terça-feira a sexta, e no sábado (naquele tempo a revista circulava às segundas) até a residência particular dos censores.


 


A censura abandonou o campo somente depois da minha saída da direção de Veja, ao cabo das pressões do então ministro da Justiça Armando Falcão, que enxergava em mim um inimigo (palavra dele) irredutível. Para minha alegria.


 


Ao contrário do que conta em seu livro Notícias do Planalto aquele que, anos depois, tomaria meu lugar, Mario Sergio Conti, não fui demitido, e sim me demiti, para não receber um único, escasso centavo dos Civita, figuras da pior qualidade.


 


Ao saírem Mino e a censura, a revista bandeou-se para o outro lado, mas manteve certo nível, dirigida por José Roberto Guzzo, secundado por Elio Gaspari. Começou a descambar de vez com a direção de Conti, ao apoiar a candidatura do anti-Lula da vez, Fernando Collor, e hoje atinge um ponto ainda mais baixo. Duvido, porém, que tenha chegado ao fundo do poço.


 


Com o fim da censura, a Abril recebeu um empréstimo de US$ 50 milhões de dólares da Caixa Econômica Federal, dirigida então por Karlos Rischbieter, depois de recebida autorização do próprio Geisel.


 


Rischbieter conta o episódio no seu livro de memórias, recentemente publicado. Explica que o ditador exigiu minha cabeça antes de permitir o empréstimo. Para outra alegria minha.