Bush sai do muro e promete US$ 17 bi para salvar montadoras
O presidente George W. Bush anunciou nesta sexta-feira (19) um pacote de emergência de US$ 13,4 bilhões para impedir o colapso da General Motors e da Crysler, outros US$ 4 bilhões estarão à disposição em fevereiro. O anúncio afasta a hipótese, levantada n
Publicado 19/12/2008 14:15
Os empréstimos visam impedir que as montadoras afundem até 31 de março. A partir daí caberá à nova administração Barack Obama determinar se as montadoras continuarão a receber ajuda governamental ou devem pagar o que pegaram, entrando em processo de falência. O pacote assumirá a forma de um contrato entre o governo e as montadoras, a ser assinado possivelmente ainda hoje.
“O governo não teve outra opção”
O pacote de socorro vinha sendo defendido pelos democratas, inclusive Obama, mas questionado ou contestado pelos republicanos, entre eles Bush. Uma semana atrás, os senadores republicanos bloquearam uma legislação concedendo ajuda de US$ 14 bilhões às montadoras, já negociada com a Casa Branca e aprovada na Câmara.
Bush fez o anúncio num discurso televisado antes da abertura dos mercados. Disse que noutras circunstâncias teria deixado as empresas falirem, como castigo por sua má conduta. Mas agregou que devido à retração econômica “o governo não teve outra opção”.
“Estas não são circunstâncias ordinárias. No centro de uma crise financeira e uma recessão, deixar que a indústria automobilística dos EUA entre em colapso não é uma linha de ação responsável”, argumentou Bush. Na véspera, em um fórum do American Enterprise Institute, ele apresentara o mesmo raciocínio, mas parecendo inclinado a uma “falência ordeira”.
No discurso de hoje Bush respondeu às suas próprias dúvidas. “É improvável que o capítulo 11 [que regulamenta as falências] funcione para as montadoras americanas neste momento”, afirmou, observando que os consumidores não poderiam comprar automóveis de um fabricante falido.
A primeira e a terceira maiores automobilísticas dos EUA reivindicavam há semanas uma operação de socorro para evitar sua falência. A Ford, segunda entre as “Três Grandes”, e em situação melhor que as outras duas, disse que não pretende recorrer ao pacote de emergência. Mas todas as três, e também a japonesa Honda, anunciaram cortes na sua produção.
Tensões à vista com os trabalhadores
O empréstimo estatal anunciado nesta sexta-feira exige como contrapartida que as empresas reduzam rapidamente suas dívidas em dois terços e cortem mordomias de seus executivos, como jatos corporativos privados. Exige também que elas cheguem a um acordo com o sindicato da categoria, o UAW (United Auto Workers) para cortar salários e benefícios trabalhista.
O UAW, adepto do “sindicalismo de resultados” predominante no país, estava em campanha para que o governo concedesse o socorro. Mas resiste ao corte de direitos, apresentado originalmente pelo senador Bob Corker, republicano do Tennessee, como alternativa para sua bancada votar o pacote no Senado.
O pacote deixa portanto uma bomba relógio no colo da próxima administração. Obama foi eleito em boa parte graças ao engajamento das entidades sindicais, que mobilizaram 200 mil voluntários para sua campanha. Sua votação entre os trabalhadores, de 50% entre os não-sindicalizados, subiu a 77% entre os sindicalizados.
O pacote apresentado por Bush representa abrir mão de conquistas que o movimento sindical americano levou décadas para obter. O argumento, já apresentado por Corker, é a necessidade de equiparar os custos de mão-de-obra da indústria automobilística americana aos das concorrentes internacionais.
Da redação, com agências
Veja também: Bush cogita uma ''falência ordeira'' das automobilísticas